Júlia parecia prestes a fugir da festa, os olhos estavam delineados, os lábios pintados de vermelho e ela ficava ridiculamente fofa com aquele chapéu rosa cintilante, o que não combinava muito com sua roupa: Jeans justo, barriga exposta e uma blusa cropped que mostrava mais do que devia, na minha sincera opinião. Mas não deixei de admirá-la, relembrando das sensações de quando estávamos juntos. Engoli em seco.
— Só estava indo tomar um ar - ela respondeu depois de um tempo, mordendo o lábio inferior.
— Você acha que eu não sei quando está mentindo?
Reergui os vários pacotes de cerveja, indicando a casa barulhenta com a cabeça atrás dela.
— Vamos voltar, está frio aqui fora.
— Eu só vou...
— Vamos. É seu primeiro aniversário desde que voltou. Danilo desgruda da Mônica daqui a pouco.
Ela riu e, relutantemente, me seguiu para dentro.
Todo aquele tempo afastado pairava ao nosso redor, nos fazendo ficar mais tensos quanto mais tempo um com o outro, enquanto guardávamos todas aquelas cervejas na geladeira da enorme casa do primo de Danilo.
Sua presença mexia cada vez mais com meus sentidos. A razão gritava que não era certo, o coração insistia em se aproximar e todo aquele prazer acumulado só fazia com que eu a tocasse disfarçadamente, esbarrando nossos dedos quando ela me entregava as garrafas; tocando seu ombro em um pedido silencioso de licença, ainda com os dedos gelados pelas garrafas.
Quando terminamos e Júlia fez menção de se afastar de mim, segurei-a pelo cotovelo, sem puxá-la, sem apertá-la, esperando que ela decidisse. Eu não podia mais tomar as atitudes daquela situação sozinho. Queria vê-la tentando, querendo, reagindo a mim, da mesma forma que eu reagia à ela.
— O que é? - ela perguntou, mantendo uma distância razoável e casualmente olhando ao redor.
— Eu queria dançar com você - soltei com sinceridade, nem olhando ao redor, apenas encarando aquele lindo rosto tão perto de mim.
Não tinha bebido quase nada, mas sentia-me embriagado por sua presença e calor. Júlia engoliu em seco, os olhos passando brevemente por meus lábios e não evitei sorrir.
— Mas você sabe que aqui é impossível - algo dançou em seus olhos. — e além do mais... você terminou comigo - sibilou a palavra em um sussurro ameaçador.
Ela afastou o braço da minha mão, puxando-o bruscamente.
Ela estava em seu completo direito, mas esperei quando ela avançou pros fundos da casa, abri uma cerveja e depois de alguns minutos a acompanhei. A bagunça na sala continuava a todo vapor. Agora uma turma tinha feito um grande círculo em torno de uma garrafa e eu já sabia o que surgiria daquilo. Também já tinha participado mais vezes do que conseguiria contar daquela brincadeira. E naquele momento, depois de tanto tempo sem extravasar e sem sexo, minha vontade era de me sentar lá e participar do que eu já conhecia de cor.
Mas aquela ruiva...
Ela sempre entrava nos meus planos que pareciam simples e complicava tudo.
Achei que tínhamos concordado. Achei que conseguiria dar as costas a todas aquelas loucas sensações. Achei que o que tinha me magoado era só por causa dela... mas também me dizia respeito. Eu tinha virado um bundão, um cara que sequer conseguia correr atrás do que queria, assumir o que queria, seguir pelo caminho que queria.
Mas também entendia que eu precisava ver mais claramente que ela também queria o mesmo que eu. O vento frio me atingiu, arrepiando meus braços. Enquanto tomava um longo gole da cerveja, avistei Júlia nos fundos da casa, emergida na escuridão da área da churrasqueira.
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Apenas Amor
Roman d'amourSÉRIE APENAS - LIVRO 3 Link 1: https://www.wattpad.com/story/27147132-apenas-meu Link 2: https://www.wattpad.com/story/39259410-apenas-dele ATENÇÃO! Contém cenas de conteúdo adulto (+18) Júlia e Murilo sempre foram tratados como irmãos, apesar de, d...