Arte

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Era exatamente como na vez em que Artemísia tinha atravessado o vestiário dos meninos movida pela fúria, determinada a arrancar cada fio de cabelo da cabeça de Nicolas até que ele confessasse a verdade, até que ele confessasse que tinha espalhado as fotos de Paula beijando Victória em cada corredor da escola, procurando uma vingança idiota. Só que, naquela altura, ela sentia-se pronta para destruir qualquer coisa.

No momento em que viu Paula, não queria ataca-la como havia feito com Nicolas. Não, queria ouvi-la dizer a verdade. Queria fazer Paula se sentir pequena como ela fazia Arte se sentir desde que deixaram de ser amigas. Machucar Paula fisicamente era seu último desejo. Mas as palavras que estavam entaladas em sua garganta há um ano precisavam sair.

— Qual é a porra do seu problema? — Artemísia perguntou ao se aproximar.

Paula fechou o rosto e fez um gesto com a mão, pedindo para Gustavo, com quem esteve conversando, se afastar.

— Não faça uma cena — a loira pediu em um tom de voz de quem estava muito entediado.

— Eu não ligo de fazer uma cena. Por que enviou minha foto com Theodoro para a diretora? Você ficou doida?

— Porque você espalhou fotos minhas pela escola.

— Eu já disse que não fui eu.

— Ah, claro que não foi — disse com um revirar de olhos. — Não me admira que seja uma escrota já que fez questão de que ninguém saiba que sua mãe é sapatão!

Arte piscou, chocada com as palavras de Paula e com a maneira como elas foram atiradas. O que aquilo tinha a ver com a situação? Ela não andava por aí dizendo que sua mãe era lésbica apenas porque não andava por aí falando sobre sua família, assim como ninguém. Especialmente sabendo que alguém acharia uma maneira de desmerecer sua família, assim como Paula estava fazendo.

Mas era exatamente o tipo de coisa que se preparava para ouvir todas as vezes em que entrava na casa de Paula quando ainda eram amigas. Era o tipo de coisa que o pai dela dizia o tempo inteiro e aquilo pesou dentro de Artemísia naquele momento. O quanto doía em Paula ver que seu pai chegou bem perto de odiá-la pelo resto da vida?

Então, sim, aquilo tinha a ver com as mães de Arte. Porque se Paula acreditava que Artemísia tinha espalhado suas fotos pela escola, acreditava que Arte era a maior das hipócritas, usando um relacionamento de duas garotas como a fofoca do momento. Usando aquilo para de fato acabar com a vida de Paula, pois Arte sabia que o pai da garota faria aquilo.

— Não fui eu — Arte repetiu, mas Paula já estava fora de si.

— Claro que foi você. Você adora foder com a minha vida. Você adorava me fazer sentir menor porque não sou inteligente ou incrível como você. Eu me sentia pequena perto de você, com todos os seus pensamentos grandiosos demais para garotas fúteis como eu. E aí, no primeiro ano, você era obcecada pelo Theodoro, e eu queria saber por que não podia ser uma garota normal como você, e me apaixonar por garotos.

— Eu nunca...

— Cala a boca! Você, nada. Eu não quero saber das suas merdas. Eu tirei você da minha vida quando terminei com o imbecil do Nicolas, mas você quer tudo pra você! Você não se contentou em ser menos que eu uma vez na vida, e roubou meu melhor amigo e meu ex namorado! — Paula gritou. — E tentou roubar minha vida também! Eu apenas tirei o seu Clube de Drogas e você se faz de vítima? Eu quero que você morra!

Arte engasgou com as palavras, mas não com as que não tinha dito, mas com as que tinha acabado de ouvir. A sua versão da história nunca seria aquela, mas ela não era o lado machucado. Artemísia não fazia ideia de como acabava sendo a vilã da história de alguém.

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