— A Ana não está muito bem — Arte continuou com sua melhor desculpa.
Seus dedos estavam tremendo ao segurar o celular contra o ouvido, mas ela não podia pensar muito no assunto, ou iria desistir. Não que fosse fácil desistir, não enquanto uma das mãos de Theodoro estava apoiada em sua coxa. Ela esperava que ele conseguisse dirigir melhor do que ela estava conseguindo falar ao telefone, caso contrário estariam mortos antes mesmo de chegarem em Botafogo.
— Você vai pegar um uniforme emprestado com ela amanhã? — sua mãe perguntou do outro lado da linha.
Arte respirou fundo. Seu plano de ir dormir na casa de Theo parecia estar apresentando cada vez mais falhas. Com que roupa ela pretendia ir ao colégio no dia seguinte? E seu material?
— Ela pode me emprestar a roupa e uma caneta, mãe — olhou de relance para Theodoro, esperando que ele entendesse que era ele quem emprestaria aquelas coisas.
Depois de uma rápida despedida, Artemísia desligou o telefone e respirou fundo mais uma vez.
— Então? — Theodoro apertou a mão em sua coxa, fazendo-a estremecer.
— Tuuuudo certo — era impossível exigir qualquer concentração com o contato eletrizante. — Mas você precisa me emprestar uma calça.
— Ok.
— E uma blusa.
— Ok.
— E um cinto, porque eu aposto que suas roupas vão ficar enormes e... — ele riu.
— Arte, eu entendi — Theodoro disse.
Como ele podia estar tão calmo naquela situação? Por que ela era a única perdendo a cabeça?
Ah, Arte sabia, mas não gostava muito de pensar sobre aquilo. Theodoro não estava nervoso porque ele provavelmente havia vivido aquilo um milhão de vezes e insegurança não era um sentimento presente na vida dele. Ela também achava que não podia se sentir insegura, mas Theodoro era um terreno completamente novo e ela não sabia nada além de que gostava de ficar ali.
Eles estavam desacelerando na Av. das Nações Unidas quando o choque tomou conta de Artemísia.
O que ela estava indo fazer?
Era fácil se deixar guiar pelo frio na barriga e pela excitação quando ainda estava dentro do carro com Theo. Era simples e fácil. Mas o que ela pretendia fazer quando entrasse no quarto dele? O que ele esperava que ela fizesse?
Arte se lembrou da vergonhosa primeira (e única) vez que tinha feito sexo em toda sua vida. Quanto tempo havia se passado desde então? Um ano? Havia sido antes de Paula sair da sua vida. Antes do Clube do Livro, até. Antes de se tornar aquela versão impopular dela mesma.
A primeira vez de Artemísia era tão secreta que nem ela costumava pensar sobre o assunto, porque sentia que alguém saberia que estava pensando naquilo e seu segredo vazaria. Tinha sido com um garoto um ano mais velho que ela. Ele era um dos veteranos do IEC no ano anterior e provavelmente o primeiro garoto que Artemísia realmente se interessou depois de sua paixonite por Theodoro. No fim das contas, sua primeira vez não tinha sido nada demais — nem péssima, nem ótima. O garoto, que se chamava Rafael, a convidou para a casa dele e simplesmente aconteceu. Depois daquilo, Arte descobriu que Rafael tinha uma namorada que estudava em outra escola e nunca mais quis vê-lo na vida, ou sequer pensar que sua primeira vez tinha sido um evento tão banal quanto fazer compras. E ninguém sabia; nem sua mãe, nem Ana. Ninguém além dela.
Mas ter feito sexo uma vez na vida não a fazia preparada para fazer de novo, especialmente com Theodoro. Ter feito sexo uma vez na vida não a impedia de tremer e querer gritar.
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Uncool
Teen FictionEm seu último ano de ensino médio, Artemísia só estava certa de três coisas: a primeira era que ela não fazia ideia do que faria em seguida. A segunda é que seu Clube do Livro era a única coisa que a mantinha feliz no colégio. E a última coisa era q...