- E ele foi embora assim? – perguntei novamente, tentando enxergar os olhos de Júlia, que se perdiam para o nada atrás de mim.
Ela acenou em positivo. Os cabelos estavam presos, segurava uma barra de chocolate e o rosto estava inchado, mostrando o quanto tinha chorado.
- Mas... como você me contou – tentei formular uma frase coerente e me sentei em sua cama, atraindo seus lindos olhos – não deveria estar tranquila?
Ela revirou os olhos.
- Eu sei, tá legal? – ela jogou a barra de chocolate na minha direção, continuava explosiva. Eu apenas retirei um pedaço e comi, observando sua reação, parecia possessa. – Eu... eu... esperava que ele esperneasse! Que ele se desculpasse, pelo menos. – Ela chorou mais um pouco, agora com a mão na testa.
- Jú, olhe para mim – deixei a barra de chocolate ao nosso lado. – Se ele não teve a capacidade de se desculpar, certamente não era digno de dividir uma vida ao lado de uma mulher como você.
- Eu sei disso tudo, mas continua doendo... é sufocante, Mu... é sufocante.
- Tudo bem, eu sei, venha cá – estendi os braços, deixando que ela escolhesse se me abraçava ou me expulsava.
Agradeci mentalmente quando ela se encolheu em meus braços.
- Vai ficar tudo bem. Tudo na vida passa. Essa coisa que você está sentindo e não consegue dar nome vai passar também – lhe assegurei, me contorcendo para beijar sua cabeça.
- Quando você virou esse cara tão incrível? – a voz ainda estava balançada
- Quando tive de abrir mão de você – soltei, sem medir esforços e sem pensar com profundidade no que dizia, mas disse.
E, talvez por aquilo ter saído com tanta facilidade de mim, é que fosse a mais pura verdade.
Ficamos um bom tempo naquela posição, ela acabou caindo no sono e quando ouvi sua respiração finalmente suave, arrumei-a em sua cama para só então me encaminhar até meu quarto.
Naquela noite deixara de sair com Danilo para estar ali com ela, pois sabia que ela precisava de mim depois daquela mensagem que simplesmente me pedia para estar lá. Júlia tinha aquele poder sobre mim que eu não sabia nomear, que eu não entendia e que, profundamente, não queria, pois tinha medo da resposta.
- Saindo as escondidas do quarto da sua irmã? - a voz do meu pai interrompeu meus movimentos. - Achei que isso era uma fase de quando vocês tinham, sei lá, uns treze anos?
Eu sabia ao que ele estava se referindo, tivemos aquelas conversas por muito tempo, sobre como eu deveria respeitá-la e finalmente enxergá-la como parte da família. Houve um tempo que Júlia e eu éramos literalmente inseparáveis, eu insistia em dizer que era apenas uma amizade sincera, que talvez finalmente eu a enxergasse como minha irmã, mas meus pais sabiam que não... sabiam que havia algo de estranho.
- Só estava consolando ela - respondi, ainda tenso.
Meu pai manteve os olhos verdes firmes, apoiado no batente da porta de seu quarto.
- Eu sei quando mente não só para mim... mas para si mesmo - ele sorriu, os olhos perdidos na porta que eu acabara de fechar. Seu silêncio me deixava mais tenso que suas broncas ou sermões. - Resolva isso.
Ele fechou a porta do quarto sem esperar por uma resposta.
Fiquei alguns minutos parado na soleira da porta, tinha tanto a estudar para as provas da faculdade, tanto a resolver dentro de mim, mas ignorei todas as obrigações, desci as escadas correndo e subi em minha moto.
Não demorou muito para que eu chegasse no apartamento de Danilo, o único com quem eu queria conversar naquele momento. Minha entrada foi liberada e subi as escadas com pressa, ansioso demais para simplesmente percorrer os andares pelo elevador.
Danilo já estava na porta com os cabelos desgrenhados, a roupa amassada e os olhos inchados.
- Cara, eu espero que tenha uma bela fofoca pra me contar... ou que Mônica finalmente tenha aceitado nosso amor...
Interrompi o mesmo ao passar pela porta, atravessando o pequeno hall de entrada e me jogando no sofá, prensando os olhos.
- Tudo bem, então. Só quer se sentar no meu sofá hiper confortável.
Foi possível ouvir Danilo fechando a porta e andando na minha direção, depois o outro sofá fez um barulho, indicando que ele tinha se sentado.
- Se só quiser deitar aí, trago umas cobertas... mas não garanto que minha mãe não vá te acordar aos berros - meu amigo riu, provavelmente imaginando a cena. - Mas se quiser conversar...
- Meu pai teve aquela conversa comigo... de novo - reabri os olhos, procurando-o na semi escuridão da sala.
- Sobre...
Ele claramente não sabia do que eu estava tentando falar. Já fazia tanto tempo que eu tinha tentado iniciar aquela conversa com meu amigo, já fazia anos que eu não falava sobre aquilo.
- Sobre a Júlia.
Os olhos de Danilo continuavam perdidos, sem entender.
- Ele me pegou saindo do quarto dela e...
- Mas pera aí - ele se empertigou no sofá. - Você... vocês... como...
- Eu só fui consolá-la. Nada demais.
- Quando você diz nada demais... - Danilo soltou, encostando-se no sofá. - Talvez seu pai esteja certo.
Esse era o problema... eu sabia que meu pai tinha razão, sabia que ele queria proteger a imagem de nós e da empresa... da família. O que o resto da família e ciclo de amigos iria pensar, afinal?
Esfreguei os cabelos com as mãos, exasperado com o conflito interno de sentimentos. Raiva, atração, desejo... tudo o que não devia e não queria sentir.
- Fica calmo, tá legal. Você já resolveu problemas maiores - Danilo me acalmou, sem se mexer no sofá. - Vamos pensar... o que fez com que tudo esfriasse da última vez.
- Ela foi pros Estados Unidos.
Danilo soltou um assobio. - Impossível isso voltar a acontecer.
Concordei com um movimento de cabeça, afastando meus olhos para a grande janela que ladeava a parede da sala. A lua pálida iluminava o ambiente, lançando sombras grandes demais pelo cômodo.
- Eu vou precisar me afastar...
- E como vai fazer isso se, imperceptivelmente, são atraídos um ao outro?
Dei de ombros, intrigado com a pergunta e com a escolha de palavras. Danilo tinha razão. Éramos sempre atraídos um pelo outro.
- Vou ter que ser o babaca que costumava ser. Ela vai me odiar. E eu vou me odiar. Mas provavelmente vou evitar problemas maiores - olhei nos olhos de meu melhor amigo, sabendo que ele não aprovaria. Danilo não era do tipo que desistia fácil.
- Ou criar problemas maiores. Você sabe. E outra... a ruiva é esquentadinha.
*
Me contem todas as opiniões ♥
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Apenas Amor
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