Nico

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Era uma cena bonita, mas o estômago de Nicolas revirava com o nervosismo. Quis ir direto ao culpado e confrontá-lo mas, ao ver Artemísia ali, o garoto sabia que ela merecia ser a primeira a saber.

— Arte — Nico chamou, torcendo para que aquilo fosse o suficiente para separá-la de Theodoro.

E, no fim das contas, foi. Artemísia afastou-se de Theo repentinamente, como se tivesse acabado de recuperar a consciência. Suas bochechas estavam vermelhas, tanto pela vergonha da cena que tinha acabado de fazer, quanto pelo beijo em si.

— Nicolas, oi — ela sorriu timidamente e, em seguida, olhou de soslaio para Theodoro. Nico entendeu o pedido silencioso dela, mas não tinha tempo de ser civilizado com o Roriz.

Embora soubesse que era errado, Nico tinha sangue quente. Dificilmente conseguia evitar brigas porque, quando tinha a sensação de que estava sendo injustiçado ou de que fizeram algo com ele, sua mente ficava enevoada pela raiva que sentia. E, daquela vez, estava com raiva por tudo.

Ninguém nunca havia perguntado a ele, mas, quando Paula e ele terminaram por conta da traição dela, não foi a coisa mais divertida para ele como muitos alegavam. O garoto não beijou muitas meninas apenas porque estava livre, mas porque queria entupir a própria mente com outras coisas e curar o sentimento de insuficiência que sentiu. E, naquela época, todos acharam que o término era culpa dele, porque ele guardava segredos bem o suficiente para que sua ex-namorada espalhasse mentiras sobre ele. Suportou o suficiente por tempos, mas já estava farto. Paula teve muitas chances de parar de dar justificativas ruins às suas ações e ele estava pronto para confrontá-la.

— Precisamos conversar — ele desviou os olhos para longe, onde as luzes mal batiam na grama. Precisava de espaço para contar o que sabia.

— Agora? — foi Theodoro quem perguntou.

— É, agora.

Nicolas cruzou os braços e arqueou as sobrancelhas, desejando que Theodoro o confrontasse bem ali, naquele momento. Mas nada aconteceu.

Artemísia balançou a cabeça e sussurrou alguma coisa para Theo, mas saiu andando na construção que, pelo que Nico podia enxergar, parecia um longe.

Depois de caminharem em silêncio, chegaram ao espaço. As portas de vidro estavam abertas e algumas pessoas estavam chegando ali, descobrindo e explorando o lugar. O piso de mármore era claro e Nicolas lamentou por ele, que estaria com uma camada nojenta de lama antes da meia noite.

Os dois passaram por sofás e pufes e, foram para o canto do grande ambiente, onde havia mais iluminação e menos pessoas. Artemísia sentou-se em uma mesa de sinuca que havia ali, ficando mais alta que Nicolas.

— O que é?

O garoto passou as mãos pelo cabelo, sufocado pelo que sabia. E então soltou as palavras: — Foi Paula quem enviou as fotos para a diretora.

Ele observou Artemísia piscar, sem esboçar qualquer reação. Ela ficou tanto tempo em silêncio que ele começou a se perguntar se realmente havia dito as palavras ou se apenas se imaginou fazendo-o, mas, quando estava prestes a repetir, Arte quebrou o silêncio.

— Como você sabe disso?

— Victória me contou ontem. Ela estava fugindo de mim o dia todo, e então quando eu a confrontei, ela disse que Paula tinha feito aquilo para fazer você pagar pelo que fez com ela.

Artemísia piscou mais algumas vezes, os olhos castanhos encarando Nico sem qualquer reação. E então ela pulou da mesa e caminhou para longe em passos lentos.

Nicolas acompanhou Artemísia, sem dizer qualquer palavra, imaginando que ela estava voltando para Theodoro. Sabia que ela iria até ele e pediria para irem embora e, assim que ela fosse, Nico poderia ir atrás de Paula e dizer a ela tudo o que pensava há tempos, sem ter que se preocupar com as coisas que estava dizendo para não decepcionar Arte. Aquele seria provavelmente o caça às bruxas que todos desejavam.

