Não havia nada melhor do que resolver minhas brigas com Murilo. Sempre nos demos tão bem, nos entendendo com um olhar, nos apoiando nos momentos difíceis. E apesar de tantos anos literalmente separados, nada havia mudado.
Eu sempre odiei motos. Na época de meu namoro com Roberto tinha feito o pobre coitado trocar sua moto por um carro, no qual ajudei com a compra - afinal, iríamos nos casar em breve, o que tornaria o bem nosso. Mas eu amava Murilo e confiava em sua direção.
O que não me impedia de me agarrar com força em sua jaqueta de couro, com medo a cada curva, tensa a cada freada que me parecia brusca demais.
Quando finalmente pude descer da moto, arranquei o capacete com pressa, ainda trêmula. Ao ver Murilo descendo da mesma após estacionar, me perguntei se o tremor se devia ao passeio naquela máquina completamente desprotegida ou... à ele.
Ele estava rindo, exatamente gargalhando enquanto pegava os capacetes e os amarrava a roda de trás junto ao cadeado minúsculo que não me parecia nada seguro para aquela cidade.
— Você realmente tem medo - ele balançou a cabeça, caminhando na minha direção.
Estendeu as mãos e passou entre meus fios de cabelo, desembaraçando-os.
— Tem certeza que quer entrar? - perguntou, agora com meu rosto entre suas mãos quentes.
Acenei em positivo com um sorriso. Qualquer coisa pra fugir da rotina monótona ou das noites sem dormir.
— Qualquer coisa pra estarmos juntos - dei de ombros, virando meu rosto pro lado e beijando a palma de sua mão.
Murilo ficou estático, como se não devêssemos... e a favor de todas as coisas certas, não devíamos mesmo. Mas ainda assim abracei-o pela cintura, apoiando minha cabeça em seu peito. Demorou um pouco, mas ele me envolveu com seus braços, apertando-me em seu calor.
— Não se afasta mais assim de mim... só conversa comigo, tá bom? - perguntei, erguendo a cabeça e apoiando meu queixo em seu peito para conseguir fitar seus olhos.
Ele sorriu com um brilho nos olhos e me deu um beijo na testa. - Prometo - falou sem afastar os lábios da minha pele, me provocando arrepios.
Entramos no orfanato de mãos dadas, sendo recepcionados por uma idosa que fez questão de se levantar e cumprimentar Murilo, que se abaixou, recebendo o beijo no rosto.
— Esta é Júlia - ele me apresentou.
A senhorinha simpática também me cumprimentou com um beijo no rosto, não demorando a nos servir cafés e abrir um recipiente com biscoitos doces. Enquanto as crianças não saiam de suas atividades de rotina, ataquei os biscoitos e o café.
— Elas estão vindo aí - a recepcionista ergueu a cabeça branca, nos avisando.
Murilo se ergueu, claramente ansioso. Tirou a jaqueta e a deixou na cadeira, caminhando até os fundos do local. Eu fiquei parada, meio nervosa, meio sem saber o que fazer caso aquelas crianças corressem na minha direção, nunca tinha testado minhas habilidades com elas.
— Pode ir - a senhorinha da recepção me encorajou com um largo sorriso. - eles podem ficar nervosos de imediato, mas gostam tanto do Murilo que gostarão de você instantaneamente.
Sorri, um pouco mais relaxada e agradeci antes de seguir pelo corredor parcialmente escuro e apertado, com uma porta a direita e outra à esquerda; e a última ao fundo, indicando o largo quintal com gramado, brinquedos e áreas de terra.
Os fundos eram ladeados com telas de ferro protetoras, provavelmente para impedir que brinquedos caíssem em terrenos vizinhos.
As crianças já estavam ao redor de Murilo, que tinha se sentado ao chão de pernas cruzadas. Ele estava com um sorriso largo, o qual ele pouco mostrara nos últimos dias, os ombros não estavam mais tensos e os olhos brilhavam.
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Apenas Amor
RomanceSÉRIE APENAS - LIVRO 3 Link 1: https://www.wattpad.com/story/27147132-apenas-meu Link 2: https://www.wattpad.com/story/39259410-apenas-dele ATENÇÃO! Contém cenas de conteúdo adulto (+18) Júlia e Murilo sempre foram tratados como irmãos, apesar de, d...