Bryan - Preconceito
O flash brilhante e a luz branca era tudo o que Bryan lembrava. Mesmo com o improviso de seu último show ontem a noite, ele foi um sucesso. Todos lhe aplaudiram de pé e lhe aclamaram: Ginger Fox! Ginger Fox! Ginger Fox! As palavras ainda pareciam ressoar em sua mente. Porém todo o poder e glória acabaram, cedo demais, pensou ele.
Mais uma jornada se iniciava hoje.
Bryan já estava de pé e se arrumava, tentando tornar-se o máximo possível um homem, simples garoto de Nova Iorque para trabalhar. Aceitável aos padrões da sociedade. E é claro que Bryan não se oprimia ou se deixava levar, mas ele tinha que sobreviver de alguma maneira e só as apresentações lhe garantiam um extra, além do trabalho para viver em um apartamento, mesmo pequeno.
Trancou a porta e saiu, seus sapatos AllStar e o jeans surrado, uma camisa qualquer e uma camisa de flanela por cima. Andou os quatro quarteirões como sempre fazia e sendo gentil e alegre com todos os conhecidos, cumprimentando-os e conversando. E lá estava ele atrasado para o trabalho. Abriu a porta do restaurante, correu direto para o armário, colocou um avental, protegeu os cabelos e trabalhou.
– Bom dia, Luce – exclamou ele e olhou para saber como ela reagia.
– Oi – respondeu ela de mau-humor e Bryan sorriu.
– Sabia, sabia que você não resistiria, eu sou irresistível! Mas eu sinto muito pelo que eu te falei ontem, muito mesmo – afirmou ele enquanto pegava pratos e colocava sobre o balcão.
– Não resisto, mas sabe que nem sempre é legal, não é? Quero dizer você magoa as pessoas e pede desculpas achando que vai ficar tudo bem, mas não fica Bryan. Não fica.
Ela olhou para ele e ele abaixou a cabeça. Não havia o que responder.
– Eu sei, vou consertar, prometo! – ele sorriu e Luce não resistiu sorriu também.
O sino da porta indicou a chegada de clientes e os dois, Luce e Bryan levantaram os olhos e viram três garotos entrarem e se sentarem.
– Vai lá, atendê-los! Hora de trabalhar – Bryan assentiu e pomposamente saiu detrás do balcão com os menus na não. Se aproximou dos garotos e percebeu os risos contidos.
– Bom dia, o que vão querer? – perguntou ele.
– Nós vamos querer três refrigerantes e o lanche da casa, oh frutinha – falou um dos três, garotos vestidos de jaquetas e bonés.
– Certo? Mais alguma coisa? – ignorou o comentário e se manteve forte.
– Não, por enquanto é só, viadinho. Talvez, você esteja querendo pegar aqui – e Bryan o assistiu segurar a mão no volume da calça.
– Okay, já trago o pedido.
– Viado – brincou o outro garoto e os três riram. Bryan olhou diretamente para Luce que o encarava, ela sabia que Bryan não era de engolir esse tipo de comentário, mas ele não podia responder.
– Quer que eu os atenda? – sugeriu Luce enquanto Bryan depositava os pedidos na bancada
– Não, eles farão pior se você for... Deixa que eu aguento. Preciso do emprego e já enfrentei coisa pior. Vamos lá.
Bryan atendeu os outros clientes, geralmente casais e homens indo para o trabalho e no geral não havia incidentes, mas as vezes um ou outro tropicão e trapalhada, garotos preconceituosos ou certos casos de pessoas querendo confusão. Luce tentou o acalmar e Bryan depositou os lanches na bandeja e inspirou profundamente.
– Aqui está, quer a conta agora ou...?
– Se eu comer sua bundinha tenho desconto viadinho? – exclamou o garoto sem se segurar.
– Não, não tem – Bryan se virou e o outro garoto da ponta colocou o pé para que Bryan tropicasse e caísse, mas anos de salto alto durante a noite o treinaram para qualquer coisa e ele saltitou por sobre a perna estendida e continuou o caminho se sentindo triunfante e ouvindo os outros exclamarem e urrarem como um bando de animais.
Hora do almoço, Luce procurou por Bryan e o encontrou sentado escondido atrás do restaurante, não estava chorando, ele raramente chorava como Luce percebeu mas estava com uma cara bastante triste e fumava, o odor conhecido, maconha. Luce sabia que não era fácil ser gay, afinal ela era mulher e lésbica, assediada por vários homens e oprimida por outros. Ambos estavam no mesmo barco, na mesma direção.
– Não fique triste Bryan, esses caras você sabe, eles são filhos da puta – comentou ela
– É, eu sei, já passei por coisas piores você bem sabe. Deixa pra lá, você quer? – ofereceu ele e sorriu. Sua característica mais forte e marcante lembrou Luce.
– Não. E hoje a noite você vai se apresentar? Eu não poderei te acompanhar.
– Sim, eu vou, tudo bem, te espero numa próxima – e ele ergueu o braço acolhendo Luce em um semi abraço.
E a noite de apresentação, Bryan não saiu de perto de suas coisas, estava assustado e temeroso de que acontecesse o que aconteceu no clube do Vallety noite passada. Ele se arrumou e subiu ao palco, apesar das baladas LGBT significarem pegação e música pop e eletrônica, os shows das drags eram muito queridos e procurados nos melhores clubes, sem contar que alguém sempre queria ficar com Bryan porque ele fazia shows.
E no final da noite, o dono da boate, este um homem mais simplório e menos brilhante do que Vallety, conversou com Bryan o que ele já esperava.
– Bom, está aqui a sua parte, espero que entenda, não é muito, eu sei. As coisas não estão indo bem, bom, é isso – disse ele e se levantou já saindo após entregar um pequeno envelope para Bryan.
– Cinquenta dólares? Cinquenta dólares é tudo? Com isso, meu querido, eu limpo a minha bunda! Espero que entenda, meu show é artístico, eu não faço de graça!
– Bryan não seja assim. Foi o que deu para pagar – falou ele e parou na porta olhando para Bryan.
– A casa estava lotada, pela terceira noite seguida é o que eu fiquei sabendo! Não ligo se estava vazia, esse nunca foi o nosso trato! – vociferou Bryan e ajeitou as coisas na bolsa.
– Trato? Nós nunca tivemos um trato! Não me venha com isso, foi o que deu para pagar!
– Tínhamos sim, bom, esquece! Saiba que eu não me apresento mais aqui... – E Bryan deu as costas, saindo porta afora...
– Ótimo – exclamou o dono da boate.
![](https://img.wattpad.com/cover/51279237-288-k438829.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Neon Nights
RomanceConheça Troye, um simples garoto que se depara com uma situação que mudará sua vida... Conheça Bryan, de forte personalidade, trabalhador e perseguidor de sonhos que fará o possível para realizá-los... E Hugo, ricaço, jovem e promissor empresário qu...