Capítulo 1 / JÚLIA

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Me definir como ansiosa naquele momento crucial seria um eufemismo. Eu estava pipocando de tanto nervosismo, mexia no meu cabelo ruivo sempre que possível, verificava meu batom vermelho no reflexo do pequeno espelho a cada cinco segundos e a chegada de minha família sempre que possível, afinal, ia fazer um ano que eu não via meus pais, sete anos sem ver meu irmão Murilo, minha melhor amiga Alana e minha prima Mônica.

Será que eu os agradaria? Aquelas mechas claras no meu cabelo não eram muito exageradas? Será que meu pai teria orgulho da mulher em que tinha me tornado? Minha mãe não me julgaria?

Roberto pressionou meus dedos com firmeza, trazendo-me de volta à realidade. Sorri, tentando demonstrar que estava calma e é claro que não funcionou, afinal, nos conhecíamos havia dois anos, tempo suficiente para ele me ler sem dificuldade alguma.

- Amor, você precisa ficar calma – ele estava sorrindo, o que destacava ainda mais seus olhos verdes profundos.

- Eu estou calma – acenei em positivo, sentindo meu coração se acelerar ainda mais. – só estou ansiosa.

Fiquei nas pontas dos pés, observando acima das outras cabeças. Conferi a hora no visor do meu celular, sabendo que eles estavam atrasados. As dúvidas e preocupações ficavam cada vez mais intensas, mas, quando ao longe vi meus pais caminhando lado-a-lado, abrindo espaço na multidão, tudo aquilo derreteu em um sorriso.

Corri no meio da multidão, deixando toda a bagagem com Roberto. Joguei-me nos braços de meu pai, que me ergueu do chão, beijando meu rosto, enquanto sorria e dizia que tinha sentido saudades. Depois abracei minha mãe, sendo recepcionada por aquele carinho no nariz que ela sempre fazia em mim e que, de alguma forma, nos ligava de uma maneira incompreensível.

- Ai, meu Deus! – Reagi, agarrando os dois ao mesmo tempo – Cadê o Mu?

Procurei-o ao redor, ficando novamente na ponta dos pés. Àquela altura, Roberto já tinha se aproximado e cumprimentado meu pai com um aperto de mãos. É claro que minha mãe, Agatha, não era tão amigável, então só o cumprimentou com um aceno. Ela sempre insistia em reforçar que não gostava dele, muito menos daquela decisão de casamento.

- Ele ficou em casa, querida – respondeu meu pai, ajudando Roberto com as malas.

Minha mãe e eu também nos dividíamos e seguimos com passadas lentas na direção da saída do aeroporto de Congonhas, que ficava à aproximadamente trinta e cinco minutos de onde morávamos.

- Arrumamos o seu quarto, eu arrumei, é claro, porque se dependêssemos do gosto do seu pai... – minha mãe comentou, arrancando uma gargalhada minha.

A viagem de carro foi rápida, já que era uma terça-feira e o trânsito antes do horário de almoço era sempre ameno em São Paulo. A viagem foi percorrida com histórias minhas sobre os Estados Unidos e sobre tudo o que perdi naqueles sete anos, Roberto sempre respeitava minhas conversas com meus pais, fazendo comentários apenas quando lhe convinha, enquanto ficávamos de mãos dadas.

- Deixe que eu levo suas malas, querida – Meu pai as tomou de minhas mãos, indicando minha mãe com a cabeça.

Sorri para ele e segui até o interior da casa de braços dados com minha mãe. Não havia muita coisa diferente, apenas a tintura da parede renovada, cobrindo os lugares onde Murilo e eu rabiscávamos quando crianças. O jogo de sofás era novo, a TV era mais atual e pequenas caixas de som estavam espalhadas pela sala, tudo claramente fora organizado por minha mãe, aquela incrível decoradora.

Minha mãe continuou a caminhar comigo, enquanto eu passava os olhos ao nosso redor, observando tudo com cuidado, com o coração acelerado.

- Quer um suco? – Ela perguntou, já servindo um copo.

Tinha como negar? Claro que não. Sorri, sabendo exatamente que era aquilo que ela faria e, com aquele simples gesto, todas as minhas dúvidas e incertezas foram pelo ralo.

- Mamãe – ela me encarou, os olhos verdes atenciosos fitavam meu rosto com carinho. -, você sabe que estamos noivos, né?

- Não tem como ignorar essa aliança – ela apontou para meu dedo.

Sim, a aliança era gigantesca, eu sempre achei um exagero e chamaria muita atenção pelas ruas, mas eu a usava por Roberto. Encarei o diamante que refletia à luz do dia e dobrei os dedos.

Ela puxou uma cadeira e sentou-se ao meu lado, segurando minhas mãos e sorrindo.

- Eu sei que você acha que ele é o cara, assim como seu irmão acha que a Camila é o amor da vida dele, mas... não é – ela acenou em negativo, ainda sorrindo, os olhos atentos nos meus, passeando pelo meu rosto. – Não nos conceitos da família DeLucca... pergunte ao seu pai, nossa história é louca, a história de Bruno e Mônica é louca, a história da tia Cate e Eric é louca. E vocês estão muito normais.

Soltei uma gargalhada, jogando a cabeça para trás.

- Acho que poderíamos seguir com histórias normais, seria um feito e tanto para a família, não acha? – Perguntei, ainda risonha.

- Querida, eu os conheço, e sei que não estão com quem deveriam estar... vamos descobrir em breve. Agora beba esse suco de uma vez! Porque voltou tão magrela?

Tomei o suco de uma vez para não ter que responder àquilo. Coloquei o copo na pia e segui-a com passos apressados pelo corredor que levava para o incrível jardim dos fundos.

E, quando ia puxar assunto com ela sobre papai, a surpresa me tomou e cobri a boca com as mãos, pulando, empolgada.

Todos os meus amigos estavam lá, meus tios, meus avós. Todos! Minha mãe se virou para mim, sorrindo e me abraçou pela cintura, caminhando ao meu lado para o interior daqueles abraços cheios de amor.

Mônica foi a primeira a se jogar em meus braços. Levantei-a do chão, impressionada com como tinha crescido e mudado drasticamente o estilo, o que provavelmente desagradava à mãe, minha tia Emily, sempre tão delicada em tudo que fazia.

Depois que meus tios me cumprimentaram, foi a vez de Alana, que tinha se tornado uma verdadeira patricinha, inclusive segurava uma cadela, que ela me contou que se chamava Poly, em seus braços. O abraço dela não foi tão caloroso quanto o de meu avô paterno, que também não chegou aos pés do abraço duplo de meus avós maternos.

- Gostou, querida? – meu pai perguntou e o agarrei pelo pescoço, querendo gritar que sim, mas mal conseguindo com toda aquela linda coisa.

E eu enfim provaria um churrasco verdadeiro depois de tantos anos comendo o que os americanos chamam de churrasco!

- Mamãe? – chamei-a, notando a ausência de meu irmão. – Cadê o Mu? Ele não vai vir?

Me assustei com a decepção em meu peito, mas me acalmei quando minha mãe sorriu.

- Ele só está um pouco atrasado, está no quarto dele... eu preciso dizer que você pode ir até lá?

Ela estava com a mão apoiada na cintura, um sorrisinho escondido no canto dos lábios e dei risada, caminhando com passos saltitantes para o interior da casa, pronta para reencontrar o cara que eu não considerava tanto como um irmão, mas mais como um melhor amigo... aquele para quem eu podia e conseguia contar tudo, partilhar tudo, perguntar tudo.

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Oi, pessoal! Voltei com a história, espero que continuem por aí hahahahah <3

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