Em todas as semanas de provas eu me torno um robô, penduro post-its pelo quarto e fico repetindo copiosamente cada uma das matérias estudadas e suas vertentes.
Meus avós maternos biológicos acabavam por não me interromper em meu quarto nos Estados Unidos, permitindo que eu estudasse até cansar ou simplesmente cair no sono sobre um livro de medicina.
Olivia estava em uma chamada de vídeo comigo quando tudo aconteceu. Talvez sua presença, mesmo que virtual, tenha sido capaz de me forçar a permanecer calma nos minutos que sucederam aquela mensagem.
A luz do sol entrava pelas grandes janelas do quarto, o vento da manhã agitava as cortinas rosas e dava para ouvir o som de carros e vozes ao longe. A vida acontecia na área residencial da grande São Paulo, de onde meus pais não tinham saído.
Nunca tinham cogitado se mudar... talvez tudo fosse diferente caso tivessem pensado em uma solução tão simples.
Enquanto lia um trecho do livro de anatomia em voz alta, com Olívia respondendo a questões básicas do outro, meu celular fez o som de mensagem. Corri para pegar o celular sem tirar os olhos do livro, ainda lendo. O som se repetiu dezenas de vezes, o que acabou por tirar minha atenção do livro e silenciar Olívia do outro lado da tela.
Corri os olhos pela tela do aparelho, com as sobrancelhas enrugadas, intrigada, mostrando cada uma da minha caixa de mensagens de cada rede social com a mesma mensagem: "você não foi levada quando era criança. mas seu momento chegou. cortinas rosas para o quarto? típico de princesinhas..."
Automaticamente me virei na direção da janela, com o celular ainda entre os dedos, um zunido forte em meus ouvidos, os ombros tensos, a garganta seca. Queria saber quem estava por trás daquilo, mas o medo ainda era maior e engolia todas as minhas ações.
Olívia gritava do outro lado, de relance conseguia visualizar seu rosto bem próximo à tela. Do outro lado da rua não havia ninguém. Rapidamente coloquei a cabeça para fora, analisando os arredores e encontrando, novamente, o nada.
Olhei novamente para as mensagens repetidas... meu e-mail, várias das redes sociais, mais de uma sms com a mensagem repetindo-se, assim como as batidas frenéticas de meu coração.
Minhas mãos tremeram. Sabia a qual noite a mensagem se referia... a noite que antecedeu tanto o coma de minha mãe quanto o casamento de meus pais. Sabia que houvera uma tentativa de sequestro à minha tia e minha mãe.
- Júlia! - o grito de Olívia me despertou do torpor.
Corri na direção do computador, como se ela estivesse ali para me segurar.
- Eu vou te mandar uns prints e você precisa guardar caso eu perca isso tudo, tá legal? - pedi com a voz trêmula, combinando com as mãos.
- O que aconteceu? - ela voltou a perguntar, os cachos espessos e escuros rodeavam seu rosto claro, o desespero não era evidente apenas em sua voz, mas também em seus olhos.
- Aquelas... mensagens de novo - tentei falar rápido ou esconder, mas Olívia ouviu e arregalou os olhos. - Aparentemente, quem enviou, sabe a cor das cortinas do meu quarto.
Apoiei a mão na testa, bagunçando o cabelo ruivo, repentinamente mais cansada que nunca. Tirar os prints foi mais complicado que o habitual e enviá-las por mensagem me custou alguns minutos, meus dedos não paravam de tremer, meu coração acelerado, até minha visão estava embaçada.
- Fale com Murilo - ela murmurou, lembrando da última vez que ele me ajudou.
Acenei em negativo.
- Sei que ele está afastado... mas talvez possa te ajudar - Olívia insistiu.
- Eu mesma vou me ajudar... vou eu mesma falar com meu pai.
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Apenas Amor
RomanceSÉRIE APENAS - LIVRO 3 Link 1: https://www.wattpad.com/story/27147132-apenas-meu Link 2: https://www.wattpad.com/story/39259410-apenas-dele ATENÇÃO! Contém cenas de conteúdo adulto (+18) Júlia e Murilo sempre foram tratados como irmãos, apesar de, d...