Capítulo 30 - Água e chamas

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Capítulo 30 – Água e chamas

         Aurora chegou ao palácio do Reino Encantado muito bem-disposta. Esse era o efeito que novos livros causavam sobre ela. Estava curiosa demais para descobrir o que as páginas arrancadas iriam revelar a respeito de si mesma, dos muros e de Malévola.

         A fada quase que flutuou pelos corredores do palácio de tanta empolgação. Tentou abrir a porta da biblioteca da avó, mas a mesma se encontrava trancada. Ela bateu e aguardou, avisando que havia chegado.

         A rainha Solange e seu braço direito levaram certo tempo para destrancar a fechadura. Aurora não gostou nenhum pouco disso. Entrou no cômodo e fechou a porta, se virando diante da dupla. Com as mãos na cintura, os avaliou. Eles pareciam cansados, como se tivessem passado a noite em claro. A guardiã bufou diante do óbvio.

- Vocês leram sem mim! Deixem-me ver os livros – ela estendeu a mão.

- Você sabia que leríamos, Aurora – Solange rebateu.

- Quero conferir se estão escondendo algo de mim.

        Eles deixaram os livros de Tristan em cima da grande mesa branca e liberaram o caminho. Eli encarou a rainha com olhar de culpa, ciente de que era injusto ocultar de Aurora sobre o anel de Alessia. Ele acreditava que a moça tinha o direito de saber toda a verdade, sem censuras. Contudo, a vontade da rainha prevaleceu.

       Aurora abriu os livros exatamente nas partes que faltavam nos outros. Ela os tinha de cor. Seus olhos se iluminaram, atraídos como um ímã pelas palavras daquelas folhas. Solange tocou em seu ombro e avisou:

- Nos procure depois de ler. Vamos te informar quanto ao plano contra Tristan. Eu pensei em algo e pretendo discutir com o Eli a respeito.

       A garota assentiu com a cabeça, ignorando a partida do casal.

      Do lado de fora da biblioteca, Eli fechou os olhos e lançou a cabeça para trás, se sentindo incomodado por tornar invisível uma preciosa folha de papel.

      Já Aurora, a princípio, deixou a desconfiança de lado ao verificar que os livros se encontravam inteiros e sem rasuras. Sorridente, começou a entender sobre a importância de ser uma guardiã, conhecendo a origem de sua função. Cada informação era especial, omitida com um propósito específico. Assim dizia a primeira página:

Os monarcas sempre canalizaram a força de seu povo para resistir a ameaças e atacar. A extensão de seu poder provém do povo. Algo que para desatentos pareceria benéfico se mostrou prejudicial em situações duradouras, ou mesmo permanentes, como quando um rei tritão adoeceu misteriosamente, e por anos a fio foi enfraquecendo o povo, até a destruição de Atlantis pelos bruxos. Nesse momento surgiram os escolhidos, os guardiões, seres mais fortes e resistentes. A vida deles passou a ser canalizada, até se esgotar, caso fosse necessário.

Cada corte ou ferida era transmitida ao guardião, de modo a manter o monarca em saúde perfeita, restabelecendo suas condições físicas constantemente. Os guardiões ficariam doentes, e não mais os reis, assim, o povo não seria canalizado. Esses seres especiais deviam crescer perto dos príncipes, porque quando crianças a habilidade de proteção era prejudicada pela distância. Crianças, mesmo destinadas a serem fortes, são desprovidas de dons mágicos na infância. Por serem ainda frágeis, seus laços com os guardados também o são. O corpo precisa se desenvolver, se acostumando com ferimentos que não são seus, ou a habilidade de guarda se torna imperfeita, bastando a distância para neutralizar a função.

O Conto dos Contos 2 - A Lenda do Era Uma VezOnde histórias criam vida. Descubra agora