Theo

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Depois da aula, Theo passou um tempo com os seis titulares do time que, sim, podiam ser considerados seu grupo de amigos, e depois foi até a biblioteca, onde Artemísia já o estava esperando.

Arte estava sentada no chão, costas apoiadas contra um pufe. Theo achava que até caía bem em Arte o jeito como ela abotoava todos os botões da camisa branca da escola, e a colocava para dentro da calça jeans. Na verdade, as coisas de Arte combinavam exclusivamente com ela, como seu cabelo extremamente curto e seu jeito de se vestir. Era tudo tão dela quanto o nome. No fim das contas, Arte poderia ser até interessante.

— Não é só porque eu tenho a chave que podemos ficar aqui para sempre, sabe — Arte chamou a atenção de Theodoro. — Entra e fecha a porta, o vento frio está entrando.

Obedecendo ao pedido de Artemísia, Theo entrou e fechou a porta atrás de si. Colocou a mochila no chão depois de tirar seu notebook de dentro dela e sentou-se ao lado da garota, também apoiando as costas contra outro pufe.

Suas pernas e seus braços se tocavam, mas nenhum deles se afastou. Não só porque precisavam estar juntos para assistir o filme na tela pequena, mas o calor humano era bem-vindo na biblioteca gelada.

— Eu baixei o filme — Theo comentou enquanto pressionava o dedo contra algumas teclas.

— Eu faço anotações — Arte pegou um caderno e um lápis ao seu lado e sacudiu-os para Theo, que balançou a cabeça.

Quando o filme começou, Theo sentia-se extremamente desconfortável com tanto silêncio. Ele sempre assistia filmes com Paula nos fins de semana já que os dois moravam em Botafogo, mas estava acostumado a fazer comentários sobre o que se passava na tela o tempo todo, o que não se sentia livre para fazer com Arte. Ela não parecia feliz em ter que passar tanto tempo ao lado do garoto, então enchê-la durante todo o filme não era o mais inteligente a ser feito, mas ficar em silêncio também não era atrativo para o inquieto do Theo.

Arte passou boa parte do filme anotando coisas em seu caderno e, só quando Tyler estava queimando a mão do personagem de Edward Norton enquanto o ensinava a fazer sabonetes, a garota se pronunciou pela primeira vez.

— Você tem algo para comer? — ela perguntou.

— Talvez eu tenha um sanduíche na mochila — Theo sempre levava algo para comer durante a parte da tarde, mas não teve fome naquele dia.

— De quê?

— Peito de peru com queijo. Você quer?

— Não — Arte balançou a cabeça. Ela sabia que aquilo não fazia sentido algum, certo?

— Por que não?

— Eu sou vegetariana — ela respondeu voltando sua atenção ao filme.

— Talvez a cantina ainda esteja aberta, posso ir lá e comprar alguma coisa... — o garoto começou a se levantar.

Arte estava com fome, mas sua vontade de comer era mais pela inquietação que por qualquer outra coisa. Assistir aquele filme a fazia lembrar do quanto a Artemísia do primeiro ano estaria adorando toda aquela situação. Arte estava começando a duvidar do quão diferente ela era de dois anos atrás quando deixou os sentimentos da sua versão do primeiro ano tomarem uma decisão muito ruim por ela.

Antes que Theodoro pudesse levantar, Arte agarrou seu braço e balançou a cabeça. Não conseguiria manter a sanidade se ele a deixasse ali, esperando. Não gostaria de ter tempo para organizar os próprios pensamentos porque teria tempo para ficar ainda mais nervosa e aquilo poderia ser ainda pior. E, se Theo fosse... ela não poderia fazer o que queria desde que ele abrira as portas da biblioteca.

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