|Capitulo 44|

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Capítulo 44

|Mariana|

Observei uma última vez o rosto do Francisco e uma lágrima deslizou pela minha face. Talvez esteja a tomar a atitude mais parva e irracional de sempre ao deixar esta casa, mas, neste momento acho que isso é o melhor.

Acariciei a sua face e depositei um beijo nos seus suaves lábios. Limpei a minha cara e virei costas, saindo daquele quarto, do seu quarto, do nosso quarto. Peguei nas malas e desci as escadas silenciosamente, abri a porta de casa do meu namorado, colocando-as de fora.

Observei uma última vez a casa e saí de dentro da mesma. Caminhei alguns metros até ao meu carro e coloquei as malas no porta-bagagens. Em seguida, entrei na minha viatura e comecei a conduzir para fora dali.

Não fazia a mínima ideia para onde iria e a esta hora não iria encontrar um apartamento, afinal são cinco da manhã e ninguém no seu perfeito juízo acorda a essa hora.

Pensei até em ir para a minha antiga casa, no entanto, tudo o que menos queria era ver a cara da Vânia e ouvi-la a dizer que eu não merecia o Francisco e que ela sim, não estava com paciência para discussões, não estava com paciência para nada.

Decidi então conduzir até à praia, liguei o rádio e coloquei o volume baixo enquanto me perdia nos meus pensamentos. Passado algum tempo, cheguei à tão famosa Praia de Matosinhos e saí do carro depois de o estacionar. Suspirei quando os meus pés pousaram sobre a areia e caminhei alguns metros sentando-me em frente ao mar.

Uma lágrima deslizou pela minha face e, depois dessa, vieram outras tantas. Observei a minha barriga e sorri fraco, acariciando-a. Apesar dos enormes erros que cometi com o Francisco e ele comigo, conseguimos que o nosso amor gerasse outro amor e isso deixa-me feliz. Deixa-me feliz saber que vou ser mãe de uma princesa. Descobri hoje que vai ser uma menina, ou melhor ontem, visto que já passa da meia noite e estamos noutro dia.

Sinto-me terrível por não lhe ter contado mas, afinal, não é que eu não o quisesse fazer, porque eu queria e muito! No entanto, o jovem moreno preferiu beber demasiado e chegar a casa naquele estado ao invés de vir direto do treino para casa para estar com a sua namorada, ou devo dizer, ex-namorada e a sua filha.

Sei perfeitamente que quando o jogador profissional acordar e não me vir ao seu lado vai estranhar. Contudo, quando abrir o roupeiro e não vir a minha roupa vai perceber. Sei também que ele nunca me irá perdoar por o ter deixado assim mas é o melhor para ele, afinal, eu não tenho feito outra coisa nos últimos tempos que não o seja magoar e ele não merece isso, ele é uma excelente pessoa, um excelente namorado e em breve um excelente pai.

É horrível, é horrível tudo terminar desta maneira mas o que é que eu posso fazer? Não ia continuar ao seu lado e a magoá-lo constantemente, ele merece melhor que isso, merece alguém que o ame, que se entregue a ele completamente, que confie nele, que não provoque discussões por coisas mínimas, ele merece alguém melhor que eu, ele merece ter tudo o que eu não sou capaz de lhe dar, ele merece este mundo e o outro e eu nem este lhe consigo dar.

Quando ele me perguntou se o amava e eu lhe disse que não sabia, eu estava a mentir, é claro que o amo, é obvio que sim! No entanto, ter-lhe dito que não sabia deve, com certeza, tê-lo feito pensar que eu terminei tudo porque já não o amava mais e assim ele não irá sofrer tanto, tudo o que eu menos quero é que ele sofra, ele já sofreu demasiado comigo.

Talvez esteja a ser egoísta a deixá-lo para trás desta forma, e talvez muitas pessoas pensem que eu o estou a fazer porque o deixei de amar ou simplesmente por que estou a pensar apenas em mim mas isso é mentira. Eu estou a fazer o que é melhor para ele e eu estou longe de o ser.

Peguei no meu telemóvel ao ver o sol a nascer e vi que já eram sete da manhã. O tempo passou depressa e eu perdi-me no meio de tantos pensamentos.

Decidi então levantar-me e, depois de molhar os pés, regressei ao carro. Entrei dentro do veículo e, após calçar-me, coloquei a chave na ignição, rodando a mesma. Comecei conduzir em direção à minha antiga habitação. Eu precisava da Raquel, precisava de um ombro amigo, precisava de deitar tudo cá para fora.

Cerca de vinte minutos depois, cheguei ao antigo edifício onde morava e entrei no mesmo. Subi as escadas e parei em frente à porta. Ganhei coragem e, de seguida, toquei à campainha. A jovem morena abriu-me a porta, atirei-me de imediato para os seus braços, começando a chorar no seu ombro.

— O que se passou, Mariana? — Questionou Raquel preocupada enquanto passava as mãos pelo meu cabelo.

— Eu deixei-o, Raquel... Ê---Eu deixei o Francisco, eu deixei o pai da minha filha, eu deixei o amor da minha vida. — Respondi, falando rapidamente enquanto continuava a chorar. — Eu não sou o melhor para ele mas eu amo-o tanto, Raquel... Eu amo-o tanto.

E por vezes o amor não é tudo.

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