Arte

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— Nem existem tantas regras assim no mundo — Nico revirou os olhos, impaciente, reclamando pela vigésima vez naquele mesmo minuto.

Explicar gramática para Nicolas parecia ainda mais difícil que lidar com os comentários ácidos que ele fazia antes de começarem aquela amizade. Àquela altura Artemísia começava a se perguntar como ele fazia as provas da escola.

— Talvez se você passasse mais tempo prestando atenção e menos tempo reclamando... — deixou a frase no ar.

Era verdade. A cada dúvida que tinha, Nicolas revirava os olhos e se ajeitava de maneira mau humorada no banco, como se fosse obrigado a ficar ali. E, que fique bem claro: não era.

Arte suspirou e agarrou a pequena embalagem de plástico onde se encontrava o resto da sua torta de chocolate que havia comprado para o almoço. Ela tinha plena consciência de que não devia substituir refeições por doces, mas de vez em quando não podia evitar cometer certos deslizes.

Deu uma colherada generosa na torta e percebeu Nico observando-a.

— Vai comer no meio do estudo? — ele fez uma careta.

— Estou fazendo uma pausa.

— Então eu vou fazer uma pausa também — declarou.

— Não — Arte balançou a cabeça. — Todas as vezes que você para pra reclamar contam. Já fez um milhão de pausas.

Nico franziu o cenho e esticou a mão, tomando a torta de Artemísia.

— Nicolas! — Arte reclamou.

Ela sabia que parecia uma garota de doze anos entrando naquele tipo de brincadeira, mas não era de todo mau passar um tempo que não fosse explicando figuras de linguagem para o garoto.

— Vai ter que pegar de volta — Nico disse, enquanto encaminhava a colher para a própria boca.

Arte começou a rir, ainda mais entusiasmada com a brincadeira, mas aquilo acabou no mesmo segundo: viu atrás de si Theodoro e Ana parados, encarando-os.

— Estamos atrapalhando alguma coisa? — Theo perguntou.

Seu tom de voz poderia ter convencido alguém de que era uma brincadeira, mas não Arte. Ela o tinha visto enciumado no dia anterior, ainda no Clube do Livro, e tinha certeza de que poderia reconhecer se voltasse a acontecer. E estava acontecendo.

A presença dos dois amigos ali a lembrou do resto das pessoas. Embora sentisse que estava a sós com Nico, não estava: os outros alunos estavam ali no pátio também, almoçando em suas respectivas mesas. E eles provavelmente estavam chamando alguma atenção.

— Você sabe que sim, Roriz — Nicolas disse com um revirar de olhos.

Antes que uma confusão qualquer pudesse começar, Ana começou o seu hábito de falar sem ponto nem vírgula.

— Caramba, quando você pretendia me contar que vai virar amiga de todos os jogadores da escola? — e sentou-se ao lado da Arte. — Aliás, encontrei o Theo que também estava procurando por você, não que fosse difícil de achar já que está com o Nicolas... enfim, não sabia que tinham feito as pazes.

— Fizemos — Arte disse, embora fosse óbvio. Ali estava Theodoro, atrás dela, de braços cruzados, enquanto ela estava sentada com Nico.

Sua vida era mesmo uma bagunça.

— E por que a escola inteira resolveu me procurar? — era a dúvida do momento.

— Queria saber se você quer almoçar, mas... — Theo foi interrompido pelo Nico.

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