JÚLIA
A dor era lancinante e abrir os olhos parecia uma realidade distante para o colapso em meu corpo. Dores na nuca, dor forte na cabeça, sensação de inchaço no rosto e um aperto na garganta.
Antes de ousar abrir os olhos, as memórias me invadiram, os machucados na minha cabeça fizeram sentido, as dores na testa também, os olhos de Roberto eram a parte mais assustadora e a memória da voz de minha mãe antes do meu desmaio era agonizante.
Lambi os lábios com dificuldade, minha boca estava seca e ousei, enfim, abrir os olhos. Branco, tudo ao meu redor era branco, finalmente ouvi os infinitos "pis" e consegui sentir os fios ligados aos meus braços, respirei fundo ao constatar que era um hospital e não um cativeiro.
Antes que eu pudesse girar a cabeça em busca de alguém, os olhos verdes de meu pai invadiram o meu raio de visão e, em meio as lágrimas que rolaram repentinamente, um sorriso preencheu meu rosto.
— Oi, querida.
Eu nunca tinha visto meu pai chorar, mas ali estavam as lágrimas em seu rosto quando ele apoiou a cabeça na minha barriga, ainda sentado em sua poltrona ao lado de minha maca.
O choro era de alívio, saudade e medo; e era audível, tanto quanto minhas lágrimas eram silenciosas.
— A mamãe? — perguntei depois do que pareceu uma eternidade.
— Ela está no outro quarto, com os policiais.
Minhas sobrancelhas se enrrugaram, minha memória não ajudava e Henrique provavelmente notou minha confusão, pois se endireitou na poltrona e limpou os olhos, pronto para falar.
— Ela… atirou nele e ele veio a óbito.
O choque percorreu meu corpo e, de maneira assustadora, o alívio também. Porque aquele terrível fato possível e finalmente significava paz.
Respirei fundo, olhando pela janela do quarto, a vida lá fora continuava, pessoas iam e vinham à pé, em seus carros, em ônibus.
— Ah — consegui murmurar, falando muito menos do que realmente sentia.
— Querida, eu sinto muito — meu pai se levantou, sentando-se na ponta da maca, ao lado dos meus pés.
Acenei em positivo, apenas como se dissesse que estava escutando.
Meus sentimentos eram pura confusão.
Me sentia traída, usada, como se todos aqueles anos ao lado de Roberto indicassem uma ameaça vasta. Tantos anos ao lado dele, para só depois ele me perseguir demonstrava o quão insano ele era, como ele gostava da perseguição.
— Eu não entendo — dei de ombros, ainda com a boca seca, as dores cada vez mais fortes. — Está doendo.
Não consegui conter as lágrimas e nem o choro, Henrique pressionou meu tornozelo, como que para indicar que estava lá, que entendia.
— Agora eu sei como se sentiram. Eles são doentes — disse entredentes, ao me referir ao passado deles, àquele ataque. — Eu quero ver minha mãe.
Meu pai acenou em positivo.
— E você vai — ele confirmou com voz embargada. — Mas antes precisa descansar, vocês duas precisam.
— Não, eu não quero — balancei a cabeça com veemência.
Ergui meu corpo, tentando me sentar, mas meu pai me alcançou em uma longa passada, empurrando meus ombros com delicadeza, me induzindo a deitar.
— Não! — o desespero se misturava as sensações atuais.
O som que media meus batimentos cardíacos acelerou e eu respirava com dificuldade.
Enfermeiras entraram no quarto, mas eu não as ouvia no turbilhão que minha mente estava, meu pai ainda me segurava, enquanto eu esperneava como uma criança querendo o colo da mãe.
E, antes que tudo se apagasse, constatei que era o que eu realmente queria.
MURILO
Acompanhar as notícias a distância era agonizante, mas não mais que acompanhar as imagens da câmera de seu notebook, vê-la lutando, enfrentando-o.
A única coisa que mantinha minha cabeça distante daquela aflição era o trabalho, enquanto meu pai estava fora, a empresa ficou sob minha responsabilidade, várias reuniões, teleconferências, encontros com clientes e relatórios a serem analisados.
E quando o serviço acabava, eu me via caminhando para a ala escondida da empresa, permanecendo com as pesquisas das possíveis localizações de possíveis novos perseguidores.
As mensagem tanto sobre notícias quanto sobre preocupações pipocavam em meu celular, mas eu as ignorava, lê-las, em um momento como aquele, só me deixaria com a ansiedade a mil, mergulhando naquele poço profundo do qual apenas a luz dela me ajudou a sair.
Até meu tio biológico, com quem eu costumava tomar café da tarde aos domingos, me enviava mensagens ansioso por novas notícias.
Eu mal podia esperar o momento em que finalmente a veria, a tocaria e a abraçaria com a sensação de que tudo estava de volta no lugar, ainda que muito estivesse diferente.
Tê-la sanaria muitas das minhas preocupações, meu silêncio não ia durar, nem a aflição, nem a ansiedade.
Eu só precisava vê-la para garantir que tudo estava realmente bem.
***
Oi, pessoal, como estão?!?! Me contem suas impressões e o que acham que está por vir nos próximos capítulos. Estamos na reta final dessa trilogia que ganhou meu coração 😔😭 mas espero encontrá-los no meu próximo projeto 💛🌸

VOCÊ ESTÁ LENDO
Apenas Amor
RomanceSÉRIE APENAS - LIVRO 3 Link 1: https://www.wattpad.com/story/27147132-apenas-meu Link 2: https://www.wattpad.com/story/39259410-apenas-dele ATENÇÃO! Contém cenas de conteúdo adulto (+18) Júlia e Murilo sempre foram tratados como irmãos, apesar de, d...