Capítulo 14 – O primeiro amor
Branca ouviu uma pedrinha contra sua janela. Depois, alguns socos leves. Voltou a dormir, mas o barulho continuou. O que poderia ser? Victor, é claro! Ela pulou da cama e abriu a janela de imediato, para ver o nascer do sol com ele. Mal abriu a janela, o príncipe cobriu os olhos e se virou, avisado:
- Está na hora.
Ela reparou que estava com vestes de dormir e riu dele. Estava coberta do pescoço para baixo, aparecendo apenas as mãos. Ainda assim, ele ficou encabulado.
- Vou colocar uma roupa e uma máscara, para você ficar à vontade - ela debochou dele.
- Apenas seu marido deve te ver assim. Não se deve desrespeitar uma mulher nem mesmo com os olhos.
Branca sorriu diante daquela resposta e fechou a janela. Em alguns minutos, voltou coberta com um vestido solto e a manta da noite anterior. Victor a ajudou a sair pela janela mesmo e ambos caminharam até certa altura. Ele virou-se de lado e, muito constrangido, contudo decidido, pediu:
- Solicito sua permissão para segurar sua mão enquanto caminhamos.
Branca o encarou incrédula.
- Após analisar seu pedido e diante das circunstâncias, eu, em pleno uso de minha benevolência, concedo a graça, a honra e o privilégio de segurar em minha mão, de forma a me conduzir em segurança até o local designado para a contemplação celestial.
Ele era formal porque sentia a necessidade de ser. Ela se divertia com isso.
- Alteza - ele fez uma reverência, sério, e pegou na mão dela.
Eles caminharam em silêncio até o lugar onde haviam jantado. O local estava forrado com dois lençóis separados e almofadinhas. Ela se sentou à direita e ele, à esquerda. Admiraram o conjunto de cores magníficas acima deles. Victor estava rígido, ereto e desconfortável. Branca não conseguia entender o que estava acontecendo. O conversador parecia ter problemas e não queria falar para ela. Então a mais bela de todas apoiou a cabeça sobre o ombro dele, o que o desconcertou de imediato.
- Você não está bem - ela afirmou. - Ontem, no começo do dia, estava muito animado, mas de noite ficou infeliz. Não quer conversar comigo?
- Querer eu quero, só que as palavras me fogem à mente só de te ver.
- Então fale de olhos fechados - ela brincou.
- Ou de costas - ele completou, entrando na brincadeira um pouco.
- Está magoado por minha causa, não é? Eu nunca quis te magoar - ela confessou.
Victor se afastou e se virou, sentado sobre o lençol. Encarou com dificuldade aqueles olhos lindos e depois o céu em que já raiava o sol. Era a hora.
- Branca, eu lembro de cada item que você queria em um cortejo. Escrevi bilhetes, fugimos para outro reino, catamos conchinhas, vimos o nascer e o por do sol, e o céu estrelado. Comemos bolo no mesmo prato - ele engoliu em seco, lembrando-se. - E nós brincamos de pega, e andamos de mãos dadas, caminhamos no bosque, e te dei flores. Eu te abracei por trás... Perdão por isso. Jantamos com velas apagadas...
Ela riu e ele sorriu, com o olhar triste.
- E andamos no mesmo cavalo - ela completou.
- Sim, eu tive a audácia de fazer isso. Fiquei surpreso comigo mesmo.
- É, você é muito ousado – Branca debochou.
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O Conto dos Contos 2 - A Lenda do Era Uma Vez
FantasyAurora já teve que lidar com falsas acusações, esconder-se no Reino dos Humanos, ser humilhada diante de um povo e mortalmente ferida. Tudo o que quer agora é viver em paz ao lado de Felipe, encontrar Eli, e escrever seu nome na pedra para se tornar...