|Capitulo 6|

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Capitulo 6

|Francisco|

Passei a mão na minha camisa para a deixar ainda mais lisa e preparei-me para tocar à campainha. Pressionei o pequeno interruptor e comecei a bater o meu pé no chão, enquanto esperava que a cabeça loira da Vânia — rapariga que tinha conhecido na festa — surgisse na entrada da casa.

A minha boca abriu-se, formando um perfeito "O" quando no lugar da Vânia apareceu a Mariana, a miúda do parque de estacionamento. Primeiramente, eu não sabia que elas se conheciam quanto mais que moravam juntas e segundo... UAU!

De alguma forma, o meu cérebro começou a raciocinar e fui capaz de descobrir de onde conhecia a cara da Mariana: se a Vânia tinha ido à festa, muito provavelmente ela teria ido também e talvez me tenha... apanhado a tentar comer a sua amiga?

E isso poderia explicar muitas coisas e, entre elas, poderia estar o motivo pelo qual a Mariana me tinha dado uma nega.

Mas isso não é relevante. Eu estava demasiado ocupado a observá-la de cima a baixo, de baixo a cima e de todos os ângulos possíveis e imagináveis. Ela estava linda e eu nem era capaz de perceber se tinha maquilhagem ou não visto que estava com uma aparência extremamente natural.

Estava prestes a elogiá-la — e aos seus pais, afinal, que bonito trabalho! — quando ela se vira para trás:

— Vânia, o teu acompanhante desta noite já chegou! — Gritou, chamando a sua amiga que rapidamente surgiu no final do corredor.

A minha primeira impressão foi decidir que nunca mais beberia na minha vida. Ela não era assim tão bonita quanto eu tinha, provavelmente, imaginado que era na noite anterior e isso devia-se, sobretudo, aos efeitos do álcool, sem sombra para dúvidas.

Não que ela fosse feia mas a sua pele estava tão laranja que poderia facilmente ser comparada com o Donald Trump e podemos dizer que eu não me imaginava a sair com o presidente dos Estados Unidos, sinceramente.

Será que ainda ia a tempo de lhe dizer que mudei de ideias? Ou de fugir e só voltar para o próximo ano?

Sempre podia convidar também a Mariana, afinal, podíamos empurrar a Vânia do carro em andamento e sair os dois, não?

Comecei a rezar mentalmente para que algum dos rapazes me ligasse naquele momento enquanto que a loira se ia aproximando de nós lentamente, provavelmente, a tentar não cair com os seus altos altos de meio metro.

— Olha, eu preciso que colabores comigo uma vez na vida, está bem? — Sussurrei, olhando para a Mariana. — Ajuda-me só a inventar uma desculpa qualquer. Eu sei que ela é loira mas não me parece que vá acreditar se eu lhe disser que tenho que ir dar banho ao meu peixe chamado Óscar.

— Bom, ela era capaz de acreditar tendo em conta que és tu que estás a dizê-lo mas realmente, é uma desculpa um bocado merda. — Constatou, fazendo um ar de superior. — Sempre podes fingir que alguém te está a ligar ou algo assim.

— Sendo assim, ligas-me tu só para que o meu telemóvel toque. — Pisquei-lhe o olho.

Ok, a Mariana não era burra mas esta foi a maneira mais discreta que eu tinha para arranjar o número dela. Claro que ela quis colaborar comigo, afinal, não me pareceu que se desse muito bem com a "amiga" e digitou o meu número no seu telemóvel enquanto eu o sussurrava.

A Vânia estava prestes a alcançar-nos ainda antes de termos terminado o nosso plano extremamente maléfico quando a Mariana decide salvar-me outra vez.

— Vânia, não te esqueceste de nada? Tenho quase a certeza que não colocaste a tua maquilhagem na mala para poderes retocar durante o vosso encontro! — Afirmou, virando-se para trás.

— Pois é! Tens razão! — A voz estridente da loira voltou a dar-me dores de cabeça e eu agradeci a Deus pelo facto de a Mari estar comigo nesta. A Vânia voltou para trás, subindo as escadas mais rapidamente do que antes, pelos vistos, estava a aprender a andar naqueles saltos altos.

— Ficas a dever-me uma, Francisco. — A jovem voltou a sussurrar, piscando-me o olho.

Após ter anotado o meu número, aguardámos para que a sua colega de quarto voltasse a descer e assim que ela apareceu no nosso campo de visão, a rapariga pressionou o ecrã do seu telemóvel e foi uma questão de segundos para que o meu começasse a tocar.

Atendi a chamada e sorri vitorioso ao observar o número da Mariana no ecrã do meu iPhone — não, ela não era assim tão espertinha como parecia ser e não me ligou através de um número privado (parecendo que não, já me fizeram isso algumas vezes, mas... Foram elas que perderam) — e comecei a falar sozinho, tentando ser um ator credível.

— Sim, Rui? Ah... Sim, estou a ver! Não, claro que não, mano... Eu passo aí na boa mas vou demorar um bocado, estou um pouco longe. Sim, sim, claro. Então não há mesmo mais ninguém que possa ir aí? Então sim, eu vou. Já estou a ir, até já puto. — Finalizei o meu monólogo, desligando a chamada. — Bom, eu vou ter que ir safar o Rui Pedro porque aconteceu um imprevisto e ele precisa da minha ajuda. Bom, Vânia, vamos ter que adiar a nossa saída, desculpa lá... Nem queria mesmo ter que faltar.

— Oh, não faz mal, Chico. — Afirmou, sorrindo. — Combinamos para outro dia, está bem?

— Claro, tudo bem.— Assenti. Não, não íamos combinar para outro dia! Só se eu estivesse novamente sob o efeito de bebidas alcoólicas mas não me parece que isso volte a acontecer. — Então depois mando-te mensagem, está bem? Não precisas de mandar, eu trato disso.

— Claro... Até depois!

A Mariana fechou-me a porta na cara com tanta vontade que eu comecei a duvidar se ela me tinha mesmo ajudado porque não me odiava ou só porque gostava mais de mim do que da Vânia.

De qualquer das formas, decidi mandar-lhe uma mensagem. Afinal de contas, ela não se arranjou toda para ficar em casa, pois não?! Cá para mim, a ideia dela era outra... 


Capitulo escrito por @notchromatic

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