CAPÍTULO 35 – Alto risco
Felipe ajudou Aurora a descer da carruagem, e a guiou passo a passo, rumo a cerca viva, em meio a escuridão do céu. Por trás dos dois, era possível ouvir o barulho do transporte que retornava ao Reino Encantado, guiado pelo cocheiro, enquanto o casal seguia até o casebre.
O príncipe estava verdadeiramente preocupado com sua esposa. Ela parecia estar com muito sono, o que não era nada comum.
- Aurora, há algo se passando contigo? Comeu algo que o Henrique te deu? O que houve? Além do que eu vi...
- Não... Não aconteceu nada. Eu já cheguei no casamento me sentindo mal. Talvez seja o nervosismo. E eu te peço perdão pelo que aconteceu. Eu não dei ao Henrique nenhuma liberdade ou esperança.
- Eu sei disso. Vamos apenas dormir, e se você continuar se sentindo mal, iremos procurar a rainha Solange. Tudo bem?
Aurora assentiu, passando pela porta e se lançando sobre a cama. Felipe a ajudou a, ao menos, descalçar os sapatos. Instintivamente, ele a cobriu com cobertas felpudas, e se deitou ao seu lado, a abraçando. A possibilidade de que algo ruim pudesse acontecer com ela o fez sentir um arrepio. Esperava que tudo não passasse de um susto.
***
Solange não tinha visto Aurora e Felipe partirem. Eles haviam se retirado da festa bem cedo. Ela não iria reclamar, posto que imaginava que Henrique tivesse aprontado alguma coisa.
Finda a celebração, a rainha havia informado ao neto que o esperaria do lado de fora do palácio. Henrique estava demorando demais, e quase todos os convidados já haviam partido. Solange começou a se sentir inquieta. Avistou o rei César saindo da festa pelo portão que dava ao jardim. Ele estava com ar angustiado e ela não conseguiu oprimir um riso nem mesmo por educação. Sabia que para ele, havia perdido seus dois filhos, e seu palácio estaria vazio, sem herdeiros. Seu antigo amigo se sentia entediado sem Felipe, e tudo haveria de piorar sem Victor.
- Mas que temperamento difícil! Seu filho se casou com a mulher que amava. Pare de se lamentar. Nós os criamos para o mundo.
César se deparou com a rainha e discordou dela, rompendo a distância entre os dois ao pisotear violentamente o gramado.
- Fala isso porque sua herdeira está contigo. Estou tão sozinho... Mas não diga a ninguém que eu disse isso.
- Ninguém iria acreditar, de qualquer modo.
- Melhor assim. Por que ainda está aqui? Aguardando o cocheiro?
- Não, aguardando meu neto...
Tristan vinha com Ariel e Henrique em direção as carruagens, descendo uma pequena ladeira. A sereia estava implorando para ir embora, pois o príncipe dos humanos havia feito mil perguntas a respeito do casamento de Aurora, mas pela primeira vez, seu pai fez questão de permanecer até o fim.
O jovem Henrique estava incomodado e incomodando, absorto em ciúmes. Pois o mesmo veneno do ciúme foi tomado pelo rei tritão ao ver Solange tão confortável na presença de César, rindo como uma menina. Eles pareciam ser amigos demais, e o rei dos conversadores sempre cedia à Solange em todas as negociações, a beneficiando. Irritado, fez questão de chamar a atenção do rival.
- César! Pensei que já tivesse ido embora.
O rei dos conversadores encarou Tristan com desconfiança. O homem implicante soltaria suas farpas, por certo.
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O Conto dos Contos 2 - A Lenda do Era Uma Vez
FantasiAurora já teve que lidar com falsas acusações, esconder-se no Reino dos Humanos, ser humilhada diante de um povo e mortalmente ferida. Tudo o que quer agora é viver em paz ao lado de Felipe, encontrar Eli, e escrever seu nome na pedra para se tornar...