Capítulo 17 - O amor que me governa

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Capítulo 17 - O amor que me governa

         Victor se arrumou sem muita vontade, preparando-se rumo ao Reino dos Humanos. Ele tentava se convencer de que seria interessante ver como tudo estaria sem Branca por lá, tendo por interesse verificar se estaria tudo em ordem. Além disso, Estela poderia ajudá-lo a ser menos tímido com as mulheres, até porque conversar com ela não era muito difícil. Difícil era ela ficar em silêncio. Estela também devia ter notícias de Aurora, e consequentemente de Felipe. O mais velho dos príncipes conversadores sentia falta do irmão inconsequente. Era como se preenchesse um espaço no Reino dos Conversadores, e sua ausência se tornava evidente diante das poucas confusões e do silêncio. Era um tédio.

          Assim que Victor chegou a Campos se surpreendeu com o andamento avançado da construção dos muros. Era um reino enorme, cheio de declinações, com intensa saída e entrada de transeuntes, o que o tornava muito difícil de ser cercado, em contraste com a facilidade encontrada ao murar o derredor do Reino dos Conversadores. Provavelmente a proteção ficaria completa antes de Branca chegar.

         A aparição de Victor no palácio era o indicativo de que o retorno de Branca se aproximava. O povo já se encontrava cochichando nas ruas.

         Vicente veio ao encontro do príncipe esperando uma mensagem da futura rainha. Sempre desconfiou dos sentimentos do conversador por Branca, até porque eram muito evidentes. No salão principal o encontrou, em pé, com as mãos nas costas, levemente nervoso. Talvez não fossem boas notícias.

- Alteza – o regente fez uma mesura.

- Senhor Pinoc. Não sei como chamá-lo. Regente Pinoc?

- Vicente está bom. Acredito que veio informar sobre o treinamento da rainha.

- Bem, senhor Vicente, a rainha está na última fase. Em breve retornará.

- Excelente notícia – Vicente sorriu, aliviado. – Mui excelente! Mas vejo que algo te aflige. Gostaria de conversar na sala privativa? Mando levarem um chá de erva doce.

- Ah, não. Eu vim no intuito de ter uma conversa particular com a princesa Estela. Ela se encontra?

- O que? O senhor... Perdão, eu... Eu não esperava. Estou surpreso. Humm, bem, ela está no jardim, bordando um lenço.

- Obrigada – Victor estendeu a mão a Vicente, na forma de um cumprimento amistoso.

        O regente retribuiu o gesto sem esboçar um sorriso em retorno. Estava muito ocupado se segurando para não ter uma crise de ciúmes a ponto de duelar com o príncipe conversador. Sabia que não podia se casar com Estela, mas estar diante de um futuro marido dela era demais para suportar. Havia boas janelas no segundo andar. A varanda pequena da biblioteca parecia ideal para analisar a reação da princesa. Então o racional Vicente se viu tomado pelas emoções, passional, enciumado, atormentado, desesperado, descontrolado, como nunca antes em sua mísera existência de vinte e cinco anos e meio. Alcançou o beiral antes de Victor chegar à Estela. Nem Malévola chegaria tão rápido.

         O príncipe mal se aproximou foi atacado por um abraço saudoso da fada. Vicente resmungou, escondido, imperceptível, bisbilhotando tudo. O regente sentia-se idiota ao extremo, mas precisava vigiá-los.

- A que devo a honra de sua visita? – Estela perguntou com a mão na cintura, fazendo uma mesura exagerada com a outra mão em homenagem ao amigo.

- Bem, Branca está terminando o treinamento.

- Isso é muito bom! Ela será uma rainha exemplar.

- Sim, e você também. Poderá retornar ao Reino Encantado, deve estar com muita saudade!

O Conto dos Contos 2 - A Lenda do Era Uma VezOnde histórias criam vida. Descubra agora