— Você nunca fez nada... meio que fora da linha? - Olívia perguntou, enrugando o nariz.
Sorri, ainda encabulada por, apesar de ter minhas experiências, elas serem completamente normais em vista das experiências de minha melhor amiga. Ela voltou os olhos ao redor, procurando pela porta adequada.
— Tá bom, entendi - continuou a caminhar pela cozinha, reunindo ingredientes para fazer um brigadeiro.
Olívia e eu éramos assim, quando alguma emergência surgia em nossas vidas, preparávamos um brigadeiro para discutir sobre o assunto e conseguirmos chegar a possíveis resoluções do problema do momento. Que funcionassem ou não. Na maioria das vezes nada era resolvido.
— Bom, você já deve ter notado que... não me vê suspirando por alguém em especial ou... comentando só sobre meninos - ela frisou a palavra, finalmente jogando tudo sobre o balcão ao lado do fogão.
O comentário atraiu minha atenção e, pacientemente, ela esperou que eu notasse algo nas entrelinhas. Busquei em minhas memórias as nossas conversas por aplicativo ou pessoalmente. Busquei seus olhares, seus comentários, seus sorrisinhos... Ah, não...
— Você é lésbica? - me exasperei, os olhos arregalados. — Como eu nunca percebi?
Ela riu, se divertindo. — Não sou lésbica, sou bissexual.
Acenei em positivo, tentando encaixar as peças, espera aí...
— Então quando você... às vezes... elogia algumas meninas da faculdade...
— É com genuíno interesse - Olívia deu de ombros, movimentando seus espessos cabelos negros. — Continuando no ponto da questão... dá para perceber que já fiz coisas fora da linha heteronormativa. Então... eu sou super liberal, mente aberta e sempre tento aprender mais e me atualizar mais nas descobertas desse mundo.
— Você devia focar nisso na sua carreira - comentei, agora me apoiando em meu cotovelo, olhando-a cozinhar. — As pessoas dessa comunidade precisam...
— Não adianta fugir do assunto principal, Júlia Salazzar DeLucca!
Ergui os braços em sinal de rendição, deixando-a continuar. Sempre que Olívia me chamava pelo nome completo, sabia que algo grandioso viria dali. Ou que ela simplesmente estava me dando uma broca das boas.
— Sempre é esquisito no início, a gente se sente meio fora de órbita, achando que não gostou... mas na verdade é porque não tem comparação, não temos base para saber, de cara, se gostamos ou não daquilo. A primeira coisa que acontece é estranhar - ela suspirou, virando-se na minha direção enquanto preparava uma panela. — É completamente natural que aconteça.
Concordei com a cabeça, aguardando que ela continuasse.
Olívia soltou a caixa de leite condensado na qual estava agora concentrada em abrir e suspirou, virando-se na finalmente minha direção. Seus dedos longos esbarraram nos meus, segurando-os; em uma clara tentativa de me passar segurança.
— Quando eu beijei uma garota pela primeira vez, a primeira coisa que fiz foi mascar um chiclete de menta... porque não achei certo. Mas só porque fui ensinada assim... na TV, nas ruas, nos filmes, na vida real... eu só via e convivia com casais héteros... mas... - agora seus olhos encaravam os meus, sérios. — Eu sabia que tinha gostado, só estava assustada por saber daquilo e no que tudo aquilo implicava.
Aquiesci com a cabeça, compreendendo completamente.
— Então você acha que estou assustada?
— Você beijou o cara que te ensinaram a olhar como seu irmão. Mas que não é. - naquele momento ela apertou ainda mais minhas mãos, me transmitindo uma calma que mais ninguém naquele país vinha conseguindo, a não ser por ele. — Eu não me afastaria... eu, na verdade, testaria. Foi isso que fiz. - Ela deu uma piscadela, enrubescendo em seguida, provavelmente pelas memórias.
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Apenas Amor
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