Capítulo 1 – Novos começos
Malévola estava em seu quarto suntuoso fazendo caras e bocas diante do espelho. Havia tido o trabalho de cachear os cabelos para ficar adorável e inocente. Os fios estavam soltos, enfeitados por uma fita lilás, enquanto seu vestido branco cobria mais do que ela considerava necessário. Sorriu com o máximo de amabilidade para o reflexo, omitindo suas expressões cruéis e seu olhar perigoso. Parecia até uma pessoa normal. Só a ideia de ser comum lhe causava repulsa.
Ela era uma mulher de propósitos e sua farsa tinha motivos que acreditava serem legítimos. James era um pirata que não feria crianças. Preferiu perder sua liberdade e distanciar-se do filho só para não matar um fedelho qualquer. A questão é que a bruxa precisava das habilidades dele para localizar Zinim - além de obter a adaga -, e ele não entenderia o que ela poderia querer com uma criança. Se ele a considerasse menos perigosa do que realmente era, seria mais fácil conseguir manipulá-lo, levando-o a crer que a menina não estaria correndo riscos. Para isso, suas últimas vítimas serviriam de inspiração.
- Hunf, deixe-me ver. Posso imitar a Estela. Cara de boba que sorri sem nenhum motivo.
Malévola sorriu, segurou uma mão na outra, apoiando-as na lateral esquerda do rosto e ergueu um dos pés. Deu até um saltinho, mas parecia totalmente falso.
- Não, é feliz demais, me irrita. A bonitinha idiota... Deixe-me ver... Branca tem cara de assustada, encolhe os ombros como uma vítima eterna, e seus movimentos são irritantemente delicados.
A rainha das trevas curvou suavemente os lábios para baixo, parecendo um filhote com fome... E raiva no olhar. Não deu o resultado que esperava.
- Não consigo, é muito enfadonha. Quem falta? Aurora! Sim, a garota está sempre disposta a se sacrificar pelos outros, tem olhar altivo, queixo erguido... Por que eu me sacrificaria por alguém? Isso é falta de amor próprio. É irracional.
A mais egoísta dentre as egoístas precisava reconhecer que sua imitação de Aurora parecia uma Marisol morena.
- Cinderela... Olhar desconfiado, expressão séria, não é sorridente, fala o que pensa, reclama e resmunga. Essa é mais fácil! Será ela quem irei imitar.
A bruxa encarou o espelho outra vez, certa de que poderia representar o papel escolhido. O reflexo exibia uma Malévola de boas intenções.
- Ah, para ficar perfeita teria que chorar ao menos uma vez. Elas fazem isso com tanta facilidade.
Malévola espremeu os olhos com força, abanou-os com a mãos, mas não veio uma lágrima sequer. Era muito difícil chorar. Precisaria de ajuda.
- Anco! Anco!!!
O danado não apareceu. Nem seria possível, coitado. Um gigante esquisito que trabalhava para a rainha das trevas há tempos veio ao encontro da bruxa. Bateu na porta com receio e a abriu.
- Majestade...
- Você se chama Anco?
- Não.
- Qual foi o nome que te dei quando foi escolhido por mim?
- Ebede.
- Ebede se parece com Anco? Você me ouviu pronunciar o seu nome?
O gigante negou com a cabeça.
- Então saia da entrada do meu quarto e chame o Anco. Aproveite que estou falando com gentileza.
- Mas Majestade...
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O Conto dos Contos 2 - A Lenda do Era Uma Vez
FantasyAurora já teve que lidar com falsas acusações, esconder-se no Reino dos Humanos, ser humilhada diante de um povo e mortalmente ferida. Tudo o que quer agora é viver em paz ao lado de Felipe, encontrar Eli, e escrever seu nome na pedra para se tornar...