Capítulo 5 - Questões familiares

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Capítulo 5 – Questões familiares

A herdeira do Reino Encantado podia ver o cansaço de Vicente, que parecia ter passado a noite em claro. Pois ele havia mesmo. O pobre rapaz tentava comer uma quantidade razoável de todos os alimentos servidos à mesa, numa busca para manter-se acordado e para amenizar suas preocupações. Até engasgou e tossiu um pouco, o que foi útil para romper com o silêncio incômodo daquela refeição. Um soldado dirigiu-se ao regente um tanto nervoso e o fez diante da princesa do Reino Encantado na esperança de que ele não se exasperasse na frente dela. Então disse em disparada, sem chance de ser interrompido:

- Regente Pinoc, o pássaro era mágico, curou-se e saiu voando!

Dessa vez a tosse foi intensa e o olhar de Vicente, furioso. Ele bebeu água para acalmar a garganta e todo o resto do corpo.

- Vamos conversar em particular – Pinoc sugeriu, mas era uma ordem. Uma que o cavaleiro não iria obedecer, pelo medo de ser considerado mentiroso.

- Senhor, eu juro pela minha vida que é verdade, que a asa do pássaro ficou boa e ele voou! Eu o levaria até o seu... destino!

Vicente tinha certeza de que era uma desculpa para não ir até o Reino dos Bruxos.

- O pássaro era amarelo? – A princesa perguntou.

Ambos a encararam com surpresa.

- De bico reto preto? – Ela completou. - É um pássaro mensageiro do Reino Encantado. Um animal raríssimo com capacidade regenerativa. O braço direito da rainha Solange presenteou Aurora com um deles, mas o mesmo foi roubado, e não sabemos seu paradeiro.

O cavaleiro sorriu de orelha a orelha, aliviado por a princesa confirmar a veracidade de sua história.

- Então ele está voando sem rumo – Vicente mentiu. – Bem, pode ir, Rafael. Acredito em você.

Estela esperou que o rapaz se retirasse e caminhou até o regente. Olhando em seus olhos de olheiras, ela perguntou:

- Quem roubou o pássaro?

- Não sei.

- Esse pássaro não fica voando sem destino certo. Você conseguiu ler a mensagem que estava com ele?

Vicente negou com a cabeça.

- Ai-ai-ai, Vicente. Não vai me dizer "que o meu nariz cresça se eu estiver mentindo" como da outra vez? – Ela usou uma voz mais grave, imitando-o. – Deve estar com medo de ficar narigudo.

- Não me pergunte o que não posso te responder.

- Não censure o que eu devo ou não saber. Isso é o que fazemos com crianças e diante dos inimigos. – Estela colocou a mão na cintura, sentida com o que ele disse. - Eu não sou apenas sua aliada e amiga, sou uma princesa cuja estadia em Campos é por motivação política. Eu gosto de usar babados e prender flores no cabelo, mas não sou um enfeite. Sempre sei das coisas por último. As pessoas têm medo de me magoar porque sou sensível, mas elas me magoam mais ao esconderem os problemas de mim. Eu quero fazer parte dos momentos bons e ruins, das decisões relevantes, das negociações, de tudo! As pessoas não me temem. Você, em vez de me excluir, deveria usar isso em benefício de Branca. Sabe quem já me abordou querendo saber como agradá-la e se ela já tinha pretendentes? Sabe que pessoas me procuraram para saber sobre suas decisões? Sobre o Henrique, o Lúcio, sua guarda, os anões... Sobre Aurora! Sou abordada bem debaixo desse seu nariz em crescimento!

Vicente sorriu com o comentário.

- Não posso te usar como informante – ele negou prontamente.

O Conto dos Contos 2 - A Lenda do Era Uma VezOnde histórias criam vida. Descubra agora