Capítulo 34 / JÚLIA

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Entrar em casa depois de ter todas as verdades em meus ombros foi difícil, assim que entrei minha mãe correu na minha direção, me tomando em seus braços como se eu ainda fosse a adolescente que sairia de casa para estudar. Eu sabia que os sentimentos dela estavam em tanto conflito quanto os meus, por isso recebi o abraço de bom grado, compartilhando da confusão e do choro silencioso.

Ela não estava pronta para me deixar e eu não estava pronta para deixá-la para trás daquele jeito. Atrás dela, meu pai assistia à cena, os olhos vermelhos e os cabelos despenteados. Não consegui evitar quando ele nos abraçou ao mesmo tempo, assim como não consegui não notar a forma como minha mãe ficou tensa, sabia que havia muito entre eles.

Assim que nos afastamos, não contive minhas palavras que, devido ao momento, não foram nada gentis.

— Então eu vou esse final de semana, hein?

Nem tentei sorrir, sabia que forçar não adiantaria nada. Meu pai desviou o olhar e minha mãe conseguiu sorrir, mesmo em meio às lágrimas, seus grandes olhos verdes reluziam na minha direção.

— Nós vamos — ela me corrigiu e continuou falando diante da minha testa franzida. — Já conversei com seus avós, eles já ajudaram a encontrar uma residência por lá. Não quero me afastar de você de novo.

— Ah, mãe.

Nos abraçamos de novo, dessa vez perdidas em gargalhadas emocionadas. Aquilo era mais que uma prova de amor. Um presente que não esperei, que sequer imaginei.

Mas que até aquele momento não tinha ideia de que tudo de que precisava era daquilo: de uma companhia que me proporcionasse tanta tranquilidade e segurança.

*

Meu pai explicou o planejamento do que parecia mais uma fuga do que uma mudança, ele havia comprado passagens em nossos nomes para um país distante e pequeno, divulgou uma nota de expansão dos seus negócios e das causas de mamãe que, em poucos horas, repercutiu o país.

Iríamos para a casa da tia Cate, onde passaríamos a noite e apenas no dia seguinte, naquele domingo, iríamos pegar um avião particular de Bruno com destino a uma cidade próxima a verdadeira cidade que moraríamos na Argentina.

A cabeça daquele homem funcionava de formas exorbitantes, até no método de compra da casa na Argentina ele havia pensado e trabalhado. Sinceramente o fato de ele não saber de fato quem era por trás daquele ataque me surpreendia.

No meio da noite, as malas de viagem pareciam fantasmas para me assombrar do meu futuro inevitável, suspirei, encarando o reflexo da lua na minha aliança. Gostaria de sentir que meu relacionamento com Murilo estava tão tranquilo quanto a joia repousada em meu dedo, mas sabia que não e meu peito doía.

Meus devaneios foram interrompidos com a porta do meu quarto lentamente se abrindo, deixando-me imediatamente tensa com a possibilidade de ser quem me atacava aquele tempo todo, apesar da segurança reforçada.

Murilo fechou a porta atrás de si e passou a chave, me acalmando, ergui um lado do edredom e ele sorriu para mim. As coisas estavam esquisitas, mas ainda éramos nós. Meu coração ainda se acelerava com sua presença, meu corpo reagia ao seu.

Automaticamente, nossas pernas e braços se enroscaram enquanto deitávamos um de frente pro outro. Os olhos azuis dele brilhavam, os lábios estavam vermelhos, assim como o rosto.

— Você veio terminar comigo? — queria que parecesse uma brincadeira, mas minha voz saiu em um sussurro, o medo evidente.

— Eu jamais faria isso.

Alívio tomou o meu peito, mas… não alcançou meu lado racional, não acho que aquilo funcionaria à distância, não quando não sabíamos quanto tempo aquilo duraria e duvidava que Henrique fosse nos permitir visitas.

— Eu acho que...

— Também tentei pensar em soluções — ele me interrompeu, me fazendo saber que provavelmente tínhamos chegado à mesma conclusão.

Não havia muito a ser dito em um momento como aquele, nossos olhares concordaram entre si, a tensão em nosso corpo aumentou.

— Não espere por mim — soltei, não querendo que ele se prendesse aquele possibilidade sem data marcada.

Ele tentou me oferecer seu melhor sorriso, mas eu sabia que compartilhávamos do mesmo oco em forma de sentimentos.

— Eu vou tentar.

Soltei uma risada, apoiando meu rosto em seu pescoço e beijando-o.

— Vou sentir sua falta — sussurrei, beijando-o de novo e sentindo a reação em seu corpo.

Imediatamente passei a perna em volta de seu quadril, virando-o de costas na cama e tomando seus lábios nos meus. Aquele beijo foi lento, como se quiséssemos descobrir mais coisas que não conhecíamos um do outro. Ele afastou meus cabelos pro lado e eu apoiei mais do meu quadril no seu, arrancando um som abafado de seus lábios que só me incentivou a continuar.

O beijo se tornou mais rápido e urgente, nossos toques mais firmes, em lugares mais provocativos. Os dentes o ajudaram no beijo, puxando meu lábio inferior e me arrancando suspiros enquanto, como ele, eu tentava demonstrar a saudade que sentiria. Continuamos a nos beijar como se fosse a última vez.

E, de certa forma, talvez realmente fosse.

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