Capítulo 32 - Caindo e levantando

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Capítulo 32 – Caindo e levantando

        O dia amanheceu chuvoso, o que trouxe certo alívio ao caçula dos príncipes conversadores. Felipe não teria de enfrentar os lenhadores, pois a tempestade impedia a execução de seu ofício. O céu nublado de um cinza escuro se mostrava carregado de nuvens que surgiram na hora certa.

       Sentado com os pés contra a janela, ele encarava a paisagem, pensando em seus problemas. Após um longo período de introspecção, num estado em que raramente se encontrava, Felipe se virou de modo a contemplar a cama em que a esposa dormia feito uma pedra. Ela parecia serena, o que o levou a cogitar a possibilidade de voltar a dormir, já que poderia ficar até tarde no mundo dos sonhos. Todavia, o sono havia fugido dele e já não havia mais disposição alguma para encontrá-lo. Era melhor continuar observando o tempo e torcendo para que a chuva caísse até que o sol se pusesse.

       Aurora abriu os olhos devagar e avistou as costas do marido. Não foi necessário ver o rosto dele para constatar que ainda estava zangado. Um zangado triste, por sinal. Ela precisaria interagir um pouco com ele antes de ingressarem no assunto que realmente importava. Esperta desde menina, a guardiã iniciou a conversa de modo doce e casual, espreguiçando-se:

- Você vai ficar em casa por conta da chuva, não é? Quer que eu prepare um mingau quentinho?

     Ele não respondeu.

- Vai continuar me ignorando? Porque se for... Só vai sentir o cheiro do mingau, e será um longo dia por aqui. Só nós dois e a chuva que nos cerca. Você consegue ficar um dia inteiro sem falar? O Felipe que eu conheço não consegue.

        O príncipe avistou uma sombra se aproximando. Pensou que Aurora fosse bater nele com a coberta, e instintivamente se afastou, mas ela só o cobriu por conta do frio. Aurora tentou se justificar:

- Você se intrometeu quando eu fui resolver a situação com o Henrique. E eu protejo quem eu amo. Como não iria cuidar de você?

- Cuidar de mim é uma coisa, decidir por mim é outra. Sua interferência piorou minha situação. Agora sou o lenhador inexperiente e sem jeito, que será humilhado na competição, e cuja esposa o protege do chefe porque não sabe se virar sozinho. Eu optei por não me defender, e você ignorou isso. Agora como nós conseguiremos viver aqui? Não percebeu que não temos para onde ir?

- Mas foi você quem aceitou o desafio!

- Você o aceitou por mim, eu não poderia voltar atrás. Pareceria um covarde.

- Mas não precisa vencer, é só chegar às finais, é um belo modo de mostrar suas habilidades.

- Eu não tenho nada para mostrar, não sou um bom lenhador, comecei faz dias!

- Treina! A prática leva à perfeição. Eu confio no seu potencial. Você pode até vencer!

- Como? Eu teria que cortar uma árvore que caísse na cabeça de todos os outros participantes.

      Aurora gargalhou e acrescentou:

- Só na do chefe Cam estaria de bom tamanho. Eu ajudo, sou boa com plantas.

      Felipe não riu.

- Por favor, não me ajude. Principalmente se for com eles. O que foi fazer lá no meio do nada onde eu me encontrava? Você não estava auxiliando a rainha Solange diariamente?

- Estava, estou, não sei... E eu apenas levei sua refeição.

- É até melhor mesmo que não vá. Quanto tempo vai demorar até que algum alternador te encontre de coroa, na companhia da rainha Solange? Aurora, você precisa encontrar algo para se ocupar que não seja os problemas da sua avó. Ela tem o Eli e a Estela, além de muitos conselheiros. Pode muito bem viver sem você. Os fadens irão sobreviver, eu te garanto. E você não irá aparecer na minha frente toda queimada ou quase morta, com hematomas e chorando.

O Conto dos Contos 2 - A Lenda do Era Uma VezOnde histórias criam vida. Descubra agora