No entanto, quando Nicolas se deu conta do caminho que estavam fazendo, Arte estava muitos passos à sua frente. E, bem perto dela, estava a própria Paula, conversando com Gustavo perto da piscina.

Nicolas suspirou e apressou o passo. Não deixaria que uma cena começasse ali, não com Arte envolvida, porque ela não era o tipo de pessoa, diferente dele. Prestes a alcançar a amiga, Paula fez um gesto com as mãos e Gustavo se moveu, plantando-se bem a frente de Nicolas e impedindo a passagem.

— Pelo amor de Deus... — Nicolas resmungou, dando um leve empurrão no garoto, mas aquele não era seu dia de sorte. Gustavo puxou Nicolas pelo braço, afastando-o ainda mais da conversa que já havia começado entre Arte e Paula. Ele tinha certeza de que se não tirasse Artemísia dali, aquilo logo se tornaria uma briga.

— Acho que as garotas precisam ter uma conversa — Gustavo deu um sorriso irônico, que deixou tudo claro.

É claro que Paula desejava aquela conversa. Ela provavelmente tinha muitas coisas para dizer a Artemísia e não queria que Nico tivesse a oportunidade de leva-la dali. O que ele não esperava é que Gustavo agisse como um cão de guarda maldito. Os dois garotos nunca tinham trocado mais que meia dúzia de palavras — e nenhuma delas havia sido simpáticas —, mas Nicolas tinha a certeza de que Gustavo era o tipo de pessoa que ele detestava, e aquele momento só confirmava.

— Sai, agora — Nicolas deixou a ameaça pairar entre eles.

Os adolescentes ao redor já podiam sentir o cheiro de briga. De duas brigas, na verdade, porque Paula e Arte aumentavam o tom de voz a cada segundo e, se Gustavo não sumisse, Nico não teria pena de fazê-lo sair a força. Um círculo começava a se formar ao redor deles, as pessoas ansiosas para ver o que aconteceria no segundo seguinte.

— Ou o quê? — Gustavo arqueou as sobrancelhas. — Quer saber? Eu não ligo.

E o soco cruzou o ar, acertando o queixo de Nicolas com tanta força que o fez ficar zonzo.

O garoto cambaleou para trás, aturdido, tentando focar em alguma coisa que não fosse a dor em sua mandíbula. Deu tantos passos falsos que quase foi de encontro ao chão, mas o golpe não tinha acertado somente seu queixo, mas seu ego. Quando sua visão voltou ao normal, a única coisa que conseguia ver era Gustavo, como um alvo.

Nicolas avançou ferozmente puxando Gustavo pela jaqueta que vestia e jogando-o para longe. As vozes ao seu redor estavam fora de foco e o atingiam como uma plateia distante. O corpo de Gustavo girou, conduzido pela força de Nicolas, e o garoto caiu de costas na grama, gemendo com o impacto. Nico anda na direção de Gustavo, pronto para fazê-lo engolir o sorriso irônico que tinha antes de começarem a gritar. Desejando poder fazer com que ele não seja capaz de dar sorrisos irônicos por um bom tempo. No entanto, seu corpo é puxado para a direção oposta, enquanto sua mente é puxada de volta à realidade.

Não — Theodoro diz. Seu tom de voz é incisivo e Nicolas não pensa em contestar, apenas assente e vira-se para Theo, tentando entender a urgência.

Mas, ao olhar ao seu redor, ele se lembra de que nunca esteve ali para brigar com Gustavo.

Artemísia está sentada no chão, a alguns passos de distância, e Paula observa algo na beira da piscina. Alguém.

Não há peças a serem encaixadas e Nico não entende a situação, não antes de ouvir o grito de Arte cortar o ar.

— Ela não sabe nadar!

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