Capítulo 18 / JÚLIA

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Depois do ocorrido, Carlos voltou a ficar detido, meus pais começaram a brigar mais do que o comum e consequentemente passei a me afastar não só de Murilo, mas de todo mundo.

Não era só o medo que me afligia, apesar de ele ser grande parte dos motivos pelos quais eu preferiria ficar sozinha naqueles dias. Só conseguia conversar abertamente sobre todo aquele terror com meus avós biológicos e, quando o assunto vinha à tona, eles traziam soluções acolhedoras, mas também muita tensão às conversas.

Como se tivéssemos alcançado uma fase da minha vida em que uma nova porta misteriosa poderia se abrir. E, naquele momento, depois de tantas emoções, não sabia se de fato gostaria de abri-la.

Eu sabia que encarar o teto do meu quarto não me ajudaria em nada, sabia que precisava retornar com o costume de convivência, sabia que minha família precisava da minha atenção, sabia que era injusto afastar Murilo quando foram seus olhos que me deram coragem para colocar todas aquelas aulas em prática.

Mas saber não fazia com que a vontade surgisse em meu corpo.

Vinha arrastando a faculdade há semanas, tendo plena consciência de que se continuasse daquele jeito, meus trabalhos saíriam péssimos, isso se eu concluísse alguma entrega adequadamente.

Uma batida soou a porta e remunsguei uma permissão para quem quer que fosse entrar.

Não demorou para a sensação de medo preencher cada um dos meus sentidos, me impulsionando a me sentar na cama, mantendo os olhos atentos à porta.

Minha mãe colocou a cabeça para dentro, parando de remexer os olhos quando finalmente me encontrou na cama.

— Oi, meu bem - ela fechou a porta atrás de si e senti quando o colchão cedeu com seu peso. — Não te vi no café hoje. Estou ficando preocupada.

Sua mão morna tocou meu joelho e fechei os olhos, tentando segurar as lágrimas que ameaçavam escorrer.

— Sei que não estava preparada para nada disso... nenhum de nós nunca está. - ela suspirou, aproximando-se e me tomando em seu braços. — Quer conversar? Perguntar?

Suspirei, tentando buscar um mínimo de vontade para qualquer coisa em meu interior. Me deitei no colo de minha mãe, procurando e encontrando o conforto que eu sempre sentia.

— Fiquei com tanto medo - sussurrei, deixando as lágrimas escorrerem pelas laterais do meu rosto. — Sinto muito ter me isol...

— Meu bem - ela me interrompeu delicadamente, os olhos verdes marejados me encaravam. — Não se desculpe por lidar com sua dor da forma que convém que seja melhor, tá bom?

Acenei em positivo, ainda deixando as lágrimas deslizarem suavemente. Ela passou a ponta do dedo pelo meu nariz e sorri, recordando de todas as vezes em que ela usava aquele gesto tão reconfortante.

— Eu vou te dar uma coisa... uma coisa que... - minha mãe suspirou, confusa. — Melissa adoraria que esse momento finalmente chegasse - sua voz agora estava embargada. — Seu pai implorou para que eu não fizesse, seus avós biológicos acharam que não era o momento.

Me empertiguei em seu colo, estreitando as sobrancelhas.

— Achei que você quem deveria decidir o momento certo, então nesse momento você sabe da existência dessa última carta.

Quando ela mencionou a carta, mais uma carta de minha falecida mãe, me sentei em minhas pernas, procurando pelo envelope amarelado pelo tempo guardado, como os demais estavam.

Eu amava minha mãe, Agatha. Mas manter a memória de minha mãe, aquela que faleceu com câncer, em meus dias, me dava energia para seguir, como se de alguma forma saber que ela se importava comigo em seu leito de morte me impulsionasse por meus objetivos.

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