O Conto dos Contos 2 - A Lenda do Era Uma Vez

Capítulo 26 - No improviso

PERDÃO PELA DEMORA. Está difícil conciliar todas as coisas que tenho que fazer. Um abraço.

- FELIZ NIVER DAVI!

Capítulo 26 – No improviso

        Wendy tentou não parecer tão deslumbrada com o navio. Jamais havia entrado em um. Era tudo tão novo e intrigante. Desobedecendo à ordem de Eli, ela perambulou por todos os cantos, curiosa demais, pensando nas histórias que poderia inventar para as crianças. Foi acometida por uma nostalgia ao pensar na sua vida antiga. Lembrou-se de seus afazeres, de sua família, de sua vida no Reino dos Alternadores e sentiu saudades.

       A moça se confortou cruzando os braços em torno de si. Seus irmãos deveriam se tornar mais responsáveis com sua ausência, e valorizar sua presença quando voltasse. Wendy tinha certeza de que um dia retornaria, mas era apavorante reconhecer que não estava com tanta pressa quanto o esperado.

      Não havia nem mesmo um pequeno sinal de terra na linha do horizonte. Estava cercada de água por todos os lados. Havia uma fagulha de adrenalina em seu corpo, a empolgando com a possibilidade de uma aventura. Todos os seus dias eram iguais, então não saber como seria o amanhã era uma sensação tão apavorante quanto maravilhosa.

      Não seria fácil sua jornada. Os piratas a tratavam com mais seriedade e certa distância por suporem que a sereia pirata tivesse partido diante da presença de uma nova mulher. Sentiam falta de Ruiva e faziam menos barulho que de costume. Eram murmúrios e silêncios de insatisfação.

      A babá, contudo, era uma moça astuta o suficiente para contornar a situação com maestria. Haveria de contar alguma história e mostrar a todos que seria boa para as crianças, bem como que não permaneceria com a tripulação. Isso os faria serem mais simpáticos e deixarem de culpá-la. Wendy sabia que homens eram meninos de grande estatura. Lidar com eles exigia paciência e atenção. Por isso que havia observado James e Simbad. Poderiam ser pai e filho, mas Wendy tinha pavor apenas do pirata com um gancho. Já o capitão ela não conseguia temer. Ele parecia mais um personagem de uma história de amor intrigante, entre um pirata e uma sereia princesa, destinados ao amor impossível mascarado de ódio. Qualquer criança comeria até jiló para ouvir uma história assim!

      Simbad estava sofrendo uma crise interna, o que era fácil de perceber, devido às ordens severas que berrava pelo convés. Segundo seu exclusivo julgamento, estava tudo muito sujo, fora de ordem, mal feito, até os nós das cordas eram frouxos ou apertados demais. Defeitos e erros, só disso que falava.

- Extravasou sua raiva, capitão? – Wendy o abordou, enquanto ele segurava o leme com ar de cão raivoso.

- Não estou com raiva, nem com humor para piadas. Volte para o camarote, dona.

- Ontem eu era senhorita Darling. Hoje ainda tenho o mesmo nome. E você poderia ter ido atrás da sua sereia...

- Ela não é minha sereia. Ela é a... Você sabe quem. E eu não corro atrás das mulheres, elas que correm atrás de mim.

       Wendy prendeu os lábios para gargalhar por dentro. O rapaz era um bobão!

- Sou boa em entender as pessoas, e você não é um conquistador barato como o seu pai. Deveria ter procurado por ela. Ela teria voltado.

- Não a quero de volta! Ela é a filha do assassino da minha mãe. Ela tem o sangue dele.

- Está se corroendo de culpa por gostar dela.

- Não gosto dela.

- Alguém mais aqui sabe do seu pai invisível? – Ela cochichou.

- Psiu! Fica quieta! É claro que não!