A semana de provas passou sem mais nenhuma provação. Olívia e eu passamos a estudar nos laboratórios e biblioteca da faculdade, às vezes na grama, deitadas em lençóis já sujos devido ao uso excessivo.
Tiramos notas suficientes para não nos preocuparmos muito com a segunda remessa de provas para fechar o semestre. Os professores iniciaram novas matérias. A vida estava seguindo sem surpresas, os perfis das mensagens tinham desaparecido na minha corrida até meu pai, o número da SMS já dava como não existente e o aplicativo de bloqueio de mensagens e ligações funcionava bem.
Olívia estava me apoiando naquela minha nova vida. Recebia ligações de meus avós maternos semanalmente, que estavam viajando pela Argentina.
- Eu acho que você tem coisas demais pra tanto pouco tempo nessa cidade - Mônica soltou, carregando uma caixa com seus braços finos.
- Eu sei, prima... mas eu morava aqui antes, lembra?
Ela riu, tombando a cabeça pro lado de uma forma adorável, o rabo-de-cavalo de cabelos lisos deslizou mais um pouco; mais alguns centímetros e se soltariam da amarra forte.
- Pelo menos estamos de elevador - completou Olívia com um dar de ombros.
Acomodamos as caixas no elevador e subimos até o primeiro andar.
- É este - Danilo agitou o braço acima da cabeça ao sairmos para o corredor.
- Ah não! - Mônica gritou. - Eu sabia que conhecia esse prédio de algum lugar.
- Das suas memórias? - perguntou Olívia, tirando as caixas do elevador.
- Eu já gostei da sua amiga - Danilo chegou mais perto, com um sorriso largo e divertido para Mônica, seus olhos brilhavam ao avaliá-la dos pés à cabeça.
- Espera - me empertiguei, adotando uma postura super protetora que desconhecia - você já veio no apartamento dele?
- Esse canalha mentiu para mim dizendo que a mãe dele estava me esperando com bolinho de chuva - Mônica bateu com o dedo no peito de Danilo, que ria descontroladamente, sem tirar os olhos de minha prima.
- Bolinhos de chuva são sempre irresistíveis - Olívia concordou, fazendo esforço com as caixas.
Seu cabelo escuro estava atado em um coque cheio bem no topo da cabeça.
Estreitei os olhos para os dois, curiosa a descobrir mais.
- E o que aconteceu?
- Você ainda não contou nossa história de amor para sua prima, meu amor?
Mônica revirou os olhos, ignorando-o por completo. Começamos a carregar algumas caixas e a empurrar outras com o pé até a porta do apartamento.
- Aquela típica história de canalhas que enganam meninas... meninas...
- Inocentes? - chutei, tentando completar a frase de Mônica.
- Não tão inocentes assim - ela respondeu com um sorriso sem graça, também empurrando uma caixa com o pé.
- Garota! - Olívia riu. - Eu não te julgo, ele é um gatinho.
Danilo estufou o peito. - Obrigada, moça. Muito gentil de sua parte. - Ele chegou mais perto de Olívia, como se fosse lhe confidenciar algo. - Tente fazê-la enxergar isso.
Olívia gargalhou, jogando a cabeça para trás, fazendo o som divertido percorrer o corredor.
- Vocês enrolam demais - Alana escancarou a porta do que seria meu novo lar.
Olívia e eu contemos as risadas. Ela usava um avental cor-de-rosa, o cabelo loiro estava trançado ao redor da cabeça, nos pés calçava galochas rosas.
- Isso tudo para lavar um banheiro? - Mônica enrugou o nariz, avançando pela grande sala com os móveis básicos. - Você se superou, Lana.
- Você não viu o estado dessa bela sacada e de todos esses vidros, benzinho. - Alana respondeu, estalando um beijo na minha bochecha e outro na de Olívia. - Eu aceito uma recompensa com... sei lá... um cartão-presente da Victoria's Secret.
- Alana! - Mônica a repreendeu, virando-se em sua direção, soltando uma caixa no sobre piso de madeira.
- E por que Júlia te daria lingeries? - Danilo indagou, carregando duas caixas ao mesmo tempo, evidenciando os músculos pela manga da camiseta vermelha.
Alana deu de ombros, ignorando-o por completo.
A tarde da mudança foi divertida, conosco carregando caixas pelo elevador, rindo das investidas de Danilo em Mônica e gargalhando com os pitis de Alana.
No final da tarde, enquanto comíamos uma pizza sentados no chão da sala, Olívia me perguntou em um sussurro:
- Ele não vem?
Ela não precisava mencionar o nome para eu saber sobre quem se referia. Balancei a cabeça com um dar de ombros, Murilo estava distante desde o dia em que me acalmou após o término com Roberto e depois do ocorrido no escritório DeLucca estava ainda pior.
- Não acho que ele venha.
Minha amiga encostou o ombro no meu, em um sinal silencioso de afeto.
- Ele está de mal a pior - Alana se intrometeu na conversa, atraindo não só minha atenção como a de todo o grupo reunido em volta das caixas de pizzas.
Mônica a cutucou com o cotovelo e Danilo afastou os olhos, sabia de quem estávamos falando, mas não se intrometeu.
- Bebendo todas as noites... indo mal nas provas... o pai de vocês está puto - Alana respondeu depois de mastigar lentamente, limpando os lábios com gordura em seguida.
- Você não devia ter falado nada - Mônica a repreendeu.
Continuei a mordiscar meu pedaço de pizza, com muito menos apetite que antes. O som da rua ficava mais intenso conforme a noite ia substituindo a tarde.
- Eu entendo que ficar muito tempo afastada me tire certos direitos - dei de ombros, tentando acalmá-la.
Mônica sorriu em agradecimento.
O que mais me doía era o que parecia rejeição simplesmente porque minha família desaprendera a conversar comigo. Talvez os acontecimentos tenham certa responsabilidade minha... eu também não compartilhava muitas coisas com eles. Não tinha conversado muito a respeito da minha vida, sequer compartilhado minha dor pelo término com Roberto com meus pais.
Morar sozinha era um passo e tanto, com uma sacada próxima de uma rua movimentada, com uma guarita que permitia a entrada de pessoas que encostassem no portão. Talvez o porteiro pudesse se confundir com algum desconhecido... talvez as mensagens antigas fossem se concluir ou talvez retornar.
Mas o que mais me amedrontava era saber que meu melhor amigo, que me ajudou de tantas formas quando retornei, não estava ali para me acalmar ou me dar suporte.
Sentia saudade do que tinha conquistado em tão pouco tempo, sem entender porque a dor no peito de nem chegar a tê-lo me tirava o ar.
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Me contem suas opiniões, o que acharam do novo lar de Júlia? O que vcs acham que pode acontecer? E, ah!, amanhã posto outro capítulo por esse ser simples e curtinho! <3
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Apenas Amor
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