Capítulo 28 – Alianças improváveis
Aurora ouviu mais ruídos na cozinha e se lançou contra as cortinas que serviam de parede, descalça e de camisolão, encontrando o marido fazendo sua especialidade culinária: ovos crocantes.
- Que cedo! Acordando antes do galo?
- Lembra que teríamos uma semana de lua-de-mel e logo depois eu começaria minhas atividades de lenhador? Pois bem, hoje será o meu primeiro dia – Ele puxou a camisa azul escura desbotada e larga, fazendo uma pose de homem zangado. – Como estou?
- Parece um príncipe fantasiado de lenhador.
Felipe exibiu uma carranca, insatisfeito com aquela resposta.
- Você reduziu nossos oito dias de lua-de-mel em dois e ainda zomba da minha pessoa? Que mulher, essa minha esposa. Eu deixei a barba crescer e tudo!
- Uhum. Mas você não é... bruto.
- Eu posso ser bruto...
Felipe puxou a esposa pela cintura e a abraçou.
- Já viu um artista bruto? – Ela se explicou, rindo. – Vai precisar de mais do que uma roupa para ser como eles. Não seja cortês. Seja... prático.
- Bem, eu sei usar o machado. Espero que isso baste. Tenho que ir, e quando voltar, não quero mais ninguém nessa casa além de você, por gentileza. – Ele deu um leve apertão no nariz dela.
- Ah, não! Mas eu já convidei a Ariel para me treinar!
- O que?
- É brincadeira. Tinha que ver sua expressão de desespero!
- Você abusa do meu amor, sabia?
Aurora gargalhou e abraçou o marido com força, apoiando a cabeça contra o tórax dele. Dava para ouvir as batidas de seu coração e sentir o movimento proveniente da respiração, para cima e para baixo.
- Às vezes acho que estou sonhando e que, em algum momento, alguém irá me acordar. Está tudo tão bom para mim, e não estou acostumada com isso. Esse é o começo de nossa vida juntos. Vamos viver assim para sempre, nós dois. Você como lenhador, e eu procurarei alguma atividade também. Não quero te atrasar, eu só... Queria que soubesse que estou feliz.
Felipe sorriu e depositou um beijo carinhoso na testa da esposa, antes de fechar a porta, escondendo ao máximo seu nervosismo em começar um ofício tão destoante de toda sua criação. Aurora era forte, sofrida, guardiã de todos, e ele queria ser o guardião dela. Já havia muitas pessoas lançando seus problemas nela, então não dava para revelar que estava completamente apavorado.
Em cima de seu cavalo e amigo de infância, Relâmpago, o conversador partiu. Deixou a mente ser invadida por pensamentos positivos, e que o vento levasse para bem longe seu temor. Era normal ficar ansioso diante de uma nova experiência. Seu instinto animal que o alertava do perigo estava exagerando, apenas. Era medo do novo. Só isso.
***
Eli acordou se sentindo grogue e enjoado. O estômago embrulhado era uma novidade para alguém que não ficava doente. Também não tinha apresentado enjoo por causa das ondas do mar, então não percebeu o que havia acontecido. James se encontrava encostado contra a parede, o encarando.
- Você dorme, hein – o pirata reclamou.
Eli encarou James com indiferença e não respondeu. Estava preocupado com sua situação, agora que haviam obtido o que queriam.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Conto dos Contos 2 - A Lenda do Era Uma Vez
FantasyAurora já teve que lidar com falsas acusações, esconder-se no Reino dos Humanos, ser humilhada diante de um povo e mortalmente ferida. Tudo o que quer agora é viver em paz ao lado de Felipe, encontrar Eli, e escrever seu nome na pedra para se tornar...