Capítulo 28 / MURILO

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E eu esperaria mil anos só para ouvir você dizer meu nome de novo.

1,000 years, Liza Anne.

*

Júlia e eu conseguimos nos manter naquele ritmo por um bom tempo antes da minha conversa com meu pai. O escritório estava mais tenso que o habitual naquele dia e, antes que eu sequer me sentasse em minha mesa, sua secretária me pediu para ir até a sala dele.

Não tínhamos nos falado desde a descoberta e, sinceramente, eu temia aquela conversa e na discussão em que ela poderia se transformar.

— Entre — meu pai pediu quando bati à porta. — Tranque-a, por favor.

Ele sequer levantou os olhos quando me sentei desconfortavelmente em uma das cadeiras à sua frente. Algo tinha se rompido entre nós, sempre tínhamos construído um valor de amizade maior que tudo, eu o tinha como um guardião e alguém que eu precisaria cuidar.

Mas parecia que para ter algo de bom em minha vida, teria de abrir mão de outras muitas coisas e aparentemente isso incluía o amor dele como pai por mim.

— Eu tenho uma notícia ruim para dar — ele disse, apoiando os dedos claros na ponte do nariz. — Tem algo de muito estranho com esses ataques à Júlia.

Respirei fundo, parcialmente tranquilo e secretamente feliz por ele não se referir à ela como minha irmã.

— Quem sabia sobre essa loucura de feriado às escondidas? - Henrique perguntou, finalmente me fitando com seus olhos verdes. — Além de Mônica e aquele namoradinho, claro.

Engolindo em seco, meus ombros relaxam automaticamente. Ignorei o diminutivo em forma de insulto dirigido ao meu melhor amigo.

— Pensou que iria tomar uma reprimenda? - ele perguntou, escondendo uma gargalhada divertida. — Sua mãe pode ser bastante convincente às vezes... mas ainda não concordo com... essa relação. — A palavra pareceu pesar em sua língua.

Ele ergueu um dedo, evidenciando sua clara opinião. Acenei em positivo, tentando conter parte da minha alegria.

— Não, ninguém além de nós sabia que eu estava indo me encontrar com Júlia — dei de ombros, olhando na direção da parede de vidro de seu escritório, a paisagem de pedra se fazendo de vista.

— Mas e quanto a Mônica? Alguém sabia que ela iria com a Jú?

Me empertiguei na cadeira, interessado nas reais informações por trás de todas aquelas perguntas, a possibilidade de Júlia ainda estar em risco mesmo com a prisão do tal de Carlos me tirava dos eixos outrora tranquilos.

— O que você descobriu?

Henrique se apoiou na cadeira, encarando o teto.

— Sua mãe vai me matar por esconder isso, mas ainda não quero que ela saiba dessa informação, tenho sua palavra?

Concordei com a cabeça, aflito pela tal informação, minhas mãos já transpiravam e meu corpo estava completamente tenso.

— Parece que o tal Carlos tem um filho de aproximadamente a mesma idade de vocês... meus agentes disseram que a informação não tem nada demais, mas não conseguimos encontrar esse rapaz de jeito nenhum. Apenas seu nome, Paulo, parece — ele fez um movimento com as mãos, como se dispensasse detalhes. — Não encontramos foto, o endereço é um muquifo não mais habitado no centro da cidade em uma região afastada. Os vizinhos nunca ouviram falar em ninguém com esses nomes.

— E porque está tão inquieto?

Henrique virou o rosto na minha direção.

— Alguém da mesma idade que vocês têm mais facilidade para se infiltrar, por exemplo, na faculdade... os ataques começaram quando ela voltou para o Brasil. E, francamente, para se conseguir acesso à números pessoais e redes sociais hoje é muito fácil.

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