Capítulo 37 - Num piscar de olhos

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Capítulo 37 – Num piscar de olhos

     Malévola se sentia relaxada após uma longa sessão de tortura contra James, desferida em conjunto com seu cão humano. Edgar, após o fracasso de missão contra Vicente, estava com raiva e frustrado, o que impulsionou a violência contra o pirata, tornando a tarde de agressão mais produtiva.

     Após infligir tanto sofrimento a James, era necessário conduzir Úrsula ao local, para testemunhar o resultado. A prisioneira iria aprender a não mentir nem omitir a respeito de informações importantes.

- Edgar, traga a vidente. Estou ansiosa para que ela contemple nosso trabalho artístico.

- Queria que o trabalho tivesse sido realizado no Vicente.

- E de quem é a culpa por não ter sido nele?

- Minha, Majestade.

- Ainda bem que você sabe. Não vá perder a Úrsula também.

     Malévola, enquanto aguardava o cão humano cumprir suas ordens, fez surgir seu trono dourado bem no meio da sala de tortura. Sentou-se sobre ele para admirar sua vítima contra o chão. As gotas de sangue davam um toque de cor ao local cinzento e escuro. Era um lindo contraste, que representava a fragilidade da vida, muito embora James fosse resistente a dor.

     A rainha das trevas fez surgir uma taça de cristal e uma garrafa de vinho tinto. Bebericou com a frieza típica da mais vingativa dentre as vingativas, como se estivesse assistindo a um concerto musical. Seus lábios roxos, quase púrpura, exibiam pura satisfação. Ao ouvir o barulho na porta, com Edgar trazendo sua vidente aos empurrões, a bruxa macabra sorriu.

- Úrsula, querida, olha o que você fez com seu marido! Sabe que a desobediência ao meu comando nunca foi tolerada. Eu não ia começar agora a ignorar sua rebeldia!

     A vidente, de mãos amarradas, correu até o marido.

- James!

     Pérola, mais conhecida nas Trevas como Úrsula, tentou socorrer o pirata. Chegou a ampará-lo sob seu colo, mas o homem ferido desapareceu diante de seus olhos, deixando-a ainda mais preocupada.

- O lugar dele é na cela que lhe cabe. Se quiser cuidar das feridas dele te dou até o álcool e uns trapos limpos. O Anco mesmo providência. Porém, nada vem de graça nessa vida. Antes, nós vamos conversar... Você falhou comigo. Fui informada que o rapaz ruivo morreu com o pai. Quero ouvir da sua boca se isso é verdade.

     Pérola manteria a dignidade, de modo a ser honesta, sem ser delatora, mesmo que o marido estivesse debilitado.

- Ele e o pai estão no fundo do mar. A flauta quebrada foi encontrada com as vestes rasgadas deles, não?

     Malévola assentiu, cínica.

- Por sua causa, perdi a melhor estratégia de manipulação contra a princesa Estela. De qualquer forma, garanto que ela irá ceder na hora que eu mandar. A fragilidade dela é latente, e é muito fácil afligi-la. Então, todo o sofrimento do seu marido, e toda essa sua resistência serão em vão.

- O temperamento da princesa e o dom dela são indissociáveis.

- O que quer dizer com isso?

- Que o temperamento dela permite o controle do dom. A personalidade serena dela é única, especial, e a ideal para o domínio do dom climático que lhe foi designado.

- Pois considero esse dom um fardo, mediante a fraqueza notória dela. Mal consegue ser princesa, que dirá rainha. Se é essa a sua esperança, lembre-se de que a princesa não pode te dar nada do que você deseja. Acredita mesmo que ainda irá escrever seu nome na pedra e apagar todos os anos em que trabalhou para mim por vontade própria? Realmente pensa que voltará a ser uma sereia, vivendo feliz no Reino D'água, como uma súdita do seu antigo noivo? Ou pretende ir até o seu filho e assumir que o abandonou por toda a vida, mas que agora quer viver entre os piratas? Você nem tem para onde ir! Sua cela é o seu abrigo, o único local onde é bem-vinda. Chega a ser triste. Eu choraria, se fosse você, só que felizmente não sou.

O Conto dos Contos 2 - A Lenda do Era Uma VezOnde histórias criam vida. Descubra agora