Capítulo 1 - Bryan

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Bryan - Improviso

As noites de Nova Iorque começam cedo. Heterossexuais, gays, lésbicas, bissexuais e trans de todos os tipos por toda parte. Era algo de que Bryan jamais se veria sem. Desde os dezesseis anos de idade vivia pelas ruas e pelos clubes e bares. E agora, passados nove anos ele continuava com a vida estilo underground. E ele olhava e parecia refletir sobre tudo ali, sabia que Lady Gaga cresceu e se formou nessas ruas. Sabia que artistas e turistas do mundo todo passaram por ali.

Um dia, um dia ele estaria bem longe, famoso, fazendo clipes e músicas e se lembraria das noites de neon de Nova Iorque. Isso era o que ele dizia para si mesmo, mas por enquanto para pagar o pequeno apartamento do outro lado da cidade ele trabalhava dobrado, quatro apresentações em dois ou três clubes diferentes por noite. Muita bebida, maconha e música alta. Para o dia seguinte começar cedo e trabalhar de atendente em um restaurante qualquer.

Faltava pouco para a apresentação dessa noite e Bryan não tinha pressa. Parou bem de frente a vitrine de uma loja, ajeitou a franja de cabelo loiro, olhou dentro dos próprios olhos azuis escuros. E para o corpo. O corpo de uma drag. Sem pelos, sem traços muito masculinos, as sobrancelhas feitas e o trejeito exagerado e até feminino. As pessoas olhavam para ele e para as suas roupas escandalosas. Bryan nunca se importou, atenção era o que ele queria.

–  Hey, Carl como está a noite hoje? –  falou ele para o segurança da boate que estava prestes a entrar.

–   Estaremos lotados. Sexta-feira, noite de apresentações, sabe como é, vai se apresentar hoje?–  perguntou Carl.

–  Sim, eu vou –  respondeu Bryan e parou ao lado de Carl, apoiando o cotovelo no ombro do alto e barrigudo homem, mas não muito velho. Bryan brincou com os dedos no bigode de Carl e Carl lhe lançou um olhar feio.

–  Jason e Luce já chegaram, estão te esperando –  comentou Carl.

–  É sério? Eles já chegaram? Como eles podem chegar antes da rainha aqui? –  inquiriu Bryan e sorriu entrando pelo corredor. O segurança apenas riu.

–  Bryan, Bryan! Venha, temos que tirar uma selfie! –  falou um homem sem cabelos mas muito bem vestido, de óculos escuros e sapatos de bico fino.

–  Não dispenso um pouco de amor de fã, Vallety! –  falou Bryan enquanto parava para posar para a foto. Fazendo suas caretas e bicos. Se cumprimentaram e se abraçaram.

–  Vai se apresentar essa noite não é Bryan? Casa cheia hoje! Só quero ver todas as trans e as gays vestidas de drag!

–  Vou, é claro que vou! Sabe que esse lugar iria falir sem mim, não sabe? –  disse ele e saiu andando mais uma vez, deixando Vallety de testa franzida e cara feia.

Bryan admirou o palco e as luzes já ligadas, as cores de neon vermelha, azul e verde, os riscos brancos apontando para todo lugar. Sem perceber, Bryan se apoiou na ponta do palco e sonhou, sonhou tão longe quanto poderia ir. Drag de sucesso, artistas famosos, riqueza, era isso o que ele queria. Era isso o que ele estava lutando para ter.

–  Bryan! –  chamou a voz de uma garota e Bryan nem sequer deu atenção –  Bryan! Chegou, finalmente, não aguentávamos mais esperar.

–  Essa noite vai ser incrível! –  falou um garoto da mesma direção que a garota.

–  Jason, Luce! Que bom vê-los aqui. Jason conseguiu falar com o seu pai para ele deixar você curtir essa noite com a gente? Você pode dormir em casa, qualquer coisa, pegamos um táxi –  exclamou Bryan assim que se aproximou dos dois. Um garoto novo, de provavelmente dezenove anos, magro e baixo de braços dados com Luce, um pouco fora de forma mas lindíssima garota.

–  Sim, meu pai deixou. Passaremos a noite aqui! Um voto de confiança para você desde que eu não saia da linha.

Bryan afagou o rosto de Jason e sorriu:

–  Não deixarei nada acontecer com você.

E a casa aos poucos estava enchendo. Bryan desceu e depositou as malas com maquiagem e vestidos para a apresentação no camarim. Vallety o chamou e ele voltou para as pistas do clube, foi ao bar, pegou uma bebida. Vallety era o típico empresário gay e homem chamativo, não pela aparência, mas por esbanjar-se com jóias e roupas atípicas de balada, ternos e camisas escuras, mas brilhantes.

Bryan bebeu um pouco mais e juntou-se a alguns estranhos para fora da balada, dividindo com eles alguns cigarros e maconha. Já estava rindo e falando alto demais, quando Luce veio até ele.

–  Bryan! Você viu a hora? Não vai se trocar? –  brigou a garota.

–  É, eu sei, eu tenho que ir, só me dê mais um minutinho! –  gritou ele.

–  Não, nem mais um minuto, vamos, Vallety vai ficar uma fera com você.

E Bryan resmungou algo enquanto Luce o arrastava para o camarim. Sentia-se tonto, mas feliz até abrir a porta do camarim e olhar para o lugar que havia deixado as suas coisas.

–  Luce, onde estão as minhas coisas?

–  Você não deixou aí? Elas deveriam estar...

–  Eu sei onde elas deveriam estar tá legal? Mas elas não estão! –  vociferou ele.   –  Luce onde estão as minhas coisas? Eu tenho que me apresentar!

–  É talvez você tome mais cuidado da próxima vez e não se distraia bebendo e fumando com estranhos quando tem trabalho para fazer! –  exclamou Luce e deu as costas para ele.

–  Luce, não! Luce, volta aqui! –  ele segurou a porta, mas estava tonto demais para ir atrás dela. Ele teria que fazer alguma coisa. As outras drags tinham deixado as coisas dela sobre as bancadas. Ele teria que improvisar. E fazer o melhor depois de errar enormemente.

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