Capítulo 22 - Caçador

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Capítulo 22 – Caçador

        Aurora estava ocupada na manhã da véspera de seu casamento e provavelmente estaria verificando os detalhes do planejamento se não estivesse preocupada com Estela e Vicente. Diante de sua protegida, ela se fez de esperançosa, mas sabia o quanto aquela união seria complicada. Contudo, para Aurora, complicado não era impossível. Era algo possível que requeria muito esforço.

        Teria que passar a tarefa de investigar na biblioteca da avó para Estela, uma vez que sairia do palácio e passaria a morar com Felipe no bosque, deixando a posição de braço direito de Solange.

        Sua leitura buscava uma forma segura e eficiente de realizar uma fusão em um humano jovem e saudável. Infelizmente, quanto menos poder o fadem o tritão tivesse, mais chances teria um corpo menos resistente de sobreviver ao recebimento do dom.

        A maçaneta começou a rodar e Aurora deixou o livro sobre o colo, ciente de que era sua avó adentrando no aposento repleto de conhecimentos sigilosos. Ela não se faria de boba, pelo contrário, iria sondar Solange.

- Querida, as carruagens foram selecionadas, os preparativos estão em ordem. Tomei a liberdade de enviar o que faltava da decoração e a louça a ser usada. Amanhã faltará apenas a comida do banquete, que já está adiantada na cozinha. Está nervosa?

       Aurora sorriu e respondeu:

- Um pouco.

- Lendo para se acalmar?

- Não! – Ela riu novamente. – Estou pensando em como temos ao nosso redor alguns humanos dignos de confiança e que não podem se proteger como nós duas.

       Solange fechou a porta e se aproximou, sem entender a neta. Com a mão na cintura e a expressão confusa, perguntou:

- O que isso tem a ver com o seu casamento a se realizar a-ma-nhã?

- Bem, para começar, meu acesso a esse cômodo irá se restringir a partir do meu casamento. Irei caminhar de braços dados com Eli e Abner em direção ao meu futuro marido amanhã. Abner é o senhor mais gentil do mundo, que mora com o seu neto complicado. Queria saber como compartilhar um dom com ele.

       Solange suspirou diante da neta. Ela estava pensando nos outros e não em si, outra vez.

- Às vezes fico me perguntando que tipo de mãe você será. Provavelmente uma que sufoca com tanta proteção! Você quer cuidar do mundo sozinha, como se todos fossem seus filhos. Minha querida, estou sendo muito sincera. Abner é idoso, não sobreviveria a uma fusão.

- E Vicente? Ele foi meu braço direito, regente de Campos, e mais do que digno. Ele é um humano que passará a ter contato direto conosco, que saberá dos nossos segredos. Ele é jovem. Acha que posso dar o dom do vento para ele?

      Solange cruzou os braços, descontente com constante defeito de Aurora de cuidar dos outros, mesmo em momentos impróprios.

- Pense no seu casamento, na sua vida, no seu marido e nos seus problemas. Ele talvez suporte receber um dom, mas você tem dois, não é? Ele receberia de tudo o que você tem e morreria antes de te ceder do que recebeu, antes de estabelecer o equilíbrio.

- Então se for alguém com apenas um dom, ambos ficarão com meio? E ele sobrevive? Viveria como um fadem?

- Ou morreria como um humano atingido por um raio. Não dá para ter certeza. Melhor não arriscar. Humanos são humanos, e fadens são fadens. Não mude a natureza das pessoas.

O Conto dos Contos 2 - A Lenda do Era Uma VezOnde histórias criam vida. Descubra agora