Capítulo 7: Quando um racional sofre
A rainha dos fadens chegou ao Reino Encantado com o ânimo abalado. Seu coração estava dilacerado por causa dos netos, ainda que tivesse certeza de suas escolhas e de seu senso de justiça. Era um contraste com os ânimos do palácio. Mal entrou, viu um sorriso alegre visitando os lábios de cada servo que surgia. A atendiam gentilmente e a encaravam com ansiedade, como se soubessem de algo, uma novidade boa, ou estivessem tramando uma surpresa. Foi conduzida ao salão de jantar com uma mesa vasta, de quatro pratos postos. Ela, Aurora, Felipe e quem mais? Não sabia dizer. Seus olhos curiosos e pensativos foram cobertos por duas mãos. Ansiosa, as tocou e se virou imediatamente. Chegou a dar um pulo para trás quando viu seu filho querido, braço direito e amigo, que não tinha seu sangue, mas era parte de sua alma. Temendo que sua mente estivesse pregando uma peça, tocou no rosto magro do fadem e pôde constatar que era real.
- Eli.... – ela suspirou e se calou.
Ele não conseguia falar também. Estava com saudades de sua família. Emocionado, se esforçou para segurar o choro, mas o mesmo escapuliu com habilidade semelhante à de quando o fadem fugira de sua cela. Não conseguiu evitar sua explosão de sentimentos, então permitiu apenas vivenciá-la. Eli abraçou aquela que tinha por mãe e mentora, sentindo-a cair em seus braços. Foi assim que a sustentou em pé. Olhou para a rainha, que parecia frágil, como se fosse ela quem esteve aprisionada. O rapaz não tinha ideia do quanto era valioso e até mesmo necessário para Solange.
- Quando estiver pronto para me contar o que se passou contigo... Eu... Vou esperar que tome a iniciativa. Não vou perguntar, nem vou insistir.
Eli tinha vergonha de dizer que Malévola o capturou por desejo. Havia pensando várias vezes no que dizer, mas não chegava a um resultado que o deixasse satisfeito.
Solange queria ter coragem de pedir perdão por não o ter resgatado, mas não era o caso, e sabia que Eli não aceitaria ser motivo para expor os fadens ao risco de uma guerra. Então deu atenção aos problemas visíveis dele, como uma mãe zelosa.
- Você está magro demais, vou pedir que chamem a Aurora e o Felipe para comermos logo. Sua presença deve melhorar e muito meu relacionamento com ela. Nem entendo por que ela não está aqui, te fazendo companhia! Ela te ama tanto! Nós duas te amamos.
Solange segurou o rosto de Eli com as duas mãos.
- Eles ainda não chegaram.
- Eles? Os dois saíram? Com você aqui?
- Felipe sim, mas Aurora não estava. Ele foi atrás dela.
- Faz muito tempo? Quando exatamente você chegou?
- De manhã, logo após você sair.
A rainha ficou perplexa, a ponto de perder a cor. A neta teria que ir muito longe e se envolver em um problema terrível para não voltar correndo ao reino para ver Eli. Provavelmente tinha ido atrás de Malévola. Imaginando o pior, Solange gritou:
- Aurora!!! Você é pior do que o Felipe! Teimosa!!! Imprudente!!! Não!!! Mil vezes não! Como pôde?!
Solange se agachou no chão feito criança e desatou a chorar. Descontrolada, agitava os cabelos com as mãos. Chegava a tremer de nervoso.
Eli ficou muito preocupado e abaixou-se, tentando olhar nos olhos da rainha para entender o que se passava.
- Mas o que aconteceu? Para onde ela foi? Por que você está assim tão...
- Ela foi atrás de você! Foi negociar com a Malévola... Não, não, não, não... – ela murmurou repetidamente, digna de pena. – Eu vou perder toda minha família, um por um... Ela não voltou... Não voltou... Quando finalmente tenho você de volta, eu a perco! Não aguento mais!!!
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O Conto dos Contos 2 - A Lenda do Era Uma Vez
FantasyAurora já teve que lidar com falsas acusações, esconder-se no Reino dos Humanos, ser humilhada diante de um povo e mortalmente ferida. Tudo o que quer agora é viver em paz ao lado de Felipe, encontrar Eli, e escrever seu nome na pedra para se tornar...