Podia ouvir a voz de meu pai enquanto subia até o apartamento de Júlia, sendo acolhido pelo seu cheiro em todos os lugares, pelo calor da sua mão ainda na minha, enquanto ela praticamente sumia dentro de minha jaqueta.
Podia ver minha mãe estreitando aqueles olhos verdes na minha direção, me fazendo temê-la mais ainda. Me fazendo duvidar ainda mais por estar seguindo sentidos meus que provavelmente deveria estar ignorando.
Eu queria que eles soubessem que eu sabia que estava errando, que devia sim me afastar o máximo possível de Júlia. Que devia tê-la simplesmente deixado na porta do prédio ou, melhor, nem tê-la levado comigo no dia de visita do orfanato.
Ignorei todas as chamadas e mensagens de meu pai, que insistia em perguntar porque eu não tinha comparecido na empresa para entender os relatórios errôneos que eu tinha emitido.
Júlia acendeu a luz da cozinha, deixando o resto do apartamento caindo nas sombras.
— Está com fome? Posso fazer algo...
— Eu peço algo pra comermos, o que acha? - propus, tentando soar o mais corriqueiro possível.
Cerrei os punhos, me impedindo de afastar aquela maldita mecha de cabelo que insistia em cobrir um de seus olhos.
— Pode ser - ela deu de ombros com um sorriso, parecendo igualmente nervosa.
Ela saiu caminhando na direção do quarto, coçando a cabeça, quase encabulada. Fiquei na sala, zapeando pelos canais da TV depois de fazer o pedido de comida japonesa, aguardando seu retorno - com mais ansiedade que eu julgava ser possível.
Depois do que pareceram horas, Júlia apareceu na cozinha, com os cabelos úmidos em torno dos ombros, uma babydoll cor-de-ouro, segurando uma manta e dois travesseiros nos braços curtos.
Depois de admirá-la mais do que devia naquele pijama, corri para ajudá-la, levando tudo para um único sofá, afinal... ela só estava com uma manta.
— Papai falou algo? - perguntou, se aconchegando longe de mim, só os pés estavam próximos da minha perna, que balançava rápido demais, evidenciando meu nervosismo.
— Escolhi não ler as mensagens - confidenciei, ainda fingindo estar vidrado na tela da TV, claramente sem entender nada.
Me empertiguei todo quando senti que Júlia se aproximava sorrateiramente pelo sofá, seus pés passaram sobre minhas pernas e ela se enfiou sob meu braço esquerdo, aconchegando a cabeça em meu ombro.
Virei meu rosto na direção do seu, conseguindo distinguir os tons de verde de seus olhos. Ela sorriu, as bochechas estavam vermelhas.
— Ele pediu para você se afastar de mim?
— Ele... falou para eu resolver - sussurrei, como se falar em voz alta fosse quebrar o encanto daquele momento. - e eu achei melhor me afastar por completo.
Ela acenou em positivo, ainda me olhando, ainda aninhada na lateral do meu corpo. Seus olhos, apesar de estarem fixos nos meus, pareciam perdidos em seus próprios pensamentos.
— Eu também não queria, ok? Achei que quando eu me mudasse... tudo isso fosse mudar - Júlia suspirou e apoiou a mão em meu peito. - Achei que se devia ao momento em que todo mundo acha que quer beijar alguém.
— Então você quer me beijar? - a pergunta pegou a nós dois de surpresa.
Talvez aquele meu jeito de flertar com qualquer mulher tivesse me levado àquilo, mas não me arrependia da pergunta, era sincera... e, mais do que nunca, eu queria a resposta.
Quando Júlia enfim abriu os lábios para responder, o interfone tocou, nos tirando de nossa bolha. Ela apertou os olhos, quase como se quisesse ignorar, mas foi mesmo assim até o interfone, atendeu e avisou que já iria descer.
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Apenas Amor
RomanceSÉRIE APENAS - LIVRO 3 Link 1: https://www.wattpad.com/story/27147132-apenas-meu Link 2: https://www.wattpad.com/story/39259410-apenas-dele ATENÇÃO! Contém cenas de conteúdo adulto (+18) Júlia e Murilo sempre foram tratados como irmãos, apesar de, d...