Arte

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Artemísia não fazia ideia do que estava tentando provar enquanto se arrumava para uma maldita festa para a qual não tinha sido convidada. Não oficialmente, é claro, porque não acreditava que Nico pudesse convidar pessoas para uma festa que nem era de sua turma e, ao contrário dele, ela não era bem-vinda em todos os lugares. Além disso, o mais perto de um convite que recebeu de Theodoro havia sido no meio de uma briga.

Talvez tudo isso a estivesse motivando. Ela não havia dito a Theodoro que iria à festa, apenas se programou quando Nico mandou a ela o endereço, horário e data, o que a surpreendeu ao descobrir que era no próximo sábado, no caso, hoje.

Arte vestiu uma blusa branca e um vestido preto por cima, e calçou um par de Vans pretos. Tinha passado tanto tempo reparando no quanto o cabelo de Theo ou de Nico crescia que mal tinha reparado que seu cabelo estava bem maior. Depois de fazer a melhor maquiagem que conseguia, Arte empenhou-se em pentear o cabelo para trás, mas seu corte pixie já havia se tornado grande demais, então apenas aceitou em ajeitar o cabelo sobre a testa.

Encarou o espelho do banheiro do corredor e suspirou. Estava tentando ignorar a tremedeira das mãos e não fazia ideia do que faria se não encontrasse Theodoro, o que começou a fazer a ideia de não dizer a ele que iria à festa idiota. E se ele tivesse decidido ficar em casa?

Respirou fundo, convencendo-se de que ainda teria Nicolas como companhia, mas sabia que não era a mesma coisa. Tinha aprendido a amar Nicolas, mas ele era seu melhor amigo, e não o garoto com quem ela queria passar a noite depois de ir embora.

— Você fica ótima de batom vermelho. Está muito bonita — Atena, sua madrasta, disse, encarando-a através do espelho.

Artemísia sorriu, contendo as batidas do coração pelo susto que levou com a aparição repentina de uma de suas mães na porta do banheiro.

— Obrigada — virou-se para encarar Atena. — Posso dormir na Ana depois da festa?

— Acho que sim, vou ver se sua mãe concorda — balançou a cabeça. — Faz tempo que ela não vem aqui.

Arte sentiu sua mentira sufocando-a. Ana e ela estavam muito afastadas e ela não se deu o trabalho de contar às suas mães, e não achava mais que faria diferença. Talvez ela pudesse começar a exercitar sua sinceridade depois desta noite, mas precisava de Ana para essa mentirinha.

— Ela está ocupada... com o curso de francês. Mas nos vemos muito na escola. Bastante.

Imediatamente sentiu-se idiota pela ênfase.

— E como vai o Clube do Livro?

Arte deixou um riso escapar e cambaleou para trás, apoiando-se na pia. Não tinha contado que seu clube foi fechado no dia anterior e a ferida ainda era bem recente para mentir sobre aquilo, mas não tinha qualquer outra alternativa a menos que quisesse explicar a razão. "Mãe e Atena, a diretora recebeu uma foto minha aos beijos com Theo na biblioteca e decidiu fechar meu clube. Não se preocupem, não era nada grave, embora eu realmente esteja transando com ele com alguma frequência. Ah, a foto foi só parte de uma provável vingança de Paula, porque ela acredita que eu espalhei fotos dela com a namorada. É, a Paula é lésbica, ainda não tinha contado, né? E não, não fui eu que espalhei as fotos..." e sabia que não acabaria por aí. Uma conversa sobre todos os acontecimentos que vinha omitindo em sua vida duraria muito tempo, exatamente o que ela não tinha.

— O que é tão engraçado? — sua madrasta insistiu por conta da ausência de resposta.

— Lembrei de uma piada de Theo — mentiu. — Está tudo bem, conforme o planejado.

As coisas não podiam ser mais contrárias.

— Que ótimo. O Theo vai hoje?

Arte piscou, incrédula com a quantidade de perguntas que estava recebendo. Era como se sua madrasta estivesse testando a quantidade de mentiras que Artemísia era capaz de dizer num intervalo de cinco minutos, e o resultado estava sendo uma enorme surpresa.

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