Capítulo 18 - Atitudes que (não) tomamos

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Capítulo 18 – Atitudes que (não) tomamos

        Aurora estava sentada diante da mesa do salão onde o desjejum era servido, encarando com apreensão o novo anel. Sentiu duas mãos cobrirem sua vista. Ela as tocou, avaliando-as, percebendo que eram masculinas, sem anéis nem alianças.

- Oi, Felipe.

       O rapaz, ao liberar os olhos da noiva, afagou os cabelos dela e se sentou ao seu lado, sorridente.

- Felipe, não, é meu amor, lindo demais para ser verdade.

- Oh, perdão pelo equívoco, meu amor, convencido demais para ser verdade.

       O conversador sorriu e puxou a mão da noiva para depositar um beijo. Aurora pareceu desconfortável, o que o fez estranhar a reação dela. Numa fração de segundos ele avistou o anel que não era o mesmo da proposta de casamento. Não era como ele havia requerido que fosse moldado, era bem maior, apesar de parecido. Considerando que Aurora não era uma jovem dada à ostentação, ela provavelmente havia perdido o anel e arranjado um substituto para que ele não percebesse. Pois se era assim, ele não veria a diferença, por ela. Fingiu que nada aconteceu e ficou calado, mudo como uma pedra, sem expressão no rosto. Então virou-se para a noiva e esboçou um sorriso amarelo. A aliança dele estava presa ao colar, no pescoço. Ele nunca a tirava, e nem se tornando lobo em noite de lua cheia, se descuidava a ponto de perder o objeto mais precioso que tinha.

      Aurora gelou. A quietude do noivo a deixou perplexa. Era notório que ele havia percebido a mudança no anel. Devia estar pensando o pior.

- Não consegui localizar meu irmão ainda – ele surgiu com um novo assunto, tentando não pensar no sumiço da aliança. Estava difícil de se manter calmo.- Ele partiu do Reino dos Conversadores, foi visitar alguém. Preciso muito que ele colabore com a busca pela irmã do Eli.

- Sim, Eli ficará muito agradecido. Ela deve ser uma menina adorável. Ele disse que fisicamente são muito parecidos. Eli ficará agradecido.

- Isso vai depender do que o Victor descobrir.

      Ela assentiu, nervosa, e sugeriu:

- Por que não vai visitá-lo? Se está com saudade...

      Felipe estranhou a sugestão. Era óbvio que precisava evitar o pai, e que Victor devia estar arrasado por causa do noivado que ele teve com Branca. Eles quase casaram, afinal. Aurora sabia muito bem o motivo, então a sugestão estava mais para uma forma dele se afastar. Ela devia ter perdido o anel em algum lugar que não deveria ter ido e ia procurar. O conversador, que já estava magoado, rebateu tentando manter o bom humor, mas soando irônico demais:

- Que ideia esplêndida. Não sei por que não pensei nisso antes.

- Eu estou falando sério. – Ela o encarou, com aqueles olhos lindos e cheios de segredos. Felipe odiava sempre ceder a ela. Aurora detinha muito poder sobre ele.

- Bem, não tenho certeza se há ou não ressentimentos quanto ao meu quase casamento com a mulher que ele ama.

- Se você não for, nunca saberá. Ele é seu irmão, além de que é do Victor que estamos falando. Já te perdoou.

      Felipe poderia ser brincalhão, mas também era astuto e conhecia Aurora desde menina. Ela provavelmente faria alguma coisa que não devia e o estava afastando, porque ele não aprovaria. Era frustrante ela não deixar que ele fizesse parte de seus planos, ou mesmo tivesse ciência deles.

- Você não vai se sentir sozinha se eu for?

- Não se preocupe. Estou com muitas tarefas como braço direito, estarei ocupada.

O Conto dos Contos 2 - A Lenda do Era Uma VezOnde histórias criam vida. Descubra agora