Capítulo 36 - Peixe grande

2.3K 284 133
                                    

Capítulo 36 – Peixe grande

     Eli cavalgou até o casebre de Aurora e Felipe, sem se importar com os ferimentos de seu corpo. Passou pela cerca viva, que era vinculada à Aurora, e reconhecia quem lhe era amistoso.

     O fadem correu até a porta do casebre, socando-a em desespero. Ele gritava por Felipe de modo tão enérgico quanto aflito. O pânico em sua voz era tão nítido, ao ponto de deixar claro que se tratava de um pedido de socorro.

     Felipe acordou assustado, vestiu correndo uma capa e um par de botas, pulando de um pé para o outro. Aurora também jogou sua capa vermelha por cima da roupa de dormir, e ambos foram abrir a porta. Eli desatou a falar em um só fôlego:

- Alteza, Vicente e Gepeto desapareceram! O senhor era o conversador mais próximo e eu preciso de sua ajuda para localizá-los antes da Malévola. Eles fugiram em direção ao labirinto!

- Claro, estamos indo agora mesmo – Aurora foi solícita.

- Ah, Aurora, você não vai, não. É de madrugada, está frio, e você está grávida. Você não deve se deparar com a Malévola! Vai que ela te encontra e te machuca? Por favor, pela segurança do bebê, fique aqui.

- Grávida? – Eli se surpreendeu.

     Aurora cruzou os braços, insatisfeita.

- Felipe, nem dá para ver a barriga. E é o Vicente! Eu tenho que ir!

     O conversador não se convenceu.

- Eu posso localizá-lo, e nem preciso ir longe. Só vou me distanciar alguns metros da cerca. Por favor, fique em casa. Volto para te dizer o que eu vi, com detalhes.

     Felipe fechou a porta e não olhou para trás, andando apressadamente. O conversador guiou Eli, que explicava o que havia acontecido com Vicente, mas de forma nada inteligível, em razão de seu nervosismo. O príncipe assentiu, como se estivesse compreendendo tudo, mais por companheirismo do que por entendimento ou dedução.

     Afastados da cerca viva por alguns metros, eles pararam. Felipe fechou os olhos e se concentrou, invadindo a mente de diversos pássaros, um após o outro. Após oito minutos e vinte e sete segundos, o conversador se deparou com a cena de Vicente saltando no precipício com o pai.

     O príncipe abriu os olhos e exibiu uma expressão de espanto, com os dentes rijos e olhar arregalado, o que era muito raro em sua pessoa.

- Eli, se eu te disser, você não vai acreditar...

- Eles estão bem? Porque parece que Vossa Alteza não viu algo de bom.

- Sinceramente, não sei. Não posso afirmar que eles ainda estejam vivos. Eles pularam de um precipício e caíram no mar. Foram engolidos por uma baleia.

- O que? Mas não é possível! E onde está a baleia?

- Em alguma parte do oceano, mas não tenho como descobrir por meio dos cardumes onde essa baleia se encontra, pois são peixes pequenos e as lembranças somem rapidamente. Tampouco posso invadir a mente da baleia, justamente por não conseguir localizá-la nas profundezas do mar. É muito distante, até para mim. O fundo do mar é complexo para qualquer conversador. Eu teria que, no mínimo estar num navio e ter a sorte de encontrar um animal marinho de tamanho razoável para me orientar. Preciso da ajuda dos tritões.

     Eli ficou pensativo, tentando elaborar um plano alternativo.

- Alteza, eu vou pedir ajuda a alguém que conheço que tem um navio. Peço que o senhor e a princesa Aurora, assim que possível, também peçam a ajuda da rainha Solange e requeiram o auxílio dos tritões na busca em alto mar.

O Conto dos Contos 2 - A Lenda do Era Uma VezOnde histórias criam vida. Descubra agora