|Capitulo 15|

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Capitulo 15

|Francisco|

O Graça ainda não tinha chegado quando vejo o carro do Inácio passar. A Mariana estava no interior com o brasileiro e trocaram sorrisos quando olharam um para o outro. Uau, as coisas andavam depressa para a menina Mariana, não é mesmo?

Não que eu estivesse incomodado com isso. Era-me totalmente indiferente com quem quer que ela estivesse a dormir — eu também dormia com quem queria.

Tinham-se passado meros segundos quando o carro do meu colega de equipa surgiu e parou para que eu entrasse. Abri a porta, sentei-me, coloquei o cinto de segurança, fechei a porta e virei-me para o Graça. Ele estava focado na estrada e arrancou novamente sem me dizer nada, atitude que me deixou um pouco intrigado.

— Está tudo bem, mano? — Inquiri quando percebi que ele não me ia mesmo dizer nada. — Estás um bocado estranho.

— Estive a falar com a Mariana há pouco.

— E?

— E ela disse-me que não foi bem como tu tinhas dito. Quer dizer, ela realmente dormiu contigo mas não no contexto que tu deste a entender. — Constatou, virando ligeiramente o seu rosto para me poder encarar. — Ocultaste uma parte muito importante, Francisco.

Meu, ok, talvez eu até tenha ocultado uma parte importante da história mas não foi por mal. — Cruzei os braços. — Eu preferia mil vezes que as coisas tivessem sido como eu dei a entender que tinham.

— Isso não te dá o direito de insinuar que tu a comeste e muito menos de lhe cobrar aquele beijo com o Inácio. É que nem sequer aconteceu nada entre vocês e tu estavas a agir como se ela te devesse algo. — Resmungou.

Esta conversa estava mais para um sermão que o meu pai me daria e eu achei que o melhor era mesmo ficar calado. Não valia a pena estar a tentar explicar o meu ponto de vista nisto tudo quando o Graça estava claramente do lado da Mariana.

— Ah, ela pediu-me para te dizer que não queria que falasses mais com ela. — Afirmou, alguns minutos depois. — E eu acho que não deverias mesmo. Ela estava chateada, realmente chateada.

— Mal nos conhecemos e ela está sempre chateada, já me habituei.

— Mas eu acho que desta vez é a sério, Chico. Penso que o melhor que fazias era não falar mais com ela. Até porque o Inácio parecia bastante interessado e se tu não vais tratá-la decentemente, é melhor deixares para o Brazuca.

Até pensei em contestar, mas não estava em posição para tal. Talvez o melhor fosse mesmo deixar a rapariga em paz e partir para outra — não é como se fosse muito difícil ou é?


☀️☀️☀️

Acordei no dia seguinte com o Graça a bater numa panela com uma colher de pau. Maldita a hora em que eu o tinha deixado dormir em minha casa. Levantei-me, esfregando os meus olhos com as minhas mãos e encarei a figura do meu colega de equipa na porta do meu quarto, com um ar de felicidade implícito no rosto. Ergui a minha mão para lhe mostrar o meu dedo do meio e corri até à porta, decidido a fazer-lhe pagar pela forma despropositada como me tinha acordado.

— Ei, deixa-me em paz! — Gritou, começando a correr pela minha casa enquanto batia com a colher de pau na panela. — SE NÃO ME DEIXARES EM PAZ, VOU ACORDAR OS TEUS VIZINHOS TODOS, FRANCISCO!

— Ok, pronto, desta vez eu deixo-te. Só porque sou capaz de ficar sem cabeça se o menino Graça se lesionar. — Ironizei, parando de correr atrás dele e dirigindo-me para a cozinha.

— Como é bom ser teu amigo. — Brincou, seguindo-me. Pousou a panela sobre o balcão e guardou a colher de pau na gaveta, sentando-se, depois, numa das cadeiras que se encontravam ali. — Então, já repensaste na atitude estúpida que tiveste para com a rapariga do Inácio?

— No dia em que ela for "a rapariga do Inácio" podes crer que me atiro do quinquagésimo andar de um prédio qualquer. — Revirei-lhe os olhos.

— Quando eles se estiverem a comer no final do jogo vais ver que ela é "a rapariga do Inácio" e depois terás que te atirar do quinquagésimo andar. Já podes ir procurando um prédio com cinquenta andares.

— Veremos.

Retirei duas taças e coloquei uma dose razoável de cereais, deitando depois o leite em ambas. Tirei duas bananas da fruteira e atirei uma para as mãos do Graça, que decidiu demonstrar as suas habilidades e começou a brincar com a banana — claro que não da forma que todos vocês estão a pensar.

Tomamos o pequeno almoço sempre a fazer palhaçadas e em seguida dirigimo-nos para o Estádio. Passámos na casa onde tinha ocorrido a festa para que eu pudesse reaver o meu carro e seguimos — em carros diferentes, logicamente — para o local onde ocorreria o jogo contra o Vitória de Guimarães B.

Estacionámos os nossos carros lado a lado no parque e subimos para os balneários onde já se encontravam a maioria dos rapazes — excepto o Inácio, claro.

— Alguém sabe do brazuca número dois, também conhecido como Inácio? — Questionei, fazendo com que os Ruis e o Bruno Costa olhassem para mim com cara de caso. — É só uma pergunta, ele ainda não chegou...

— Não, pelo que eu percebi, foi buscar uma rapariga qualquer a casa. Não temos pormenores porque foi o Galeno que lhe perguntou. — O Rui Pedro explicou e o Pires assentiu, confirmando a história do amigo. — Porquê?

— Novamente, é só uma pergunta.

— Claro que sim. — O Costa ironizou. — Mas se não nos queres contar... Sempre podemos perguntar ao Inácio.

— Então olha, perguntem. — Dei de ombros. — É me indiferente.

— Alguém acordou com os pés de fora da cama. — Brincou o Pires, dando-me um leve encontrão. — Então, estás carente, é?

— Sabes bem que se há uma coisa que eu não estou é carente.

— Claroooo. — O Bruno voltou a ironizar. — Mas todos sabemos que tu falas mais do que realmente fazes, Chiquinho.

— Está bem então.

Nem sequer lhes dei oportunidade de fazer mais piadinhas sobre a minha esplêndida vida sexual. Vesti o equipamento e esperei que o Graça também o fizesse, dirigindo-me depois para o campo.   


Capitulo escrito por @notchromatic

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