|Capitulo 47|

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Capítulo 47

|Francisco|

— E então? Como correu a conversa? — Questionou o Graça, mostrando-se entusiasmado com possíveis "pazes".

— Normal? — Dei de ombros, desfazendo todas as suas esperanças.

— Tu estás a brincar com a minha cara, Augusto? — Cruzou os braços, abanando negativamente a cabeça em sinal de desaprovação. — "Normal"?!

— Sim. Ela só veio até cá para me pedir desculpas por se ter ido embora e para me dizer que a filha também era minha, basicamente. Querias que eu fizesse o quê? Deixa-me adivinhar! Querias que eu me pusesse de joelhos e lhe implorasse para ficar comigo? Poupa-me.

— Pelo amor de Deus, Francisco, tu és mesmo burro! — Observou, erguendo as mãos para o alto. — Tu achas que ela vinha até aqui só mesmo para te dizer isso? Não era mais rápido se te mandasse uma mensagem?! É óbvio que ela não veio até cá por causa disso, homem!

— Isso nem sequer faz sentido. — Constatei.— Se fosse por qualquer outra coisa, ela tinha dito logo.

— Tu és tão burro que nem sequer consegues compreender a tua namorada. — Ripostou, voltando a mostrar ser um expert nas relações alheias. — Ela veio até cá para te dizer isso, sim, mas estava à espera que tu tocasses no assunto que realmente importa. Coitada, não faz ideia de que o namorado é burro e não percebe nada disto.

— Ex-namorado.

— "Ex" só mesmo por seres burro.

— Já reparaste na quantidade de vezes que me chamaste burro em cinco minutos de conversa? Hoje não estás propriamente simpático. — Revirei-lhe os olhos.

— É para ver se percebes de uma vez por todas a realidade.

— Como queiras.

— Não é "como queiras"! É "vou tentar melhorar, senhor Graça".

— Estás mais para Salazar.

— Sendo assim, faz-me o favor de ir atrás da Mariana e só estás autorizado a voltar quando fizerem as pazes. — Ordenou, apontando para o caminho que a minha ex-namorada tinha seguido.

Não contra-argumentei. Tinha perfeita consciência de que não tinha sido correto para com ela independentemente da forma como me estava a sentir. Eu não tinha sido justo.

De forma rápida, abandonei o campo e dirigi-me para o parque de estacionamento, esperando realmente encontrá-la lá.

E, de facto, o seu carro ainda ali se encontrava. Aproximei-me e bati suavemente no vidro, engolindo em seco assim que os nossos olhares se cruzaram.

— Precisas de alguma coisa, Francisco? — Inquiriu a jovem morena, destrancando o seu carro.

Acho que temos que falar. — Comecei por dizer, fitando-a com atenção.— Estamos sempre neste vai e vem e isso não é saudável para nenhum de nós os três, Mariana.

— E achas que eu não sei disso? — Inquiriu, cruzando os braços. — É por saber disso que saí de tua casa. O que nós tínhamos não era saudável e, é preferível isto do que estar constantemente a magoar-te, como sempre fazia e faço. — Explicou, suspirando e eu entrei dentro do carro.

"O que nós tínhamos não era saudável". Embora não fosse propriamente a forma como eu descreveria o nosso relacionamento, sou o primeiro a admitir que é a mais pura verdade. Não importa quantas vezes tentámos mudar, a verdade é que acabávamos sempre por nos magoar um ao outro.

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