Theo

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Theodoro sabia que tinha ido longe demais, mas não podia impedir a irritação de ir à tona. Vinha se esforçando para que Artemísia não o odiasse — ou amasse — e ela não parava de criar barreiras. Até ele tinha um limite.

Ela não tinha o direito de contar a Nico qual era a punição dele. Theodoro estava feliz de ter conseguido manter em segredo até os Peppers vencerem o jogo, mas era exatamente por causa daquilo que não queria que todos soubessem. Não queria que o Clube do Livro virasse um espetáculo, os jogos de vôlei já eram atenção o suficiente.

Ele ainda podia se lembrar de ter dito que não ajudaria Arte e, cedo ou tarde, o clube seria fechado. Aquele era o plano, não ter começado a se envolver naquilo. E depois dele ter decidido que valia a pena trabalhar ali, a gratidão de Artemísia se resumia aquilo? Contar ao colégio inteiro sobre a punição dele?

Theo não entendia de onde ela conseguia tirar tantos problemas. Todo dia Artemísia surgia com uma confusão nova, mais um defeito para pôr nas costas de Theodoro e ele sempre dava um jeito de fazê-la esquecer aquilo. Só que naquele momento, não sabia se era possível formar um bom time com ela.

Artemísia era um lobo solitário. Theodoro estava acostumado a ser o Alfa de seu próprio bando.

— O Clube da Erva é sempre tão dramático, Theo? — Nico perguntou alto o suficiente para arrancar risadas de todos os alunos ali.

Theodoro sentia-se esquisito ali, em pé. Não era como nos jogos de vôlei, quando tinha seus torcedores. Naquele momento todos pareciam torcer contra ele.

Mas ele ainda era Theodoro Roriz e aquele ainda era seu colégio, não era?

— Seguinte — Theo tentou parecer mais ereto e intimidador. Tinha a vantagem da altura, uma vez que estavam todos sentados e apenas  ele de pé. E Ana, que ficara ao lado dele depois que Artemísia saíra correndo. — Vocês estão aqui pra saber se eu sou do Clube do Livro e sim, eu sou.

Pôde ver Gustavo, seu amigo, sentado junto aos outros alunos. A expressão no rosto de Gustavo indicava que ele não concordava com o fato de Theodoro admitir aquilo. Mas o que mais ele poderia fazer? Negar tudo e deixar que pensassem que Artemísia estava mentindo o tempo todo? Ele não era um monstro e isso o levava a outro esclarecimento que precisava ser feito.

— E, ah, Artemísia e eu somos amigos, sim — disse em um tom casual. Não pôde de deixar de imaginar que era um artista famoso explicando sua vida em uma coletiva de imprensa. Era estúpido ter que explicar a alguém que sim, ele era amigo — ou algo próximo disso — de Artemísia, como se fosse uma celebridade sendo questionada sobre um affair.— Como Arte não está aqui, hoje não tem Clube do Livro.

Um coro de falsas lamentações surgiu, fazendo Theo se sentir em dívida com Arte. Não podia deixar que todas aquelas pessoas aparecessem ali novamente na próxima semana e arruinassem o clube da garota.

— De agora em diante — Theo começou seu último anúncio. — O Clube só permitirá a entrada dos antigos membros, até segunda ordem. Ah — acabou se lembrando de algo, mas não era relacionado ao Clube. Era apenas uma maneira de fazer todos esquecerem dele — não se esqueçam da festa na casa do Gustavo amanhã para comemorar a vitória dos Peppers — fez questão de encarar Nico neste momento.

Com isso, seu amigo levantou-se, a empolgação fazendo-o esquecer da verdadeira razão de estar ali.

— O INTERCOLEGIAL É NOSSO, PORRA! — Gustavo gritou, agitando os demais alunos.

Theodoro aproveitou seu momento sem qualquer atenção e puxou Ana para perto de si.

— Pode me dizer onde a Artemísia mora? — perguntou, derrotado pela culpa.

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