Capítulo 29 - Amigos e rivais

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Capítulo 29 – Amigos e rivais

          Se Eli pudesse ficar invisível com uma rocha neutralizadora de dons em seu estômago, ele ficaria. A travessia pelo Reino dos Alternadores até o Reino Encantado seria muito mais complicada do que o esperado. Havia em cada ruela guardas alternadores e fadens, e alguns tritões infiltrados; todos eles vigiando para quando o fadem alternador retornasse.

         Eli se encostou contra um muro, como quem nada pretende, e indagou a um dos moradores o motivo de tantos guardas pelas ruas.

- Estão esperando o fadem que ficava na casa dos Darling aparecer.

        Havia algo de errado. Ninguém sabia o dia do retorno de Eli, então parecia um exagero separar tantos oficiais para ficarem de tocaia indefinidamente. Ao mesmo tempo, o fadem reparou que estavam construindo um muro de proteção ao redor do Reino dos Alteradores e isso gerou mais desconfiança.

       Eli agradeceu pelas vestes simples e pela barba ter crescido. Foi uma forma de prosseguir parte de seu caminho sem ser abordado, contudo, ao verificar desconhecidos analisando fixamente seu rosto, ele buscou um grupo de guardas do Reino Encantado que conhecia de vista e se apresentou.

- Soube que estão a minha procura – Eli foi rápido, reparando que os homens que antes o encaravam deram a volta e partiram com raiva e frustração.

- Senhor Eli Dorneles? – Um dos guardas o avaliou, horrorizado.

- Não estou apresentável, eu sei. Por que estão aqui?

- Vamos te escoltar até a rainha Dorneles.

       Eli franziu o cenho e assentiu. Não questionaria aos guardas o motivo de sua escolta. A rainha provavelmente não tinha justificado suas ordens, mas nunca ordenava sem uma boa razão.

***

       Quando Aurora acordou, Felipe já não estava lá. Era estranho não ter despertado mais cedo, uma vez que o marido era tão barulhento. Provavelmente ele tinha feito silêncio de propósito, para não a incomodar, ou para não conversar, o que parecia mais provável. A guardiã ponderou que o marido não havia dito nada sobre o primeiro dia como lenhador. Não compartilhou novidade alguma. Era estranho, considerando a tagarelice habitual do conversador. Ele devia ter vivenciado um dia ruim, e estava aguardando para que o segundo dia fosse melhor. Mesmo pensando de forma positiva, Aurora decidiu que não passaria daquela noite a conversa com Felipe. Estava angustiada de tanta preocupação.

      A guardiã se preparou para voltar ao Reino Encantado e imergir no vasto conhecimento disponível na biblioteca da avó. Apenas tomaria seu chá de camomila com mel, e arrumaria a cama antes. Sabia que precisava enfrentar um problema de cada vez.

***

     Solange encontrava-se em sua biblioteca particular, vasculhando livros como uma louca, em busca de informações úteis contra Tristan. Ao ser informada de que Eli havia chegado e ido direto para o seu aposento, a rainha apressou o passo até o filho de consideração, surpresa com o retorno, e sentindo o coração saltar contra o peito de alívio, pois tinha certeza de que o rei Tristan daria um jeito de capturá-lo. O sucesso da escolta pelos fadens era questionável, visto que Eli se encontrava em um território mais favorável aos tritões e alternadores. Por isso que havia pedido com urgência e por escrito que os reis Joana e Tadeu liberassem guardas com a mesma finalidade: proteger Eli.

     Quando a rainha fada chegou ao quarto de seu menino, abriu a porta com violência e encontrou Eli vomitando em um balde de ferro. O rapaz não parecia nada bem, e para piorar, tinha ferimentos pelo rosto e braços.

O Conto dos Contos 2 - A Lenda do Era Uma VezOnde histórias criam vida. Descubra agora