Capítulo 38 - Sete anos

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Capítulo 38 – Sete anos

         César dormia o sono dos justos, com sonhos tranquilos, aquecido por sua coberta azul-marinho, deixando apenas os pés à mostra. Ele sentiu cócegas nos dedos, em razão de longos pelos puírem seus pés. O uivo agudo o acordou, contribuindo com o seu bom humor. O rei cumprimentou sua neta:

- Bom dia, minha vida. Sabe que se sua mãe te flagrar como loba, vai ficar zangada.

         A pequena loba que se encontrava aos pés do avô se transformou em menina. Uma adorável garotinha, de enormes olhos castanhos, e cabelos excessivamente cumpridos e volumosos surgiu.

- Ela não me entende em nada! Mamãe nem parece que gosta de mim.

- Não fale isso. Ela consegue te amar tanto quanto eu, o que é muito difícil.

- Mas ela não entende que eu preciso uivar! Eu sou menina e sou loba.

- E princesa, e conversadora, e aniversariante! A propósito, meus parabéns! Agora é uma jovem de sete anos! Deixe-me ver você. Será que cresceu?

        Rapunzel correu até a parede onde o rei media sua altura, esperando para ver se havia crescido uns centímetros. Seus pés descalços apareciam por debaixo do longo camisolão cor-de-rosa.

- Vovô! Eu cresci?

       O rei se cobriu com um tipo de roupão e se arrastou até a parede, a largos e demorados passos. Analisou bem a altura de Rapunzel, fazendo uma expressão excessivamente analítica, ao ponto de ser teatral.

- Um centímetro, minha vidinha. Está, definitivamente, um centímetro mais alta!

       Ela uivou em comemoração e o rei gargalhou.

- Cuidado com a sua mãe, hein.

- Está bem, vou comemorar batendo palmas, que nem a tia Estela.

- Faça isso. Agora deixe-me sozinho, que preciso me arrumar.

- O senhor dorme demais! Já estão todos acordados.

- Vocês que estão dormindo de menos. Sua mãe deve estar atrás de você, e se não estiver, sua tia Branca está. Ela e as festas... É muita perturbação... Se ela perguntar, diga que estou lá na feira do queijo misto.

       A menina ficou insatisfeita.

- Você vai à feira no dia do meu aniversário, vovô?

- Não, vidinha.

- Então é para eu mentir?

- Não! Mentir é feio e errado, e você não deve fazer isso.

- Então o que eu digo?

- Que eu fugi dela e não adianta me procurar, porque não vai me achar, e que para mim, lavanda é uma planta, e não uma cor.

- Ai, eu também quero fugir, ela reclama muito comigo e com o meu primo.

- Claro! Você e o João não sossegam como a Ana Maria. Pelo menos um dos meus netos se comporta, mas eu gosto de vocês assim. Só não quebrem os vasos do corredor outra vez.

        Bastou mencionar o ocorrido para os dois ouvirem o barulho de cacos de vidro ao chão e a voz de Branca ressoar pelo corredor, impaciente com o filho que compensava o bom comportamento da irmã gêmea com o dobro de problemas.

- João!!!

***

        A fera abriu a porta do aposento de Abner com cuidado, e entrou na ponta das patas, mantendo o supremo silêncio da manhã intacto. O bibliotecário encontrava-se dormindo profundamente sobre a cama. Henrique posicionou a mão sob o nariz do senhor adormecido, na esperança de sentir o ar saindo das narinas e ventando contra seus dedos.

O Conto dos Contos 2 - A Lenda do Era Uma VezOnde histórias criam vida. Descubra agora