Arte

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A ideia de fazer um Clube do Livro foi tão bem recebida pelo restante dos amigos de Artemísia quanto qualquer ideia da garota: sem qualquer apoio. Todos eles, sem exceção, sabiam que Arte não costumava ir à frente com seus planos, sempre encontrando algo mais interessante no meio do caminho e esquecendo da ideia inicial. Era o último ano de escola, tinham inúmeros concursos para universidades pela frente e a última coisa com a qual podiam perder tempo era dar atenção a mais um plano de Arte que em breve seria substituído por outro. 

No entanto, aquele era o único plano de Arte que tinha ido para frente. A garota conversou com a diretora da escola, que sempre apoiava novos grupos dentro do ambiente escolar. A mulher deu a Artemísia a permissão para organizar seu Clubes do Livro às terças-feiras, às 15h, meia hora depois do fim de suas aulas. 

Aquilo foi a mais completa vitória para Artemísia durante o primeiro semestre do seu ano letivo. O Clube do Livro recebia em torno de 20 alunos e em cada semana eles debatiam livros diferentes. Arte comprou incontáveis livros para fazer sorteio e se dedicou tanto que, pela primeira vez, percebeu que conseguia, sim, fazer com que alguma coisa em sua vida desse certo. 

Depois de longos seis meses se dedicando a algo, não é espantoso que você caia em prantos quando dizem que você não pode mais fazer aquilo. Não era espantoso ver Artemísia chorando no chão do banheiro, depois de sair correndo da sala da diretora, carregando a notícia consigo até o lugar mais seguro para desmoronar. 

Foram poucas amigas que permaneceram com Arte depois de seis meses em que a garota só sabia falar de leitura voraz. Uma das amigas que sobraram era Ana, que abraçava Artemísia o mais forte que conseguia, sentindo a garota soluçar.

— Mas por quê?— Ana fez a pergunta crucial. Por que alguém roubaria o hobby de uma garota de dezessete anos?

— Porque ninguém mais vai — Artemísia não tinha como discordar. 

Sim, foi dito que seu Clube do Livro era frequentado por 20 pessoas. E, de fato, era, nas primeiras duas semanas. Depois disso, o número de frequentadores foi reduzido a dez e, nas últimas semanas, apenas cinco pessoas frequentavam as reuniões. As mesmas cinco garotas que frequentavam o Grupo de Estudos Sobre o Feminismo e Suas Vertentes, que Arte não perdia uma reunião sequer. 

— Ninguém vai ao lance do feminismo e mesmo assim ele está lá — parecia um conselho para Ana, mas soava como uma ofensa para Arte.

Eu vou ao Grupo de Estudos Sobre o Feminismo e Suas Vertentes — Arte enxugou as lágrimas das bochechas com as mangas do casaco e levantou-se do chão do banheiro. Era humilhante o suficiente ter seu clube fechado, não precisava ficar literalmente no chão. — Mas é mais fácil quando o grupo tem o apoio de um professor e eu não tenho. 

De fato, os clubes sobreviventes eram os que tinham ajuda dos professores. No geral, os frequentadores eram alunos buscando pontos para aumentarem suas médias. Exceto pelos dois times de vôlei da escola, que além de terem apoio de professores, eram o que mantinha os alunos respirando. Acima de qualquer segregação, os alunos do Instituto Educacional do Catete — IEC — eram divididos em dois grupos: os torcedores dos Peppers, o primeiro time de vôlei da escola, e os torcedores dos Roses, o segundo time criado, ambos mistos. 

Os Peppers foram criados por alunos já formados, quando a onda em que todos ouviam rock passou e então os descolados precisavam de algo novo para continuar seu reinado, partindo para o lado esportivo. Era uma clara referência a banda Red Hot Chili Peppers, mas depois de um tempo ninguém mais deu tanta atenção a isso. Foi o time que criou o campeonato Intercolegial dos times da Zona Sul do Rio de Janeiro, que acontece no fim do ano. 

Entretanto, depois de dois anos de derrota no Intercolegial, foi criado o segundo time, esse ano. Os Roses, cujo nome era uma referência a banda Guns n' Roses, surgiram com a ideia de uma competição que decidiria qual seria o time a competir no Intercolegial, no fim do ano. 

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