JÚLIA
— Você parece nervosa — constatou minha mãe, apoiando a taça de vinho no balcão da cozinha.
Como todas as noites, estávamos cozinhando juntas, para assistirmos um filme e finalmente deixar o cansaço nos levar ao sono, já que sozinha não conseguíamos.
Soltei um sorriso tenso, preocupada que ela pudesse ler meus pensamentos nas minhas próximas ações. Eu não dormia mais a noite, usava a tarde para descansar, enquanto à noite montava minha cama com um falso volume que pudesse parecer alguém dormindo, enquanto eu me escondia, esperando que ele invadisse, como já tinha feito algumas vezes.
Apenas Olívia tinha consciência do meu plano e, claro, me atormentava todos os dias para que eu desistisse da ideia “louca” conforme suas palavras.
— Não é…
— Não venha me dizer que não é nada — minha mãe riu ao me interromper, adivinhando o que escaparia de meus lábios.
Lábios mentirosos.
— Faz mais ou menos uma semana que seus olhos estão desfocados, sabe — ela murmurou, rodando a ponta do dedo na borda da taça, me observando com atentos olhos verdes.
Dei de ombros, engolindo em seco e buscando uma desculpa que também era verdade.
— Estou com saudades.
Ela engoliu em seco, acenando em positivo e afastando-se para conferir a carne.
Mas nós sabíamos que ainda faltava muito tempo para que a comida ficasse pronta. Agatha sempre agia daquele jeito quando o assunto vinha à tona, estávamos mais próximas do que nunca, então conhecíamos nossos meios de escape, nossos olhares de saudades e nossas ações para esconder o que todo aquele tempo longe nos causava.
Fazia três anos que eu não via e nem falava com Murilo e fazia seis meses que não via e não falava com meu pai. Não conseguia imaginar o que seis meses distantes do homem que você amava e com quem era casada podia causar a sua cabeça e coração.
E era com isso que eu queria acabar.
Depois que o jantar ficou pronto, nos acomodamos no sofá com um filme que já tínhamos assistido milhares de vezes, mas adorávamos, sobre duas melhores amigas que queriam ter o casamento na mesma data, a gente compartilhava risadas nas mesmas cenas e se empolgava ao mesmo tempo, mesmo já tendo visto as mesmas cenas tantas vezes.
Não demorou muito para que minha mãe começasse a cochilar com os pés apoiados no meu colo. Meu coração acelerou, ansiosa para colocá-la na cama e correr para o meu quarto.
— Mamãe, vá dormir na cama — murmurei, em uma real tentativa de deixar minha voz soar tranquila e não desesperada como eu realmente estava.
— Ah, meu Deus — ela soltou um risinho. — Eu sempre caio no sono, não é mesmo?
Ela se levantou, se espreguiçando e bocejando. Acenei em positivo, incapaz de colocar em palavras, com medo de me entregar, ela me conhecia bem demais.— Boa noite, querida — ela se aproximou e depositou um beijo em minha cabeça. — E até amanhã.
— Até, mamãe.
Engoli em seco, com medo que na verdade eu tinha medo que aquele fosse um adeus. Adeus, mamãe.
*
Não sentia sono, tinha me esforçado durante o dia para sequer correr esse risco, mas a adrenalina me manteve acordada, parcialmente escondida entre o pé da minha cama e uma estante, ou seja, se o perseguidor tentasse invadir o quarto da janela, não me veria até que fosse tarde demais, até que eu pudesse estar em cima dele e atacá-lo.
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Apenas Amor
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