Capítulo 14 / MURILO

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A primeira vez que Júlia me ligou pela madrugada foi em seu aniversário de dezoito anos, aos prantos. Tinha bebido demais, beijado pessoas demais, feito tudo demais.

Ela chorou por estar longe, dizendo que não suportava a ideia de não me ter ao seu lado. Eu nada podia fazer, não só pela distância, mas também por como aquelas palavras me provocavam de um jeito indecente. Talvez pela idade e o desejo irrefreável que me atravessava.

Então, quando acordei naquela madrugada com seu toque especial no celular e diversas chamadas perdidas, fiquei mais preocupado que o normal. Já tenso pela memória, me lembrando da investigação de meu pai que ganhou força na semana seguinte da nossa conversa no restaurante.

Assim que atendi, ouvi a música ao fundo.

— E aí, pestinha - ela cumprimentou.

— Onde você está? - abri mão dos cumprimentos, já procurando um jeans pelo tom embargado de sua voz.

— Em uma festa, mas ela está acabando e eu... - ela suspirou. — não quero ir para casa sozinha e nem quero incomodar a Mônica, ela parece bem ocupada com o Dan.

Arqueei as sobrancelhas, intrigado com a nova informação.

— Eu te busco, me mande a localização.

Desliguei a ligação enquanto jogava a jaqueta sobre o ombro e enquanto amarrava os tênis, a mensagem com a localização chegou, mas, antes de sair, corri para meu armário e puxei a jaqueta de couro para Júlia.

Uma mania, apenas uma mania protetora. Repetia para mim mesmo.

Não foi difícil alcançar o endereço na cidade sem movimento pela madrugada. Ela estava com um pé apoiado na parede atrás de si, a casa atrás dela tinha resquícios de fim de festa, alguns casais pelo gramado, outros na varanda e uma música baixa soando do interior da casa de dois andares.

Júlia ergueu os olhos quando ouviu a moto e caminhou na minha direção.

— Onde a Mônica está? - perguntei após vê-la segura e com os olhos vermelhos de... sono? Choro?

— Ela está com Dan, está tudo bem com ela - Júlia sorriu, já pegando a jaqueta que eu estendia.

Certamente jeans e top não contribuiam em nada para inibir o frio da madrugada.

— Ela até foi com ele por livre e espontânea vontade - deu de ombros, rindo provavelmente pelas memórias.

— Espera... - estendi o capacete, amarrando-o sob seu queixo. — foi? Foi para onde?

Ela arregalou os olhos, como se tivesse falado demais.

— Sua vez de confiar em mim - ela sorriu, com a cabeça pesando para o lado. — Me leve para algum lugar com você - pediu.

Engoli todas as perguntas quanto a Mônica e Danilo. Ele era meu melhor amigo, podia cuidar de si mesmo e de minha prima. E, com toda a educação que tinha recebido de sua mãe, duvidava que fosse passar dos limites de formas erradas.

No momento que suas pernas ficaram em torno das minhas e que suas mãos se enfiaram sob minha jaqueta, perdi toda a criatividade. Tudo em que eu podia pensar era Júlia e tudo que eu queria fazer era estar com Júlia.

Meu pai não tinha mais tocado no assunto sobre termos de nos afastar, parecia convencido que tinha dado certo ou... fingia que acreditava naquilo.

Acelerei a moto, o que fez com que ela colasse o corpo contra o meu.

Não sabia para onde levá-la, não era e nunca tinha sido criativo. Mas tinha um lugar naquela cidade que valia a pena, não tão longe dali, mas certamente reservado àquele horário do dia.

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