Capítulo 16 / JÚLIA

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Não demoramos para chegar na casa onde a festa aconteceria. Agradeci mentalmente por não ficar muito distante de nossa casa. E agradeci ainda mais quando Murilo contou que Danilo tinha pedido a permissão de mamãe. Pelo menos algo certo em meio a todos aqueles erros acumulados.

Porque o calor que eu sentia não era, nem a sensação de expectativa que não diminuía, ainda balançada pelo beijo dado no campus da faculdade, ainda balançada por aquela mordida no estacionamento junto àquelas palavras.

Bufei diante do meu reflexo no pequeno espelho do banheiro, com Olívia sentada na privada com a tampa fechada, se ocupando em amarrar o cadarço de seus tênis.

— Você precisa relaxar, está praticamente evidente toda essa necessidade - ela fez um círculo explicativo na minha direção.

Dei risada, sentindo meus ombros relaxarem um pouco.

— Olha essa roupa... tá um horror!

— Fala sério, Júlia - ela se ergueu, com os cadarços devidamente amarrados. - Jeans preto, camiseta rosa larga e tenis... você está ok.

— Você viu as meninas lá fora? - sussurrei, como se alguém pudesse nos ouvir do outro lado da porta, o que era impossível com a música alta.

— Onde está a Júlia decidida que eu conheci? - ela perguntou, me balançando pelos ombros.

Tinha tomado a liberdade de convidá-la, sabendo que Murilo também se ocuparia com os próprios amigos. Estava com Danilo desde que chegamos.

— Beleza - minha amiga revirou os olhos, puxando minha camiseta. — Não se arrependa.

Olívia começou a abrir as gavetas, o que me confundiu a princípio.

— O que eu não faço por você - resmungou. — Como você consegue as coisas de mim tão fácil? Ah, sim! Esses olhos verdes pidões.

Gargalhei, jogando a cabeça para trás.

Ela estendeu uma tesoura, enfiando na costura entre a manga e o tecido que cobria o ombro e, com um movimento experiente, arrancou as duas mangas de minha blusa.

Depois, ainda com a tesoura, fez um corte vertical no meio do tecido que cobria a barriga. Apoiou a tesoura na pia e, como se fosse um toque final, ergueu as pontas em um nó, deixando a barra alta da minha calça a mostra.

— Foi o melhor que consegui.

— Obrigada! - dei pulinhos de alegria, beijando seu rosto.

— Ah meu Deus, não babe em mim - ela pediu, abrindo a porta do banheiro e deixando a música nos envolver com um baque. — Vou pegar o que trouxe para beber, tá bom?

Concordei com um movimento de cabeça, encontrando Murilo com facilidade em meio a multidão da espaçosa sala da casa. Ele olhava sem paciência alguma na direção do braço de Danilo que cobria os ombros de Mônica.

Quando cheguei perto do grupo, pude ouvir parte da conversa:

-... e agora vocês estão juntos? - Murilo perguntava com os braços cruzados, olhos firmes na direção do casal mais fofo que já tive a oportunidade de conhecer.

Sequer olhou na minha direção. O que para mim era perfeito, estávamos seguindo com o combinado, fingindo que nada tinha acontecido e, principalmente, que não queríamos que nada acontecesse.

Mônica revirou os olhos, puxando a camiseta de Danilo, interrompendo-o. O que era um feito e tanto, visto que o garoto sempre falava demais.

— Estamos nos... reconhecendo. - Mônica inventou o termo na hora, pude ler em seus olhos alarmados na direção do primo.

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