Capítulo 27 / JÚLIA

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Querido, aqui vou eu de novo. Por esse caminho tortuoso do pecado.

Numb, Max Jury.

*

— Eu tô com tanta inveja! — Olívia resmungou, o rosto redondo apoiado na mão em concha, os lábios voluptuosos formando um biquinho adorável.

— Inveja porque? — perguntei após beber mais um pouco do suco, observando o movimento de um dos shoppings de São Paulo.

Tinha acabado de contar para minha melhor amiga como tinha sido o feriado, o retorno e o pós retorno, com Murilo me provocando sempre que conseguia.

— De vocês dois, é claro. Ambos lindos. Meu Deus — ela se abanou, encenando. — Isso é emoção demais para bissexuais, sabe.

Dei um empurrão de leve em seu ombro, conseguindo rir e relaxar pela primeira vez desde nosso retorno. Ela sempre tinha aquele poder infalível sobre, talvez fosse por isso que eu conseguisse me abrir tão naturalmente com ela.

— Eu até entendo tudo, sabe? — Olívia continuou depois de alguns minutos, olhando distraidamente em volta. — Mas eu acho que não desperdiçaria um minuto com alguém que eu amo. E vocês se amam.

Ela deu de ombros, como se fosse um comentário bobo, mas havia um brilho em seu olhar que eu nunca saberia do que se tratava. Ela sempre foi rápida em disfarçar e retroceder o assunto para mim. E naquele momento foi exatamente o que ela, mais uma vez, fez.

— Insistir nesses pequenos momentos só vai acabar nos machucando, Liv — dei de ombros e suspirei, olhando para baixo na direção do meu suco. — Você acha que eu não queria estar lá, com ele? Mas estar com ele desse jeito não vai mudar a verdade. Não teremos futuro. Pelo menos não por agora.

— Vocês dois são bem grandinhos... dá pra aguentar um coração partido e compartilhar momentos que formarão belas lembranças — minha melhor amiga interveio, mas antes que eu pudesse responder, ela continuou: — Só pensa nisso, tá legal?

*

E eu pensei por horas, enquanto passeávamos pelo shopping, enquanto colocava minhas matérias e anotações em dia, enquanto olhava a paisagem pela janela do meu quarto - ansiando pelo momento em que ele chegaria naquela moto com a jaqueta de couro que eu conhecia de cor. Pensei enquanto jantava com minha mãe, enquanto dava boa noite aos meus pais e enquanto olhava para aquela maldita carta.

A necessidade de fazer aquilo com ele só aumentava junto a vontade de tê-lo por mais um momento, por mais uma noite. Eu achava que estava tarde demais, estava ansiosa, mal me contendo. A rede social que eu olhava sem emoção já não me era tão atrativa e esperá-lo já estava quase me fazendo cair no sono, quando finalmente ouvi o barulho de sua moto.

Mais uma vez me esgueirei até seu quarto, com meu coração acelerado e minhas mãos trêmulas, me enrolei em suas cobertas e o esperei.

A porta se abriu e Murilo acendeu a luz, seus olhos azuis me encontraram imediatamente. Ele logo trancou a porta e, com um sorriso aberto, pulou sobre mim na cama.

Sorri para ele e sua reação, sabendo o que estávamos pensando: que eu tinha desistido da ideia de manter distância.

— Não resistiu ao meu charme? — ele brincou, beijando meus lábios de leve enquanto eu sorria.

— Chama aquilo de charme? Você estava me provocando! — por alguma razão eu estava sussurrando, talvez preocupada com a possibilidade de que fossemos pegos dadas as circunstâncias.

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