Arte

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Artemísia naquele momento era silenciosa como um gato e essa era a parte assustadora da situação. Com toda a fúria inflamando o peito, ela achou que seria capaz de provocar um terremoto em cada passo, mas seus tênis mal tocavam o chão enquanto ela procurava por Nico em algum maldito canto daquela escola.

Procurou no pátio, na cantina, nos corredores e na quadra. Sentia-se um espírito vingativo enquanto perambulava atrás da alma culpada que devia torturar. Era ainda mais esquisito porque nenhum dos outros alunos prestava atenção nela naquele dia, porque a concentração deles estava no novo assunto polêmico: as fotos de Paula. A invisibilidade de Arte a fez achar que talvez, só talvez, tivesse morrido no momento em que caiu no chão, mas não podia esquecer a maneira que as pessoas olharam para ela quando Paula gritou. 

Estava passando pelos vestiários perto da quadra quando Miguel, um dos jogadores dos Roses, saiu do banheiro com o cabelo pingando. 

— Você tomou banho? — Arte não queria nem pensar no quanto sua pergunta era estranha. 

— Sim, tive educação física... — o garoto olhou-a desconfiado. — É Arte, né? O que você quer? 

— Onde está o Nico?— ela abriu o jogo. 

— Acho que ainda está terminando o banho, saímos da educação física há pouco...— mas ela não estava ouvindo mais. 

Arte passou pelo garoto e seguiu para o vestiário masculino. Nunca havia se importado menos. 

Nos filmes, o vestiário dos garotos era um cenário com duas possibilidades: um paraíso para adolescentes, com garotos molhados e rindo, ou uma bagunça infernal e fedorenta. Em seu primeiro ano, Arte teve essa fantasia estranha de entrar no vestiário e encontrar Theodoro lá dentro, obviamente no primeiro cenário. Molhado e rindo, para ela. 

No entanto, parte de Arte era raiva e, além disso, o vestiário não era nada demais. Era exatamente como o das garotas, na verdade. O piso claro, algumas cabines com vaso com as portas azuis e algumas cabines com chuveiros. Havia também alguns bancos igualmente azuis, as pias de louça branca e um espelho grande. Ah, e grunhidos de surpresa dos garotos ao verem-na entrando ali. 

— Que merda é essa? — um garoto arregalou os olhos, apertando ainda mais a toalha vermelha contra a cintura. Os cachos dele pingavam gotas de água e sua pele escura brilhava molhada, mas Arte não tinha tempo para raciocinar sobre garotos bonitos. 

Ela queria matar um garoto bonito. 

— Onde está Nico? 

Como em uma invocação, uma das cabines de chuveiro foi aberta e Nico surgiu dali, envolvido por uma nuvem de vapor quente e vestindo uma cueca preta.  

Nico sacudiu a cabeça casualmente, espalhando água como um cachorro molhado. Vira-lata era só o topo da lista de insultos que Arte tinha para ele.

— Eu não lembro de ter prometido que ligaria no dia seguinte, mas eu faço umas coisas estranhas quando eu estou bêbado...— Nico zombou. 

Alguns garotos riram da piada. Todos parados, como uma plateia, aguardando pelo próximo ato.

— Qual é a porra do seu problema? — Arte avançou na direção do garoto.

Uma das fotos ainda estava em suas mãos e ela empurrou o papel contra o peito nu de Nico o mais forte que podia. Ele cambaleou para trás, e então segurou-a pelo pulso de maneira surpreendentemente suave e afastou-a. Pegou o papel das mãos dela e encarou a foto. 

— O que é isso? — ele parecia tão calmo, tão seguro de si, bem como o sociopata que era. 

— O que isso parece, Nicolas? — Arte mal pronunciava as palavras, a raiva enrolando-lhe a língua. 

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