Capítulo 30 / MURILO

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Estou afundando e desta vez temo que não haja ninguém pra me salvar. Esse tudo ou nada realmente me deixa louco, eu preciso de alguém para curar.

Someone you loved, Lewis Capaldi.

*

Danilo e eu estávamos sentados no chão de seu quarto, rachando uma pizza depois de um dia tão estressante como qualquer dia de provas conseguia ser.

Júlia havia lido a carta há algumas semanas e, por mais impressionante que pudesse ser, as coisas em casa mantiveram-se na mais completa paz, ela não se afastou daquela vez, ainda invadia meu quarto todas as noites, para que ao raiar do sol eu a colocasse de volta em sua cama.

Nos encontrávamos depois das aulas, antes que eu tivesse que assumir meu posto cada vez mais complicado na empresa e nos encontrávamos todas as noites, compartilhando doces e filmes em telas de celular, noites de amor, de carícia e de sexo.

Para mim estava ótimo, contanto que sempre fôssemos nós, contanto que a família toda não precisasse saber e, principalmente, arranjar motivo para nos julgar.

— Ainda não consigo acreditar que Bruno foi capaz de afastar vocês dois.

Danilo deu de ombros, enfiando um pedaço de pizza na boca, mas o silêncio e a comilança o entregavam. Ele estava irritado e chateado. Danilo finalmente tinha tomado a atitude de pedir Mônica em namoro, mas nunca imaginou que ao conversar com Bruno sobre relacionamento sério, o levaria ao rompimento quase que obrigatório.

— Eu amo sua prima — ele alegou de boca cheia. — Quis fazer tudo certo e perdi ela... nem fui um homem capaz de lutar por minha princesa.

— Ei, cara — dei um soco leve em seu ombro. — Você é melhor que isso. Você é o cara mais bacana que já conheci.

— Você é meu melhor amigo — ele olhou na direção da janela, deitando-se no chão. — Não tem credibilidade nenhuma.

— Na verdade minha credibilidade é enorme... com você, a família... eu posso tentar ajudar.

— Eu acho que forçar só pioraria — soltou com um suspiro.

— Você tá se fechando de novo nos seus problemas do passado — argumentei, pegando mais um pedaço de pizza. — Sei como as coisas foram difíceis lá atrás e como elas te afetam aqui... eu sei de tudo, esqueceu?

Ele soltou uma risada amarga, provavelmente as lembranças o pegando naquele momento.

— Ainda bem que não sou o único.

— Alguma vez contou pra Mônica sobre isso tudo? — perguntei, procurando seu rosto na semi escuridão.

— Não queria assustá-la, cara. Não com essa história.

Danilo fechou os olhos, o rosto ganhando uma cor vermelha.

— Porque acha que fui um babaca da primeira vez? — continuou. — Queria vê-la livre e longe desse caos... mas aí eu percebi que simplesmente não conseguia me afastar dela... ela... a Mônica... me faz bem demais.

— Você pode falar que ama ela, sabia? — tentei fazer uma piada.

E entre o choro firme de meu amigo, ouvi sua risada rouca.

— Ainda não posso falar em voz alta, porque ela ainda não sabe.

Apesar de rir de sua tentativa falha de graça, aquilo pesou em meu peito, porque sabia que meu amigo merecia ser feliz e, acima de tudo, finalmente viver em paz e livre de tudo aquilo que já o corroeu.

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