Capítulo 27 – Águas turbulentas
Wendy sentiu o forte vento sobre o cabelo, que chacoalhou como uma enguia, e o segurou contra a cabeça, minimizando o estrago. A ilha misteriosa chamada de Terra do Nunca era menor do que o esperado e oferecia, em sua margem, apenas três caminhos. Um indicava perigo com uma placa, e o outro, sugeria muita riqueza fácil. Como nenhum pirata estava com as mãos coçando só poderia indicar morte certa. A garota teve que ir pelo meio, único caminho visivelmente seguro.
Acompanhada por Simbad e mais três piratas, ela se sentiu escoltada tal qual uma criminosa, o que chegava a ser irônico, pois era a única que nunca havia roubado nada de ninguém. Além disso, como Eli veria Zinim tendo outros piratas por perto? Wendy não conseguiu compreender. O capitão poderia muito bem conduzi-la sozinho, de modo a facilitar o encontro entre os irmãos, que era o esperado. Isso a fez ficar desconfiada da palavra de Simbad, mais do que o normal.
Wendy observou ao redor, ciente de que Eli estaria em algum lugar, a seguindo, na expectativa de se aproximar da irmã. Pensou no quão tola devia ser em perder tempo procurando por um homem invisível. Queria encontrar algum sinal, nem que fossem pegadas, mas não havia nada que denunciasse a presença dele.
Quando chegaram diante da enorme rocha, que mais parecia uma montanha, e sem ver caminho aos lados, Wendy perguntou:
- Onde está a menina?
- Lá em cima – Simbad indicou com a cabeça.
- Não dá para escalar isso. Tem outra rota?
- Ela subiu voando. É só você voar.
- Ah, é só isso? É só voar? Que alívio! – Wendy foi irônica.
Simbad gargalhou. Ao contrário do pai, gostava do modo ranzinza da moça. A considerava divertida.
- Temos um pouco de pó para voar. Você usa para subir até Zinim e nos entrega uma sacola de pó de tristeza e outra de pó de voo.
- O que?
- Depois permanece na ilha cuidando da garota.
- E se, por um acaso, ela não me entregar duas sacolas cheias de pó mágico a serem repassadas aos piratas que a trouxeram para cá, o que acontece? Nessa remota e quase impossível hipótese?
- Existe um ditado popular que é bem assim: o que os olhos não veem, o coração não sente. Ele se aplica a esse momento.
Simbad fez uma pausa dramática e deu dois tapinhas no ombro de um dos piratas. Encarou a moça e franziu aqueles olhos malvados e espertos. Ela entendeu que sem o pó, Eli até veria a irmã, como prometido, mas ela não o veria.
- Wendy, se meus olhos não virem o pó mágico, meu coração não se alegrará, e você não vai querer me ver insatisfeito. Ainda mais que nos tornamos próximos nessa viagem, amigos, você é como uma irmã para mim.
- Já entendi seu plano, então pare de tripudiar em cima de mim. Zinim não vai querer colaborar, e ela não verá nenhuma prova de que o que estou falando é verdade!
- Vai ser tão difícil te ver de novo, é assim que quer se despedir de mim? Negando esse favorzinho? Logo você, que é tão habilidosa com crianças? Vai conseguir fácil, fácil. Vamos esperar bem aqui. Todos nós.
- Então senta, porque devo demorar, e muito, capitão. Joga o pó de voar para mim, estamos só perdendo tempo. Se tiver um pó de calar a boca, vou jogar três sacolas na sua cara.
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O Conto dos Contos 2 - A Lenda do Era Uma Vez
FantasyAurora já teve que lidar com falsas acusações, esconder-se no Reino dos Humanos, ser humilhada diante de um povo e mortalmente ferida. Tudo o que quer agora é viver em paz ao lado de Felipe, encontrar Eli, e escrever seu nome na pedra para se tornar...