Capítulo 2 - O regente

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Capítulo 2 – O regente

Branca invadiu a biblioteca do palácio à procura de alguns livros e levou um susto ao encontrar Abner dormindo contra uma poltrona, abraçado a uma enciclopédia chamuscada. A mais bela deduziu que o irmão havia se queimado tentando salvar Abner ou os livros da biblioteca pública, que fora incinerada. Fazia sentido. Ela encarou o antigo bibliotecário, que já não tinha casa nem trabalho, e teve uma ideia boa, que a levou a uma decisão melhor ainda. Seu lindo sorriso acompanhou o cutucão que deu no velhinho.

- Acorda, Abner.

Ele se afastou do encosto rapidamente e tateou o chão até encontrar os óculos. Os ajeitou no rosto e piscou, até espantar o sono acumulado de uma madrugada lendo em vez de dormir. Branca se ajoelhou e falou com firmeza:

- Tenho uma proposta para você, mas é muito importante que mantenha o que eu disser entre nós. É um segredo irrevelável.

***

James caiu de joelhos sobre a grama e piscou algumas vezes até assimilar que a mulher arrebatadora à sua frente não era a que ele esperava. O pirata se considerou com sorte por ainda estar vivo. Isso porque ainda não sabia com quem estava lidando. Fez questão de avaliá-la, ciente de que ela fazia o mesmo. Parecia uma donzela delicada, porém havia algo de suspeito no olhar, como se tivesse um segredo obscuro. Ele era bom em ler as pessoas, só que a imagem da moça não batia com sua leitura. Era como ver a capa de um livro de romance, abrir e descobrir que a história era de terror. Talvez os anos preso o tivessem levado à paranoia. A sensação de perigo que tinha não fazia sentido. Medindo bem as palavras, começou a conversa pelo tema mais óbvio.

- Você não é a Marisol.

Uma moça meiga teria ficado constrangida, no mínimo, enrubescida com o pirata charmoso de pele dourada. Por falta de um adjetivo que pudesse definir adequadamente o nível de atração que James - com seu tórax exposto - exercia sobre as mulheres, o melhor seria compará-lo a um dia de verão no meio do inverno. Era inesperado, quente e bem-vindo, não necessariamente nessa ordem. Malévola pensou que fazia sentido Marisol ter se apegado ao pirata. Ele tinha charme e corpo musculoso, definido demais até.

- Você foi muito bem alimentado durante esses anos. Esperava alguém mais magro, mais barbudo...

- Decepcionada? – Ele brincou.

- Curiosa – ela rebateu com um falso sorriso tímido. Alguém o havia alimentado bem, sinal de que tinha amigos com influência.

James se levantou, ciente de que estava lidando com uma mulher observadora, lógica, inteligente, que não se intimidava facilmente.

- Você é amiga da Marisol?

- Nós fomos próximas.

- Não são mais?

Malévola pensou que esse seria um bom momento para chorar, mas seus olhos estavam secos e era capaz dela rir ao se lembrar da expressão de fúria da nora insuportável ao levar uma apunhalada. Com um suspiro, a bruxa encarou o chão e deu um passo para a frente, como se fosse dar uma notícia triste.

- A Marisol faleceu.

James engoliu em seco a informação. Não gostou de saber disso.

- Como? Quando?

- Uma briga com a filha. Já faz alguns meses.

- Então é por isso que você foi enviada no lugar dela – ele concluiu erroneamente. – Você é uma bruxa? Por que queriam um desenho da cela?

O Conto dos Contos 2 - A Lenda do Era Uma VezOnde histórias criam vida. Descubra agora